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O regresso do fantasma FMI

Num quadro em que as crises cíclicas estão cada vez mais curtas entre elas, ressurge sempre quem delas quer tirar proveitos. Desta vez volta o FMI à cena para desdizer internacionalmente o Governo português e o Banco de Portugal. 

Em vésperas de eleições legislativas, PS, PSD e CDS-PP acordam com a UE, o FMI e a Comissão Europeia medidas de corte nos rendimentos e direitos, privatizações e desinvestimento nos serviços públicos
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Em Outubro o Governo português perspectivou um crescimento do PIB de 1,3%, já o Banco de Portugal, após, nessa mesma altura ter feito uma perspectiva de 1,5%, em Março aumentou-a para 1,8%. Poder-se-á considerar que vale o que vale na medida em que o que se apontava para os valores da inflação não bateram certo.

A verdade é que tais números, apesar de serem apenas expectativas de crescimento cujas múltiplas variáveis podem não se alinhar, são também elementos que transmitem mensagens políticas internacionais. Mensagens essas que são acolhidas pelos «mercados», ou seja, por quem das práticas especulativas define os seus investimentos mediante interesses económicos.

Naturalmente que os objetivos não são assim tão líquidos, porque caso fossem, bastava todos os países terem boas perspectivas de crescimentos económico para haver investimento. É aqui que entra o FMI e a experiência do passado. As perspectivas do FMI não passaram por valorizar o nosso país, mas sim por desvalorizar. A ideia é dar um sinal negativo a agências de rating e outras entidades, de forma contribuir para uma análise negativa de cada país e posteriormente, dado descrétito internacional, realizar um saque.

Com base nesta última premissa, o FMI prevê agora um crescimento de 1%, abaixo do que tanto Governo e Banco de Portugal acreditam. Poder-se-ia dizer que tal não é impactante uma vez que as última previsões de tal instituição saiŕam ao lado que era esperado, mas questão é que o que é destacado internacionalmente é a avaliação do FMI.

Esta perspectiva não vem, no entanto, de forma isolada. O Fundo Monetário Internacional recalibrou a antecipação da inflação, uma vez que inicialmente dizia que seria de 4,7% em 2023 e agora diz que será de 5,7%, acima dos 5,5% do Banco de Portugal.

Não podemos desligar esta avaliação de todo o contexto internacional. A guerra parece manter-se, a recuperação da economia pós-covid não foi plena, a inflação é uma realidade concreta a par do aproveitamento, e agora registam-se grandes incertezas relativamente ao sector bancário - os caso do SVB e do Swiss Bank levou a que começassem a soar alertas.  

Tudo isto pode dar ainda mais força à narrativa das contas certas e não aumento de salários. Se por um lado, dada a contestação social, tanto o BCE como António Costa já foram obrigados a contradizer-se e a falar da necessidade de aumentos salariais, os ventos que sopram de Washington podem ser de tal forma frios que cheguem ao ponto de congelar possíveis intenções. Enquanto tudo isto acontece, a luta dos trabalhadores intensifica-se e as contradições avolumam-se.

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