Não encontrou apenas sorrisos a presidente da Comissão Europeia, que esta quinta-feira participou numa acção de campanha da AD, no Porto. Enquanto discursava, Ursula Von der Leyen foi interrompida por manifestantes a gritar palavras de ordem bem audíveis, como «Palestina Livre», «Genocida» ou «Não se podem esconder, estão a financiar um genocídio», enquanto exibiam as mãos simbolicamente pintadas da cor do sangue.
A responsável que tem vindo a mostrar dois pesos e duas medidas relativamente aos crimes que Israel vem cometendo na Faixa de Gaza em nome da alegada «segurança» do seu povo – e que desde o passado dia 7 de Outubro já fez perto de 40 mil mortos, na sua maioria crianças –, e ao conflito que grassa na Ucrânia, não deixou cair a máscara e, aludindo à Revolução dos Cravos, que aconteceu em nome da democracia e da soberania do nosso país, disse que os manifestantes tinham «muita sorte» por viverem num país com liberdade de expressão. Pelo inconveniente causado, das palavras da candidata a um segundo mandato na Comissão Europeia pareceu entender-se que aquelas dezenas de manifestantes não sabiam viver em democracia.
Não bastasse, em tom de ameaça, acrescentou: «Podem dar-se por contentes por estarem no Porto, que é livre, e não na Rússia, em Moscovo. Em Moscovo, seria diferente [...], em dois minutos estariam presos».
Independentemente das condições, ou da falta delas, para a realização de protestos no país continental, cuja actualidade muitos teimam em confundir com a sua história, a resposta de Ursula Von der Leyen insere-se na campanha de ódio e desinformação que há muito prospera, também, nas redes sociais.
Não são protestos a exigir paz no mundo e coerência a quem nos governa que constituem «ameaças à liberdade» na Europa. Num exercício demagógico, Ursula Von der Leyen alude a «extremistas da extrema-direita» e da «extrema-esquerda», apesar de, como se sabe, conviver tão bem com a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni. Falar da Rússia apenas serviu para Von der Leyen fugir ao incómodo de explicar o porquê de as instituições da União Europeia, e governos, como o nosso, compactuarem com quem todos os dias viola impunemente o direito internacional, matando homens, mulheres e crianças inocentes (cuja sentença é pré-natal), só porque, e vendem-nos esta ideia todos os dias, é do lado dos «bons».
Mas este não é um filme da Marvel. A realidade é muito mais complexa do que o maniqueísmo dos «bons» e dos «maus» a que a editora norte-americana nos habituou, e o povo sabe disso.
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