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Divisão entre educação de infância e pré-escolar é «artificial»

A necessidade de libertar os pais para o regresso ao trabalho presencial põe em cima da mesa o regresso das crianças às instituições, mas são muitas as preocupações do ponto de vista do exclusivo interesse da criança.

Créditos / oseculo.pt

A posição da Associação de Profissionais de Educação de Infância (APEI) foi divulgada na sua página oficial e expressa várias preocupações. No dia em que é divulgada a reabertura das creches para Junho, a associação sublinha que essa medida deveria depender do facto de estarem garantidas todas as condições de segurança do ponto de vista da saúde pública para as crianças e famílias.

«Tendo em conta algumas declarações de membros do Governo vindas a público, preocupa-nos bastante esta divisão artificial criada entre a educação de infância 0-3 e a educação pré-escolar, como se os problemas colocados às crianças em creche e respectivas famílias não se coloquem, de igual modo, às crianças e famílias na educação pré-escolar», pode ler-se na nota.

Para a associação, que admite a necessidade de uma retoma económica que passa necessariamente pelo regresso ao trabalho presencial, a reabertura das creches «do ponto de vista exclusivo dos interesses da criança [...] não deveria, de todo, acontecer». 

A APEI não compreende como pode ser equacionado o regresso das crianças dos 0-3 anos à creche e não se pensar, de igual modo, no regresso das crianças em idade pré-escolar (e do 1.º ciclo do ensino básico), «pois é difícil conceber que crianças ente os 3 e os 10 anos de idade possam ficar sozinhas em casa».

As preocupações da situação específica das crianças dos 0-3 anos prendem-se com o contacto físico incontornável que estas têm quer umas com as outras quer com os cuidadores/educadores. «No regresso de crianças tão pequenas à creche, que estiveram dias consecutivos e integrais com os seus pais durante quase dois meses, haverá muito conforto e consolo a dar [...], não sendo possível equacionar a utilização de máscara pelos adultos, em que nem a expressão possa ser vista e sentida», afirma a associação.

Maior perigo de contágio e volta-se à estaca zero

Segundo a APEI, é difícil que crianças destas idades interiorizem as regras de distanciamento social, uma vez que estas precisam de contacto físico para se desenvolverem, nomeadamente através da exploração dos objectos com a boca, pelo que não é possível imaginar a utilização de máscaras pelas crianças.

«Sabendo que o efeito da Covid-19 em crianças destas idades é menor, na verdade o perigo de contágio, pelas razões referidas anteriormente, é muito maior», refere a nota, acrescentando que é frequente as crianças terem alguma temperatura igual ou superior aos 37º C, por diferentes razões, o que poderá levantar o alarme duma possível infecção e as consequências que daí advirão (isolamento, quarentena para toda a creche).

A APEI lembra ainda que muitas creches da rede solidária coabitam com adultos em centros de dia, para quem as consequências da doença são muito mais graves.

Relativamente ao funcionamento da educação pré-escolar não presencial, a posição da APEI é a de «evitar institucionalizar a casa das famílias, transformando-as em jardins de infância à distância», razão pela qual apenas tem enviado recursos muito pontualmente, evitando, assim, correr o risco de «acrescentar mais ruído» a uma comunicação que se pretende útil, ainda que se devam manter os relacionamentos afectivos criados em contexto escolar através dos meios virtuais.

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