|Bielorrússia

Bielorrússia denuncia provável participação dos EUA em tentativa de golpe de Estado

Num vídeo divulgado pela Presidência bielorrussa, Alexander Lukashenko denunciou este domingo a tentativa de «assassínio» e «golpe», com a provável participação de agências norte-americanas.

Minsk (imagem de arquivo)  
Créditos / Sputnik via RT

O presidente bielorrusso, que confirmou o fracasso da tentativa de golpe de Estado e dos planos de assassinato contra ele e a sua família, disse que prenderam o grupo envolvido, que «nos mostrou como tinham planeado tudo».

«Fiquei em silêncio. Depois, descobrimos o trabalho de serviços de inteligência claramente estrangeiros, muito provavelmente a CIA, o FBI», disse Lukashenko, que acusou as mais altas autoridades norte-americanas de envolvimento nos factos.

O chefe de Estado informou ainda que as autoridades bielorrussas pediram ajuda ao governo russo e ao seu Serviço Federal de Segurança (FSB) para organizar a detenção dos envolvidos nos planos dos atentados, que, refere a Prensa Latina, tinham viajado dos Estados Unidos para Moscovo.

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Bielorrússia anuncia sanções a altos representantes da UE

O governo bielorrusso vai aplicar sanções a altos funcionários da UE, como resposta às medidas restritivas impostas pelo bloco a dezenas de figuras do país do Leste da Europa e recentemente ampliadas.

Manifestação de apoio a Lukashenko na cidade de Brest
Créditos / Twitter

O ministro dos Negócios Estrangeiros da Bielorrússia, Vladimir Makei, afirmou este domingo que o seu país tem o direito a responder às sanções adicionais aplicadas pela União Europeia (UE), há mais de uma semana, a vários funcionários bielorrussos.

«Hoje, ao debater esta situação, vimo-nos obrigados a constatar que também vamos ampliar as nossas listas de sanções pessoais, que incluirão representantes das autoridades da UE e as autoridades de vários Estados europeus», disse numa entrevista a um canal de TV, citado pela agência Sputnik.

Makei revelou que a decisão sobre as medidas de resposta foi aprovada no passado dia 17, numa reunião dedicada à política externa em que participou o presidente do país, Alexander Lukashenko – um dos visados pelas sanções da UE.


O Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento e o Banco Europeu de Investimento congelaram a cooperação com o a Bielorrússia, sublinhou o diplomata, que criticou a «politização constante dos direitos humanos e da democracia, com argumentos infundados», por parte da UE. Deste modo, disse, «não vemos qualquer sentido em manter o diálogo com o organismo comunitário sobre essas matérias».

Desde o início de Outubro que Bruxelas impõe medidas contra vários funcionários bielorrussos, justificando as punições com a responsabilidade destes numa alegada falsificação de resultados nas eleições presidenciais celebradas em Agosto e na violência exercida sobre os protestos pelos resultados.

O presidente bielorrusso tem apontado reiteradamente as inconsistências do Ocidente no que respeita à violência, chamando a atenção para os casos de butalidade policial em França ou chegando a oferecer-se como mediador no caso da Polónia, onde algumas das manifestações contra a quase proibição do direito ao aborto foram reprimidas com violência.

A Polónia é, em conjunto com a Lituânia, um dos países mais envolvidos na desestabilização da Bielorrússia e que mais apoio financeiro e organização deram aos protestos da oposição, depois de Lukashenko ter vencido as eleições presidenciais com 80% dos votos.

Alguns meios de comunicação – refere a Prensa Latina – têm também chamado a atenção para a brutalidade com que a Polícia de Intervenção actua na Alemanha, em Espanha ou em França nas manifestações contra as medidas de contenção decretadas no âmbito da pandemia.

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Com o apoio do Comité de Segurança do Estado bielorrusso, o FSB prendeu na capital russa os cidadãos bielorussos Alexander Feduta e Yuri Zenkovich, sendo que este último também tem nacionalidade norte-americana.

Os serviços de relações públicas do FSB informaram que «ambos planeavam realizar um golpe de Estado militar na Bielorrússia, seguindo o guião das chamadas revoluções coloridas e envolvendo nacionalistas ucranianos e locais».

A agência de segurança russa confirmou que as acções planeadas incluíam a eliminação física do presidente da Bielorrússia e da sua família, matar «quase todos os dirigentes» bielorrusos, um golpe militar e um apagão em todo o país.

«Como levar a cabo um golpe armado com êxito»

«Foi sugerido que a fase activa seria lançada por alguns grupos armados que estão actualmente localizados em "bases secretas"», divulgou o FSB com base em informação recolhida na reunião de Moscovo. A acção estaria alegadamente agendada para 9 de Maio, quando a Bielorrússia celebra a vitória sobre o nazi-fascismo, em 1945, com um desfile militar, noticia a RT.

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Oposição bielorrussa: nacionalismo e privatizações para lá das «caras simpáticas»

A Bielorrússia está na berlinda mediática, mas não para explicar o programa da oposição: privatizações, perda de direitos laborais, integração nas estruturas ocidentais... O jornalista Bojan Tsonev leu as propostas.

Svetlana Tikhanovksaya, ao centro, entre outras duas «feministas» opositoras
Créditos / insurgente.org

Numa peça publicada esta terça-feira no portal 14milimetros.com, Bojan Tsonev sublinha o pouco relevo que mereceu aos grandes media o conteúdo dos programas de Svetlana Tikhanovksaya, a quem chama «líder de facto da oposição bielorrusa» e a quem os grandes meios de comunicação social tratam de «heroína» para cima, «Joana d'Arc» e por aí fora – como se não tivesse havido um Maidan, um Guaidó e não houvesse um dia a dia de enredos mediáticos a favor do capital.

Então, Bojan decidiu entrar no portal do programa eleitoral de Tikhanovksaya, no qual, afirma, «aparece toda uma série de propostas de conteúdo democratizante, que falam sobre liberdade nas eleições, justiça independente e outras coisas mais».

No entanto, o jornalista revela que, ao aceder ao link reformby.com, depara com propostas que divergem da «cara simpática» inicial – propostas que abrangem áreas como a economia, a ecologia, a saúde e as pensões, e que foram criadas tendo por base documentos da plataforma «Pacote de reanimação de reformas para a Bielorrússia».

Ao tentar aceder à página para saber em que consiste este «Pacote de reanimação», aparece uma mensagem de «erro» e o conteúdo «parece bloqueado ou eliminado». Não obstante, alguns foram suficientemente rápidos para conseguir gravar o texto, revela.

Corte de relações com a Rússia, integração nas estruturas ocidentais

A oposição, para quem a Rússia é responsável por ameaças à segurança do país, critica a participação em «projectos de integração pós-soviética». Algumas das reformas avançadas, revela Bojan Tsonev, possuem uma «clara motivação ultra-nacionalista e revisionista».

«a oposição advoga [...] a transição para os "padrões da NATO" e a formação do pessoal militar bielorrusso recorrendo às instituições e centros de formação dos países-membros da NATO»

A este propósito, o programa contempla a proibição de «organizações pró-russas cujas actividades sejam contrárias aos interesses nacionais», assim como a perseguição penal de quem questionar publicamente a existência de «uma nação bielorrussa separada», a responsabilização penal por «insultos públicos à língua bielorrussa» ou a vigilância de actividades de iniciativas a favor do Kremlin na Bielorrússia.

O país não só abandonaria totalmente as suas relações com a Rússia, como passaria a integrar-se na esfera ocidental, «especialmente dentro dos novos projectos promovidos por países como a Polónia e a Lituânia», bem como na União Europeia (UE) e na NATO.

A nível militar, a oposição advoga o desenvolvimento das passagens fronteiriças com a UE, a transição para os «padrões da NATO» e a formação do pessoal militar bielorrusso recorrendo às instituições e centros de formação dos países-membros da NATO.

Viragem para Ocidente

O programa da campeã do Ocidente proíbe a venda às empresas russas de infra-estruturas bielorrussas; defende a redução da participação da Rússia como fornecedor de energia ao país; propõe a privatização das empresas estatais com a proibição de aquisição por empresas com participação de capital russo superior a 20%; defende a construção de ligações ferroviárias e rodoviárias modernas para sul e ocidente, isto é, Polónia, Ucrânia, Lituânia e Letónia: Kiev-Minsk-Vilnius, Lvov-Brest-Grodno-Vilnius, Vitebsk-Polotsk-Daugavpils-Riga.

«proibindo a transmissão de programas "jornalísticos, sociopolíticos e noticiosos criados por canais de TV russos na Bielorrússia"»

«Isto devia gerar preocupação, dada a actual situação em países como a Ucrânia», alerta Tsonev, sublinhando que poderia afectar o equilíbrio de «forças políticas, económicas e militares na Europa Oriental», bem como, de forma negativa, as «relações inter-sociais» na Bielorrússia, uma vez que se trata de um país de fortes laços culturais e históricos com a Rússia.

No domínio da informação, propõe-se a liberalização para «garantir a liberdade de expressão», proibindo a transmissão de programas «jornalísticos, sociopolíticos e noticiosos criados por canais de TV russos na Bielorrússia». Passam a ser incluídos no pacote padrão de canais da Bielorrússia os canais públicos de TV da Letónia, Lituânia, Polónia e Ucrânia. Defende-se a transmissão em canais de TV nacionais de programas de divulgação científica, entretenimento e notícias dos países da UE, do Reino Unido, do Canadá, dos Estados Unidos e da Austrália.

Nacionalismo, anticomunismo e alerta para o agravamento da situação económica

O programa defende a divulgação dos «heróis nacionais dos séculos XIX e XX» entre a população, bem como a popularização da figura do escritor Kastus Kalinouski como fundador político da moderna nação bielorrussa, como símbolo da luta dos bielorrussos pela liberdade e a independência – contra a opressão russa.


Também dá particular ênfase à defesa do bielorrusso como única língua estatal, embora reconhecendo as línguas minoritárias – que não é o caso do russo. Propõe-se levar a cabo a «descomunização e a des-sovietização integral» do país, e «bielorrussiar» a vida religiosa de todas as confissões, bem como do sistema educativo em todos os seu níveis.

«A situação económica, já de si difícil devido à pandemia de Covid-19, agravar-se-ia», defende Bojan Tsonev ao ser confrontado com o conteúdo das propostas da oposição, alertando que a Bielorrússia poderia ficar condenada a repetir experiências já ocorridas na Europa de Leste: «privatizações selvagens, descida do nível de vida, criminalidade, crescendo do nacionalismo, do conservadorismo e do anticomunismo, aumento da emigração, servilismo económico, entre muitos outros efeitos adversos».

Isto – sublinha – é algo que muitos dos sectores liberais que se manifestam não parecem entender, julgando que, com a simples saída de Lukashenko, todos os seus problemas vão desaparecer. No entanto – afirma –, trabalhadores do sector da Indústria já se começaram a organizar em diversos grupos através de redes sociais, onde expõem as suas exigências, que visam defender os seus postos de trabalho e evitar as privatizações, «bem como impedir o sequestro das suas reivindicações por parte da oposição».

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No sábado, a cadeia de TV bielorrussa ONT transmitiu imagens de uma câmara oculta do que parece ser a reunião em Moscovo. Nela, Zenkovich e Feduta precisaram como levar a cabo um golpe armado com êxito. Disseram que Lukashenko devia ser «eliminado» e que pelo menos 30 em Minsk – presumivelmente altos funcionários – deviam ser «presos literalmente na primeira hora».

O canal de TV russo Rossiya 1 mostrou mais imagens da câmara oculta no domingo. Nelas, Feduta explica como a Bielorrúsia pós-golpe de Estado deve ser governada por um conselho de Estado formado por líderes de todos os partidos políticos inscritos.

Ele e Zenkovich sugeriram que deviam «cuidar» da comunicação social, dos tribunais, do Parlamento, dos ministérios da Justiça e da Educação, da comissão eleitoral central e do desenvolvimento de uma nova Constituição.

Zenkovich, refere a RT, deixou ainda implícito que o golpe poderia ser economicamente rentável para os participantes, tendo afirmado que Lukashenko deve ter poupanças em qualquer lugar que «simplesmente possam ser tomadas, em silêncio, se a ocasião se proporcionar».

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