«Iniciámos 2023 com um preço que remunerava os elevados custos de produção e o trabalho dos produtores, mas ao longo de 2023 o preço do leite ao produtor baixou 11 cêntimos por litro apesar dos custos se manterem elevados», adverte a APROLEP – Associação dos Produtores de Leite de Portugal, em comunicado.
E prossegue: «Se esta tendência continuar em 2024 voltaremos à situação que vivemos entre 2010 e 2022».
Reunidos recentemente em Assembleia Geral, os associados da APROLEP referem ainda que estiveram 12 anos com preços abaixo da média europeia e muitos meses com o pior preço entre os 27 estados-membros da União Europeia (UE).
Assim, acrescentam, «não admira» que nesses 12 anos Portugal tenha perdido 75% dos produtores de leite no continente e 40% dos produtores nos Açores, restando actualmente um total de 3500 produtores (2000 nos Açores e 1500 em Portugal continental).
Houve «surpresa e revolta» com a anunciada redução de cinco cêntimos, a partir de segunda-feira, do preço pago ao produtor pelas cooperativas associadas da Lactogal e pela Parmalat Portugal. «Na semana em que se tornou efectivo o "IVA zero" e algumas marcas e superfícies comerciais anunciaram que "baixaram os preços mais do que o IVA", os produtores de leite que fornecem as cooperativas associadas da Lactogal, bem como outras indústrias, nomeadamente a Parmalat Portugal, foram informados sobre a redução de cinco cêntimos no preço por litro de leite ao produtor a partir de 1 de Maio», avança a Associação dos Produtores de Leite de Portugal (Aprolep) em comunicado. Os produtores denunciam que, «mais uma vez», estão a ser «obrigados a "pagar" já as promoções, sem terem ainda recebido qualquer ajuda prometida». Em declarações à agência Lusa, o secretário-geral da Aprolep afirma que «esta redução causou surpresa e revolta nos produtores, em particular do sector cooperativo». Isto porque, segundo Carlos Neves, em 2022, e por diversas ocasiões, os produtores do sector cooperativo «foram os últimos a ver o preço actualizado», tendo ficado «a receber menos do que os produtores que fornecem empresas privadas». Os 200 pares de botas colocados na Avenida dos Aliados, Porto, correspondem ao mesmo número de vacarias encerradas, num protesto organizado pela Associação dos Produtores de Leite de Portugal (APROLEP). A iniciativa realizou-se esta sexta-feira, com o objectivo de alertar para as consequências da crise vivida pelo sector. Uma acção de luta simbólica, que levou à colocação, em frente à Câmara Municipal do Porto, de um par de botas por cada vacaria encerrada durante o último ano. O protesto teve como principal objectivo «alertar o Governo e os vários partidos para a necessidade de aplicar no terreno a nova Política Agrícola Comum (PAC), permitindo a sobrevivência imediata dos agricultores», ao mesmo tempo que pretende «desafiar, mais uma vez, a indústria e a distribuição a dialogarem para colocar o preço do leite ao produtor em níveis sustentáveis», lê-se em comunicado da APROLEP. Os produtores de leite exigem ao Ministério da Agricultura que defenda efectivamente o sector. Marisa Costa, vice-presidente da associação, alertou para o risco de, em 2021, virem a fechar «mais 200 ou 300 [vacarias]» e rejeitou a ideia da tutela de que os agricultores querem viver à custa de apoios: «qualquer produtor de leite abdica dos apoios desde que seja pago "um preço justo"», afirmou à Lusa. No sector leiteiro «restam apenas quatro mil agricultores» e «os que resistem, ou sobrevivem, estão cansados, revoltados e muito preocupados com o futuro», declarou, sublinhando que, em Dezembro passado, «o preço médio ao produtor foi 30,4 cêntimos por quilo, um dos mais baixos da Europa». Persiste a prática de pagar aos produtores preços «abaixo dos custos de produção», o que é uma das principais lutas desde o surgimento, há 11 anos, da APROLEP, que exige «um preço justo». Com agência Lusa Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. Neste contexto, os produtores «tinham a expectativa que a maior empresa de laticínios em Portugal [Lactogal], que pertence às cooperativas, tivesse agora vontade e capacidade para liderar pelo exemplo e aguentar o preço, de modo a corrigir as injustiças dos últimos meses e anos». Segundo Carlos Neves, esta descida do preço pago ao produtor ocorre «na altura de maior despesa» dos agricultores com as colheitas das forragens de inverno e sementeiras do milho, juntando-se aos «elevados custos das rações as despesas com combustíveis, adubos, sementes e fitofármacos». «Estamos muito preocupados. Estamos a ter menos produção de forragens e a palha, vinda de Espanha, que precisamos de comprar tanto para as camas dos animais, como para os alimentar está a subir o preço todos os dias porque há uma grande seca em Espanha», salienta. «A alternativa, que seria comprar forragem vinda de Espanha, está a subir o preço e, por isso, estamos preocupados com esta situação», acrescenta. Neste contexto, a Aprolep sustenta que, «sem produção suficiente e sem dinheiro suficiente para comprar alimentos para os animais, os produtores serão obrigados a enviar animais para abate, reduzindo ou encerrando a sua produção», e avisa que tal «poderá levar à falta de leite para abastecer a indústria nacional a breve prazo». «Não é assim que se defende a produção nacional», insiste a associação. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Nacional|
Produtores de leite revoltados com redução do preço pago à produção
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Produtores de leite denunciam o fim de 200 vacarias
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Para a APROLEP, os compradores de leite terão que decidir o sinal que vão dar aos poucos produtores que resistem na produção. Dessa decisão irá depender o abastecimento com leite nacional e o funcionamento das cooperativas, da indústria e da distribuição, esclarecem, adiantando que dessa decisão irá depender ainda a manutenção da actividade agrícola em muitas regiões do meio rural português ou a «continuação da debandada de produtores e a procura de actividades alternativas».
Na nota citada, a APROLEP refere também que a competitividade da indústria «não pode ser feita à custa dos produtores», conduzindo-os à descrença, desistência e ao abandono.
A indústria do sector cooperativo, pela sua dimensão, pela sua origem e por toda a sua história, «não se pode distrair e não pode esquecer» que o seu primeiro objectivo é valorizar o leite dos produtores a quem pertence e deve lealdade, lê-se também no comunicado.
Os poucos produtores de leite portugueses que ainda garantem o abastecimento lácteo ao país têm feito um esforço ao longo dos últimos anos que assenta na resiliência e na esperança de um futuro em que o seu trabalho seja «respeitado» e «valorizado», salienta ainda a associação do sector.
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