|direitos das crianças

Creches vão poder funcionar em permanência, com mais crianças e em contentores

Mais crianças por sala, creches abertas de noite e ao fim-de-semana em empresas, universidades, hospitais e «construções modulares», eis as respostas do Governo para a primeira infância. 

Criada em 1997, a cooperativa de solidariedade social dispõe de vários espaços que funcionam 24 horas por dia, entre estes várias creches, um centro de acolhimento temporário para menores em risco, o lar de jovens e a casa abrigo para mulheres e crianças em situação de risco
Créditos / Pixabay

As medidas já mereceram elogios por parte dos privados e do sector social, que são quem beneficia da inexistência de uma rede pública de creches. Estima-se que haja necessidade de, pelo menos, 100 mil vagas. Esta quarta-feira, no Parlamento, a ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social admitia que a possibilidade de mais duas crianças por sala, no caso das salas com crianças de um e dois anos, vai permitir criar cerca de «seis mil lugares», ou seja, muito aquém das necessidades identificadas, em particular nas duas áreas metropolitanas. Por outro lado, nada se diz quanto ao necessário reforço do número de profissionais.

Publicada no mesmo dia em Diário da República, a portaria emitida pela ministra Ana Mendes Godinho alega responder à «prioridade» do Governo, de «melhorar a conciliação entre trabalho, vida pessoal e familiar», que encontra cada vez menos eco na realidade das empresas. Mas, em vez de se reforçarem os direitos de maternidade e de paternidade, e de se reduzir a jornada de trabalho dos pais ou educadores, a solução encontrada pelo Governo passa por sacrificar as crianças a permanecerem mais tempo nas creches, num claro sinal de retrocesso civilizacional e violação dos direitos das crianças.

De acordo com o documento, «a creche poderá funcionar em permanência, incluindo período nocturno e fins-de-semana, desde que exista a necessidade de frequência, por motivos relacionados com a actividade laboral de ambos os pais ou de quem exerça as responsabilidades parentais, ou motivos de força maior devidamente justificados e limitados no tempo».

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Gratuitidade das creches vai abranger todas as crianças

Os deputados aprovaram esta quarta-feira por unanimidade o alargamento progressivo da gratuitidade das creches e soluções equiparadas a todas as crianças, a partir de Setembro do próximo ano. 

Criança e educadora, esta usando máscara protectora, brincam em creche do Porto, a 18 de Maio de 2020
CréditosEstela Silva / Agência Lusa

O projecto de lei do PCP, aprovado em Outubro na generalidade, foi votado ontem pela Comissão de Trabalho e Segurança Social com propostas de alteração do PS, que dilatam os prazos previstos na versão inicial. Em vez de Abril, como previam os comunistas, o alargamento progressivo arranca em Setembro do próximo ano, tendo como meta o ano de 2024 (em vez de 2023). 

De acordo com o texto aprovado por unamidade: o Governo «procede ao alargamento progressivo da gratuitidade de frequência de creche a todas as crianças que frequentem creche abrangida pelo sistema de cooperação bem como as amas do ISS [Instituto da Segurança Social]», com base no seguinte calendário: em 2022, a todas as crianças que ingressem no primeiro ano de creche; em 2023, a todas as crianças que ingressem no primeiro ano de creche e às crianças que prossigam para o 2.º ano e em 2024, a todas as crianças que ingressem no primeiro ano de creche e às crianças que prossigam para os 2.º e 3.º anos.

O diploma dos comunistas visava reforçar a solução que actualmente está prevista na lei, e que decorre da sua iniciativa, que consagra um primeiro avanço na gratuitidade das creches para crianças até aos três anos, designadamente de todas as que integram o primeiro e segundo escalões de rendimentos. 

Em declarações ao AbrilAbril, a deputada Diana Ferreira afirmou que a gratuitidade das creches para todas as crianças constitui um «avanço importante» e é «inseparável da insistência e empenho do PCP em garantir que a medida abrangesse todas as crianças, independentemente dos escalões».  

A proposta inicial previa ainda a implementação de uma rede pública de creches, com a criação de 100 mil vagas até 2023, mas foi chumbada com os votos contra do PS e do PSD.

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A conversão de espaços sem licenciamento para o funcionamento de creches é outra das medidas polémicas que o Governo adoptou, a pedido dos privados, que falam em «desburocratização». Na prática, «a reconversão de espaços, previamente licenciados ou isentos de licenciamento, dedicados à infância ou o aumento de capacidade das salas não está sujeito a licenciamento», lê-se na portaria. E são vários os espaços onde as creches passam a poder instalar-se, como contentores («construções modulares»), «espaços integrados em universidades, estabelecimentos hospitalares, empresas e entidades públicas». 

Foi na legislatura anterior que o Governo do PS votou contra a implementação de uma rede pública de creches, com a criação de 100 mil vagas até 2023. A proposta integrava um diploma do PCP, no qual se previa outra que passou – a gratuitidade das creches a todas as crianças, mas tanto o Governo como o partido que o suporta (PS) foram arranjando pretextos para adiar e limitar o número de crianças abrangidas pela medida. O alargamento da gratuitidade a instituições privadas levou o Governo a pagar 460 euros por criança. Segundo avançou Manuel Lemos, presidente da União das Misericórdias, ao JN, a actualização a partir de Setembro ainda está a ser negociada. Entretanto, Portugal continua a necessitar de uma rede pública de creches onde todas as famílias tenham vaga garantida.

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