Oferta para arrendamento baixa e rendas disparam

As cidades que deixam de ser para moradores

O número de casas para arrendar desceu, principalmente em Lisboa e no Porto. Ao mesmo tempo, as rendas dispararam. O alojamento para turistas é cada vez mais generalizado nos centros e as famílias são empurradas para as periferias.

As rendas em Lisboa subiram 45% relativamente a 2013
CréditosDigital Oje

Segundo uma peça do Jornal de Negócios, nos últimos três anos, o número de casas para arrendar desceu significativamente em Lisboa e no Porto, uma tendência que parece transversal a todo o país. Ao mesmo tempo, há um aumento considerável do valor das rendas, dificultando muito quem quer arrendar uma casa nas grandes cidades.

Pelos dados recolhidos pelo jornal, junto do portal imobiliário Casa Sapo e da mediadora imobiliária Remax, é possível perceber que as casas disponíveis para arrendamento em Lisboa caíram 75%, e cerca de 85% no Porto. Segundo os dados destas fontes, entre Maio de 2013 e de 2016, registou-se no país uma diminuição de casas para alugar de 71%.

As três razões apontadas

Uma das razões apontadas pela Casa Sapo e pela Remax, está relacionada com os bancos voltarem a dar crédito à habitação, o que trouxe novos compradores e puxou novamente os proprietários para a opção de venda. Segundo avança o Jornal de Negócios, nos primeiros cinco meses do ano «os bancos emprestaram 2,1 mil milhões de euros, mais 64% do que no mesmo período em 2015».

O turismo é outra razão registada, aumentando exponencialmente o alojamento local, com os arrendamentos de curta duração, desviando assim casas habitualmente destinadas a habitação permanente. Segundo a Casa Sapo, os proprietários encontram aqui mais rentabilidade. É apontado que a reabilitação urbana tem contribuído para o reforço de oferta de casas, mas tem-se verificado que é em nichos de mercado, como o alojamento para turistas ou casas de luxo e de charme.

É apontado como terceiro factor a diminuição da própria oferta, uma vez que a maior parte dos imóveis foram arrendados por longos períodos. Perante a diminuição da oferta, a procura continua, mantendo-se acima dos níveis registados historicamente em Portugal.

Rendas com subida exponencial

O número de casas para arrendar diminuiu, mas o valor das rendas disparou. Segundo a Casa Sapo, as rendas aumentaram, entre Maio de 2013 e 2016, 39% em Lisboa e 45% no Porto. Em todo o país, a subida foi na ordem dos 39%. Os dados mostram que o aumento foi especialmente significativo no último ano: entre Maio de 2015 e Maio deste ano, as rendas subiram 16% em Lisboa, 24% no Porto e 25% em todo o país. A Remax confirma esta tendência, e segundo os seus números, as rendas em 2016 são 25% superiores às que foram propostas três anos antes.

«Neste momento, muitas famílias estão a optar pela compra de casa na periferia, onde conseguem um valor mais acessível às suas possibilidades»

As cidades feitas cada vez mais para turistas

Miguel Poisson, director-geral da Era Imobiliária, revela ao Jornal de Negócios que «há imóveis arrendados a preços acima do mercado devido a uma cláusula de subaluguer», que autoriza quem assina o contrato a colocar o espaço a arrendar a turistas, com preços mais elevados. Admite que «em algumas zonas de Lisboa já se sente esse efeito, o que restringe o acesso a algumas famílias».

Está inerente a esta expansão uma lógica do lucro imediato: num arrendamento tradicional, a rentabilidade de um imóvel é de 4% a 5%, no turístico o retorno está acima dos 10%.

Lisboa está assim a mudar: o centro está a ficar para turistas ou para compradores com alto poder de compra, muitas vezes estrangeiros. Neste momento, muitas famílias estão a optar pela compra de casa na periferia, onde conseguem um valor mais acessível às suas possibilidades.

Romão Lavadinho, presidente da Associação de Inquilinos Lisbonense (AIL), em declarações ao AbrilAbril, reitera a ideia de que nos últimos dois anos muitos proprietários têm transformado o alojamento «normal», em alojamento local, com o objectivo de «retirar mais lucros e mais rendimentos». Dá o exemplo da área pombalina, onde «muitos prédios estão a ser transformados em alojamentos locais e hotéis, o que impossibilita as pessoas de morarem lá».

Segundo o seu representante, a AIL defende que deve ser defenida uma percentagem específica de espaço a ser reservado para habitação «normal», responsabilizando o Governo e a Câmara Municipal. Reforça ainda a importância de mais pessoas a fazer vida no centro da cidade, para o seu desenvolvimento, dando o exemplo do comércio local.

Na perspectiva dos inquilinos, a aposta dos proprietários no alojamento local prejudica a oferta de casas para arrendar e faz aumentar o preço das rendas para valores «insuportáveis e incomportáveis para a maior parte das famílias», principalmente em Lisboa e no Porto, referiu o presidente da AIL.

Para Romão Lavadinho, um dos problemas é a existência de «uma discriminação completa» na questão do regime de tributação, pois «o arrendamento normal tem uma taxa de imposto sobre os rendimentos de 28%, enquanto o arrendamento local tem uma taxa de imposto sobre 15% do valor recebido».

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