A Câmara Municipal do Porto vai alienar os edifícios onde ia construir a residência universitária do Morro da Sé. Um volte-face curioso até porque a cerimónia que indicava a transformação de um dos edifícios em residência universitária justificou que, à data, no Dia Nacional do Estudante, o Presidente da República fosse a uma cerimónia apadrinhá-la.
Nesse mesmo dia, milhares de estudantes celebraram em luta os 60 anos da Crise Académica e deslocaram-se de vários pontos do país para se manifestar em Lisboa numa das manifestações estudantis dos últimos anos. Uma opção foi feita pelo Presidente da República e essa opção não foi estar com os estudantes que pediam um Ensino Superior público, gratuito, democrático e de qualidade, mas sim alinhar numa cerimónia que apenas teve uma Federação Académica envolvida.
Passados oito meses, é notícia o facto da residência que o Presidente da República apadrinhou afinal não avançar. A justificação da Câmara Municipal do Porto é simples: ninguém demonstrou interesse no concurso público que foi aberto e os fundos do PRR não eram suficientes para melhorar a oferta. Face a isto, a Câmara Municipal do Porto, dado o estado de degradação dos edifícios, optou pela venda do património certamente para contribuir ainda mais para a bolha imobiliária na cidade.
A suposta residência, que entretanto não existirá, iria ter 120 quartos equipados com 210 camas e fazia parte de um protocolo entre a Universidade do Porto e a Câmara Municipal. De acordo com o Reitor da Universidade à data, seria «um projeto inovador» que teria a colaboração «com a FAP e com a Câmara para a instalação de uma residência adicional no antigo Centro Social da Sé [Rua da Bainharia], a ser gerida pela FAP, em instalações cedidas pela autarquias». Ou seja, seria a desresponsabilização completa dos Serviços de Acção Social.
Face a isto, as reivindicações dos estudantes que saíram à rua em Lisboa parece que ganham redobradas razões. A falta de alojamento foi um dos grandes problemas levantados, algo que este ano, dado o aumento brutal das rendas, afectou mais quem quer exercer um direito e vê barreiras económicas para tal.
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