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Reformados franceses reclamam melhores pensões e condições de vida

Em Paris, milhares de pessoas, na maioria reformados provenientes de vários pontos do país, manifestaram-se esta quinta-feira para denunciar a perda de poder de compra e a degradação dos serviços públicos.

Dezenas de milhares de pessoas, sobretudo reformados e pensionistas, manifestaram-se esta quinta-feira em Paris pela valorização das pensões e em defesa dos serviços públicos 
Créditos / France Bleu

A mobilização nacional de reformados que ontem teve lugar na capital francesa foi convocada por nove sindicatos e associações de pensionistas, que, num comunicado conjunto, sublinham a perda acentuada de poder de compra: «desde 2014, os pensionistas perderam em média 10 a 12% de poder de compra, ou seja, mais de um mês de pensão ao ano».

Neste sentido, consideram que «o anúncio de revalorização das pensões em 1,1%, abaixo da taxa de inflação, de 2,4%, é uma provocação» e acrescentam que não querem «este "Novo Mundo" anunciado pelo Presidente da República no início da crise sanitária».

«Os preços disparam e as pensões estão congeladas, os meios destinados à Saúde e aos serviços públicos diminuem e, ao mesmo tempo, a Bolsa, os dividendos explodem e batem recordes históricos. Esta situação é inaceitável. Uma outra distribuição da riqueza é urgente», lê-se no comunicado das organizações promotoras.

Uma delas, a Confederação Geral do Trabalho (CGT), afirma que, no último ano, «os preços subiram 1,9%, enquanto as pensões básicas apenas aumentaram 0,4% e as complementares 1%».

«Muitos reformados, hoje, têm duas gerações a seu cargo»

Os reformados querem fazer ouvir a sua «dificuldade em viver», explicou Marc Bastide, da federação dos reformados da CGT, sublinhando que muitos, hoje, têm duas gerações a seu cargo: os filhos, que não são financeiramente independentes, e os pais, idosos dependentes.

Um exemplo é o de Jeanne, antiga secretária municipal na Normandia, que partilha agora a reforma com a filha, trabalhadora do espectáculo numa «situação extremamente precária». «Mesmo reformada, continuo a ser mãe e tento ajudá-la financeiramente», disse ao Le Monde, acrescentando que alguns dos que viajaram com ela da Normandia até Paris, no fim do mês, vêem-se obrigados a recorrer à caridade.

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Protestos contra a reforma das pensões em França mantêm-se há 2 meses

Centenas de milhares de pessoas manifestaram-se em várias cidades francesas, esta quinta-feira, no âmbito da nona jornada de protestos contra o projecto de reforma das pensões de Macron.

Milhares de pessoas voltaram a manifestar-se nas ruas de França contra a reforma das pensões de Macron
Créditos / liberation.fr

Os protestos contra a reforma do sistema público de pensões voltaram a sentir-se ontem em França, onde a plataforma intersindical que integra a CGT, a Força Operária, a Federação Sindical Unitária e os Solidários, entre outros, convocou uma nova jornada nacional de mobilização – a nona, depois das realizadas em 5, 10 e 17 de Dezembro, e em 9, 11, 16, 24 e 29 de Janeiro.

Tal como em ocasiões anteriores, houve elevada participação de trabalhadores de diversos sectores, de estudantes e reformados, com o apoio de partidos políticos. Também se voltou a sentir uma forte presença policial nas ruas e a registar a habitual divergência entre os números de manifestantes divulgados pelo Ministério do Interior e pela Confederação Geral do Trabalho (CGT), nomeadamente no que respeita a Paris – com a primeira fonte a referir que estiveram nas ruas 15 mil pessoas e a segunda, 130 mil.

Greve com menor incidência nos transportes, maior noutros sectores

A greve contra o projecto de reforma das pensões, iniciada a 5 de Dezembro, chegou a ter grande impacto nos transportes públicos, mas nas últimas semanas a situação neste sector regressou quase à normalidade.

No entanto, o protesto ganhou maior dimensão entre outros sectores profissionais que se opõem à reforma, como os advogados, os controladores de tráfego aéreo e os trabalhadores da estiva, das refinarias, das estações de tratamento de lixo, entre outros.


Entretanto, na Assembleia Nacional, o controverso projecto que pretende impor um sistema único de pensões enfrenta milhares de emendas ao texto, apresentadas por diversos deputados, naquilo que foi designado como frente de luta parlamentar.

No entanto, um representante da plataforma sindical que mais activamente tem lutado contra a reforma – que convocou para 20 de Fevereiro nova jornada de mobilização – disse à imprensa que o debate na Assembleia «não trouxe nada de novo» aos trabalhadores e que a «convicção» destes é «mais forte a cada dia que passa», uma vez que «não se pode melhorar um projecto» como este.

«Determinação intacta»

Num comunicado ontem emitido, esta plataforma destaca que «os plenários se multiplicam nos locais de trabalho, nas escolas e nas universidades, apesar de todas as pressões», e afirma que «a rejeição da reforma e a determinação de alcançar a sua retirada estão intactas e se propagam».

A CGT, a Força Operária, a Federação Sindical Unitária, os Solidários e outros sindicatos continuam a contar com o apoio da maioria da sociedade francesa na oposição ao sistema universal de pensões, entendendo que prejudica os interesses dos trabalhadores e pensionistas, e favorece os interesses dos bancos, das seguradoras e dos fundos de pensões.

Apesar de o executivo francês afirmar que se trata de um sistema mais justo do que o que está em vigor, a CGT acusa Macron de querer impor aos franceses uma reforma das pensões «à custa da democracia».

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Por uma «vida decente», os reformados exigem o aumento imediato das pensões e a sua indexação ao salário médio; a defesa e a melhoria da Segurança Social; o desenvolvimento de serviços públicos de proximidade, bem como a defesa das liberdades individuais e colectivas.

A defesa e a protecção dos serviços públicos é uma das grandes reivindicações dos reformados. Uma enfermeira reformada do departamento de Vendée (Oeste) mostrou-se indignada: «Temos apenas um médico de emergência para todo o departamento!»

Com a fusão dos hospitais, denunciou, os utentes são obrigados a fazer grandes distâncias. «Tornou-se muito difícil tratarmo-nos. Além da redução constante das pensões, a ruptura dos serviços públicos também contribui para a redução dos nossos meios», criticou.

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