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Para os CTT, é preferível não cumprir a lei a contratar mais carteiros

Os carteiros de Faro, que desenvolvem a sua actividade em torno do Centro de Distribuição Postal da cidade, entram amanhã em greve parcial por um período de cinco dias, entre as 8h e as 10h da manhã.

«Salvo raríssimas excepções, a generalidade dos giros [trajectos dos carteiros] estão com um atraso na distribuição de cinco a seis dias», denuncia o comunicado do Sindicato Nacional dos Trabalhadores de Correios e Telecomunicações (SNTCT/CGTP-IN), a que o AbrilAbril teve acesso.

A título de exemplo: «a distribuição no Fórum Algarve só é feita uma vez por semana, tal como acontece com a Rua Luís de Camões, a Rua José Matos, a Rua Miguel Bombarda, o Alto de Santo António, o Jardim do Cardeal, a Rua do Alportel,... e outros locais que a gestão [dos CTT] bem sabe quais são». A supressão de seis giros na cidade foi decidida pela administração, que apoveitou para reduzir postos de trabalho. 

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Nos CTT, o Governo cede em tudo ao Grupo Champalimaud

O Governo assume a submissão total face às reivindicações de Manuel Champalimaud e demais accionistas dos CTT, através da resolução do Conselho de Ministros publicada em Diário da República.

Os comunistas apelam ao Governo que assuma as suas responsabilidades e trave o caminho de degradação do serviço postal
Créditos / União dos Sindicatos de Évora (CGTP-IN)

A realidade é tramada. Estava o Governo – e os comentadores do costume – tão empolgado em demonstrar que estamos perante o governo mais à esquerda desde o Conselho de Comissários do Povo, e que os Decretos da Paz e da Terra só não iam entrar em vigor por culpa do voto contra do PCP ao Orçamento do Estado, e eis que sai o Diário da República de 3 de Novembro com mais uma dose de realidade pura e dura (como se não chegasse o estado do SNS, os salários congelados, o preço das rendas e da energia, a habitação inacessível, etc.).

Veio esta realidade na forma da publicação da resolução do Conselho de Ministros sobre os CTT, aprovada ainda em Setembro, mas que só agora viu a luz do dia (coincidências...). E não é que o Governo ajoelha soezmente aos pés das reivindicações de Manuel Champalimaud e demais accionistas dos CTT? É que a submissão é total. Vejamos alguns exemplos:

– Os capitalistas que esmifram a concessão pública vinham-se queixando do facto de a ANACOM não se submeter aos seus ditames (o que de facto é uma raridade, pois os reguladores independentes foram criados para serem independentes do poder político e submissos ao poder económico). E o Governo determina que «os parâmetros de qualidade do Serviço Postal Universal e os objectivos de desempenho passam a ser definidos pelo concedente», deixando de ser fixados pela ANACOM como prevê a Lei Postal!

«E o Governo «mais à esquerda» de que alguns têm memória e outros expectativa (o que diz muito dessa memória e dessa expectativa, e pouco deste Governo), decide entregar por «ajuste directo» a um grupo capitalista a concessão do Serviço Postal Universal, passando a pagar por um serviço que sempre foi lucrativo no Estado, e permitindo a continuação da brutal degradação do serviço postal.»

– Os capitalistas que esbulham os utentes dos Correios vinham reclamando do facto de a ANACOM não os autorizar a maiores aumentos de preços (apesar de terem desde a privatização já imposto um aumento de 56% na tarifa base). Pois o Governo determina «que os preços são aprovados pelo Governo, sob proposta da concessionária», em vez de serem fixados pela ANACOM como determina a Lei Postal em vigor.

O carácter «revolucionário» da resolução só é reflectido pelo facto de a mesma determinar que, como a lei actual não permite ao Governo fazer o que quer, o Governo irá primeiro mudar a lei por decreto e depois fazer o contrato com o privado. Tudo antes de 31 de Dezembro.

E o Governo «mais à esquerda» de que alguns têm memória e outros expectativa (o que diz muito dessa memória e dessa expectativa, e pouco deste Governo), decide entregar por «ajuste directo» a um grupo capitalista a concessão do Serviço Postal Universal, passando a pagar por um serviço que sempre foi lucrativo no Estado, e permitindo a continuação da brutal degradação do serviço postal.

E, entretanto, ainda se prepara para que todos paguemos uns milhões de euros em «equilíbrio financeiro da concessão». Sobre isso, sobre o escândalo de o contrato de concessão remeter «os litígios» entre o Estado e o privado para os «tribunais» arbitrais, a resolução do Conselho de Ministros nada diz, o que augura que o mesmo mecanismo de transferência de fundos públicos para os bolsos privados está salvaguardado no próximo contrato de concessão.

Claro que todo este percurso só é possível porque ele ocorre perante o silêncio cúmplice da comunicação social dominada, fiel intérprete dos desejos e interesses do grande capital. Fidelidade que partilha com um Governo que em seis anos sempre se opôs à renacionalização dos CTT, que seis vezes se aliou a PSD e CDS-PP (e também ao Chega e à IL) para travar projectos de renacionalização, e que apenas aceitou aprovar declarações de intenções que nunca pensou concretizar e criar grupos de trabalho que nada estudaram e se limitaram a ganhar tempo. Como o comportamento presente deixa exposto.

Tipo de Artigo: 
Opinião
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Os habitantes de Faro acabam por ser «os primeiros a conhecer as consequências desses atrasos», lamentam os carteiros. Atrasos estes causados, conscientemente, pela má-gestão da empresa de serviços postais privatizada em 2013, pelo governo PSD/CDS-PP, cujo único interesse é o aumento das margens de lucro.

«Ainda mais grave é a situação de zonas onde a distribuição só é feita em períodos que podem chegar aos dez dias, como é o caso da Rua de São Luís, do Largo do Mercado ou da rua Rua Humberto Delgado», períodos já absurdamente distantes daqueles determinados pela lei, que define uma distribuição postal domiciliária cinco vezes por semana.

Entre as reivindicações definidas pelos carteiros em plenário, encontra-se o «fim imediato de uma gestão atabalhoada do serviço, uma gestão de remendos que configura um confrangedor desconhecimento da gestão da actividade postal», e o fim do «assédio moral sobre os trabalhadores do Centro de Distribuição Postal de Faro».

A contratação de, pelo menos, «mais seis carteiros», seria, já em si, inferior ao número necessário para repôr o serviço na cidade.

A greve parcial vai ter lugar entre as 8h e as 10h dos dias 2, 3, 6, 7 e 9 de Dezembro de 2021. Nestas duas horas, os trabalhadores vão concentrar-se em diferentes espaços da cidade para distribuir documentos com as suas reivindicações, tanto à população de Faro como aos seus órgãos autárquicos. 

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