O sector leiteiro vive uma crise anunciada desde 1999, quando a União Europeia decidiu o fim das quotas leiteiras. A decisão foi concretizada no final de Março de 2015, o que leva a que os produtores vendam o leite a um preço abaixo do custo de produção.
O sistema de quotas leiteiras permitia o equilíbrio das produções entre os países do Norte e Centro da Europa e os países do Sul, com custos de produção bastante mais elevados.
«O sector leiteiro vive uma tempestade perfeita»
Phil Hogan, Comissário Europeu para a Agricultura e o Desenvolvimento Rural
O comissário europeu Phil Hogan, responsável pelo sector, reconheceu na recente visita à Feira Nacional de Agricultura, a 9 de Junho, que a produção leiteira vive uma «tempestade perfeita». O secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa, esteve hoje numa produção leiteira em Braga, onde defendeu a reposição das quotas leiteiras.
Quotas leiteiras: o caminho de destruição de todo um sector
Em Portugal, as negociações que levaram ao fim das quotas leiteiras foi conduzida por governos do PS e do PSD e CDS. A última etapa foi a reforma da Política Agrícola Comum (PAC) em 2008, sancionada pelos três partidos na Assembleia da República.
Já em 2014, em nova reforma da PAC e já com o reconhecimento da volatilidade dos preços em função da desregulação dos mercados pelas autoridades europeias, o fim das quotas leiteiras foi confirmado. A estratégia de «aterragem suave», como foi anunciada a liberalização progressiva ao longo de cinco anos, começou a dar resultados rápidos. Os preços a que os produtores vendiam o leite caiu enquanto a produção disparou 5% – no caso da Alemanha, quase tanto como toda a produção leiteira portuguesa.
O resultado de 30 anos da PAC no nosso país foi uma destruição de 92% dos produtores de leite. Dos 80 mil que existiam sobram cerca de seis mil.
Portugal ainda é auto-suficiente em leite líquido e tem potencial para ser excedente em lacticínios, mas ao longo das últimas décadas o número de produtores tem vindo a cair, pressionado por margens cada vez mais curtas.
Com a liberalização do sector, as curtas margens viraram prejuízos. O custo de produção de leite é de, pelo menos, 34 cêntimos por quilograma. Os produtores portugueses recebem actualmente ente 17 e 28 cêntimos, o que significa que o sector tem vindo a acumular prejuízos na produção.
As promoções que as cadeias de distribuição vêm fazendo são mais um prego no caixão de um sector já fortemente debilitado, com o peso dos custos a cair repetidamente sobre a indústria.
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