Foi ainda na anterior governação que, por resultado de vários anos de política de direita, vários profissionais de saúde juntamente com as suas estruturas sindicais encetaram um processo negocial com o Governo PS, assim como diversas acções de luta por consequências das várias dificuldades que lhes estavam a ser colocadas.
À data, médicos, enfermeiros e outros profissionais que compõem o SNS colocavam as dificuldades existentes no seu sector, defendiam que a ruptura era iminente, e que para resolver tal problema era necessário financiamento que se traduzisse em mais meios humanos e materiais.
Segundo o Instituto Nacional de Estatística (INE), face a 2010, o ano que antecedeu a entrada da troika em Portugal, verifica-se uma diminuição de 14 hospitais públicos, mas um aumento de 29 hospitais privados.
O INE dá ainda conta de que em 2022 estavam em funcionamento 131 hospitais privados, sublinhando que a «predominância numérica» começou em 2016 – período que coincide com o arranque do primeiro governo do Partido Soocialista encabeçado por António Costa.
O PS chegou a mudar de ministro da Saúde. Manuel Pizarro veio substituir Marta Temido e com ele veio a desconfiança sobre as suas ligações aos grupos privados do negócio da doença. Veja-se que em 2022, no Programa Orçamental da Saúde, apesar de estar inscrito um valor de 14858 milhões de euros, 8108,2 milhões de euros foram dirigidos para o sector privado, o que corresponde a 54,6% do valor total da despesa.
Num contexto de clara ruptura do SNS e já durante o processo negocial com as estruturas representativas dos profissionais de saúde, como a FNAM ou o SEP, à saída de uma reunião, o ex-Ministro da Saúde, Manuel Pizarro, a 10 de Outubro de 2023, disse: «Acho que estamos muito longe da sensação de colapso. Não diminuo nem ignoro os problemas e constrangimentos que estamos a enfrentar, mas estamos a trabalhar muito activamente no plano das negociações com os sindicatos médicos, mas também em cada hospital, reorganizando serviços e fazendo com que o funcionamento em rede possa compensar alguns constrangimentos que temos».
Este foi o mesmo ministro que, de forma a esconder os problemas, culpava o modelo de urgências pela incapacidade de resposta verificada. A 17 de Outubro de 2023, defendia o ex-Ministro que «o nosso recurso à urgência é mais ou menos o dobro do dos países desenvolvidos» e que tal era um «problema crónico» em Portugal. Para Manuel Pizarro, ignorando as reivindicações de médicos e enfermeiros, era necessária uma reorganização dos serviços de urgência.
Passaram-se meses e a AD chegou ao poder. O PS preparou todo o terreno para a coligação liderada pelo PSD poder colocar em prática todo o seu projecto de destruição do SNS e de financiamento público dos grupos privados do negócio da doença.
A 18 de Junho, a nova Ministra da Saúde, Ana Paula Martins, disse que o Governo preparou um plano de verão para assegurar as urgências. Apesar do plano, os «constrangimentos» têm sido notórios e Ana Paula Martins parece ignorar a realidade pois, apesar de admitir «sérias dificuldades», considera que o plano de verão está a «ser cumprido».
O plano parece estar a ser cumprido, mas somente o das opções ideológicas. Em dois meses, mais de 40 grávidas foram transferidas do SNS para maternidades do privado. De acordo com o Instituto Nacional de Emergência Médica as transferências foram realizadas para três hospitais privados com os quais o SNS possui protocolos: CUF Descobertas, Luz Saúde Lisboa e Lusíadas Lisboa.
O braço de ferro entre estruturas sindicais e Governo mantém-se. A greve nacional realizada pelo SEP na passada semana teve 80% de adesão e para o mês de Agosto foram marcadas 12 acções de luta e mais 10 greves regionais. A FNAM também já reagiu ao estado calamitoso em que se encontram os serviços de urgência e considera que «a falta de vontade política revela um programa premeditado de destruição do SNS». Deste modo, a estrutura representativa dos médicos diz que irá manter a greve ao trabalho suplementar nos cuidados de saúde primários.
A troca de acusações entre PS e Governo, no entanto, continua sendo que nenhum dos argumentos passa por colocar o necessário para resolver os problemas que estão em cima da mesa, mas passa por um «passa culpas» constante de forma a capitalizar o colapso do SNS.
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