As direcções de informação das televisões, no final de cada debate realizado no âmbito da campanha eleitoral para a Presidência da República, fazem o favor, sem custos adicionais, de servir aos telespectadores um outro debate, já sem espinhas e pronto a comer, qual take-away informativo.
Um trabalho feito, por norma, através de comentadores encartados, quais «independentes» que, por regra, se posicionam politicamente à direita ou, no melhor dos casos, no chamado centro-direita.
Na passada segunda-feira, por exemplo, ao comentarem na SIC Notícias o debate da RTP1 entre Marcelo Rebelo de Sousa e João Ferreira, Pedro Marques Lopes e Graça Franco descobriram que não há diferenças entre a esquerda e a chamada direita social no que se refere aos apoios sociais e, pasme-se, deram-se ao luxo de dar como exemplo a aprovação da lei das 35 horas.
«Tenho muita dificuldade em dizer que medidas de apoio social ou as 35 horas sejam medidas de esquerda, mas são percepcionadas como medidas de esquerda». Esta citação de Marques Lopes foi secundada pela sua colega de painel, ambos sem se rirem ou corarem!!! Mas nem é preciso ir muito longe, basta ver o que pensam das 35 horas as eminências pardas dessa chamada direita social, de Cavaco Silva a Rui Rio, passando por Manuela Ferreira Leite ou Passos Coelho, numa convergência absoluta sobre a ideia de que «a redução do horário de trabalho semanal no sector público foi um dos maiores erros do poder político».
Portanto, é este o papel dos comentadores que analisam os debates, o de nos «explicar» o que os candidatos queriam dizer, mas não disseram, ou o que disseram, mas não queriam dizer.
Aliás, por vontade de alguns, nem teríamos debates. Apenas comentários a debates imaginários. Assim, serviam-nos não só sem espinhas, mas também já mastigado. Era só engolir!
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