|Debate Quinzenal

Governo e PS quiseram discutir tricas e não os reais problemas do país

Governo e PS alimentaram o debate sobre o IRS Jovem, IRC e o Orçamento do Estado. Depois da troca de argumentos e encenações de parte a parte, quando a esquerda quis discutir os problemas do país, o primeiro-ministro fugiu às respostas. 

CréditosTiago Petinga / Lusa

O habitual debate quinzenal regressou à Assembleia da República e, como não podia deixar de ser, o primeiro-ministro, Luís Montenegro, aproveitou o momento para realizar propaganda e nunca para discutir os reais problemas que afectam a vida de quem trabalha e vive em Portugal. 

Luís Montenegro voltou a falar da necessidade da «lealdade» por parte da oposição para reclamar para o seu Governo um cheque em branco para tudo o que são medidas lesivas para o país. Neste sentido, disse o primeiro-ministro que o Governo está «focado em executar» um programa que «foi sufragado nas urnas e apresentado neste Parlamento».

Após uma intervenção onde Luís Montenegro quis mostrar o alegado ímpeto «reformista», a palavra passou para Pedro Nuno Santos, secretário-geral do PS, que quis começar na Assembleia da República a reunião que virá a ter com o primeiro-ministro em torno do Orçamento do Estado. 

O socialista aproveitou o momento para invocar o FMI para sustentar as críticas à medida do IRC, e pegando nas palavras de Luís Montenegro que o apelidara de «radical», aproveitou o momento para se classificar como «centrista» já que tanto a instituição financeira como ele próprio alinhavam nas críticas às intenções governativas. 

A par desta crítica, Pedro Nuno Santos considerou que a medida do IRS Jovem «cara, errada, injusta e ineficaz» e avisou que o PS irá «fazer tudo o que está ao seu alcance» para evitar a medida. Naturalmente que na réplica, Luís Montenegro relembrou que a sua medida fiscal destinada aos jovens mais ricos já tinha sido ensaiada, em parte, pelo ex-governo do PS. 

Surgiram, no entanto, dois elementos na troca de argumentos que unem o Governo e o PS: um primeiro momento sobre os benefícios fiscais às grandes empresas, apesar de não haver concórdia sobre quais as benesses que devem ser dadas; um outro elemento é a falta de vontade de ir a eleições e de ter estabilidade, o que revela o tipo de oposição que os socialistas estão dispostos a fazer, ao serem cúmplices das opções governativas de fundo. 

Já sobre os reais problemas do país, nem o Chega nem a Iniciativa Liberal os quiseram discutir, procurando ser bengalas para direcionar o debate para aspectos laterais enquanto, simultaneamente procuravam cortejar o Governo para lhes fazer a vontade. Enquanto o Chega procurou instrumentalizar questões relacionadas com a «criminalidade», a Iniciativa Liberal alinhou em tudo o que foi o argumentário do Governo em resposta ao PS. 

As intervenções sérias vieram da esquerda que procurou confrontar os Governo com as suas políticas e opções. Pelo Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, mesmo alinhando a sua intervenção com as principais capas de jornais, questionou Luís Montenegro sobre as borlas fiscais que estavam a ser dadas à EDP. Na resposta, o primeiro-ministro escudou-se numa suposta investigação do Ministério Público à empresa energética e nunca abordou o facto da Autoridade Tributária não ter executado os impostos devidos à EDP. 

Pelo PCP, Paulo Raimundo, secretário-geral dos comunistas, procurou fazer uma caracterização de vários sectores e confrontar directamente o primeiro-ministro para respostas objectivas.

 «Há um milhão e setecentos mil utentes sem médico de família e perante esta realidade o que faz?»; «vai o governo insistir na entrega de empresas estratégicas ao estrangeiro?»; «aumentar salários e pensões, é isto que se impõe. E qual é a sua opção?», questionou Paulo Raimundo. 

Face a todas estas questões e mais algumas que deveriam pautar a discussão em torno do Orçamento do Estado, Luís Montenegro teve o descaramento de dizer que o Governo não defende a privatização do SNS, mesmo sabendo-se de todo o dinheiro que será entregue ao negócio privado da doença. Também sobre a TAP, Luís Montenegro reiterou que a visão do seu Governo é a da «privatização e de gestão privada», mas como «primeira condição» a «manutenção das rotas e o hub em Portugal», algo que só acontecerá caso seja do interesse de quem tem o dinheiro para comprar a empresa. 

Já pelo Livre, Rui Tavares procurou primeiro puxar para o seu partido a medida do novo passe ferroviário nacional e acusou o PSD de ter votado contra uma proposta semelhante há dois anos. Na sua intervenção, o deputado do Livre acusou o Governo de estar a guardar o fundo de emergência da habitação, no valor de 100 milhões de euros por ano, e não o usar para tirar pessoas em condição de sem-abrigo das ruas.

No final do debate, o primeiro-ministro deixou a ponte para a reunião que terá com Pedro Nuno Santos e disse que irá apresentar ao secretário-geral do PS «uma proposta que aproxima» Governo e socialistas. Claro está que, caso seja na linha do debate realizado hoje em público, as soluções para os problemas do país não estarão presentes na reunião. 
 

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