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Linha de Cascais com perturbações, mas que não são de agora

Dadas as condições meteorológicas, a Linha de Cascais está a trabalhar com condicionamentos. Em menos de uma semana é a segunda vez, numa linha cujas obras foram anunciadas, só que com um atraso de anos.

CréditosMiguel A. Lopes / Agência Lusa

A chuva, por si só, não coloca novos problemas. O que coloca apenas em evidência são antigos problemas estruturais já identificados e que ao longo dos anos, por fruto de opções políticas, foram sendo agravados. A linha de Cascais é demonstrativa disso mesmo. Hoje, os trabalhadores de Cascais, Oeiras e Lisboa acordaram com a notícia de novas perturbações na linha ferroviária que faz a ligação entre Cascais e Lisboa, algo que não é novo. 

A linha tem uma extensão de 25,45 km, o equivalente, talvez, à extensão dos seus problemas que apresenta. A começar no tipo de tensão eléctrica diferente da restante rede ferroviária que impossibilita a transferência de mais material circulante, passando pela obsolescência do material circulante, algum com mais de 40 ou até 50 anos, terminando na a degradação das estações que Algés ou Alcântara ilustram bem, a Linha de Cascais é um pequeno exemplo do estado da ferrovia nacional.

Paradoxalmente, ante o estado da linha e das suas estruturas, a Linha de Cascais sendo a segunda linha mais movimentada do país, é também uma das linhas mais rentáveis o que também se explica pela centralidade que tem na vida das pessoas, uma vez que a oferta rodoviária é reduzida. Apesar disso, em 2013, de acordo com uma notícia do Expresso, dada por uma fonte governamental, a linha de Cascais seria concessionada a um privado. As intenções de PSD/CDS, mas também dos sucessivos governos, eram claras e até 2015 pairou o fantasma da privatização, o que fazia compreender a falta de investimento que se verificava, algo que a FECTRANS e Comissão de Utentes já denunciavam.

Revogada tais intenções após os resultados das eleições legislativas de 2015, o Governo optou por incluir a Linha de Cascais no Plano Juncker, ou seja, utilizando o Fundo Europeu de Investimentos Estratégicos integrou-a no Plano de Investimentos Ferroviários, também conhecido como Ferrovia 2020. A questão é que o plano que seria para estar pronto em 2020, apenas estará totalmente concluído em 2023, tal como o AbrilAbril já tinha noticiado, e na Linha de Cascais nada se verificou para além da continuidade da degradação das condições e do serviço. 

Com várias propostas de alteração aos sucessivos Orçamentos do Estado, na semana passada, com pompa e circunstância, o Governo anunciou, numa viagem entre Cascais e Lisboa, o Plano de Modernização da Linha de Cascais. Por via de financiamento comunitário (Fundo de Coesão, Portugal 2020 e Programa Operacional Sustentabilidade e Eficiência no Uso de Recursos) os objetivos estão estabelecidos até 2026. Com esse plano pretende-se alterar o sistema de distribuição e alimentação elétrica aérea, a sinalização, modernizar a via-férrea, melhorar as estações e apeadeiros e a colocação de 34 novas automotoras elétricas.

O que poderiam ser boas notícias, são a confirmação de uma resposta que peca por tardia. Se é mais de 50 anos a idade de algum material circulante, são também 50 anos que marcam falta de respostas e 21 anos o encerramento da Sorefame, por exemplo. As chuvas e os problemas causados na Linha de Cascais só relembraram partes da história de problemas que por opções políticas nunca foram resolvidos.

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