|Índia

Dirigente comunista assassinado no estado indiano de Jharkhand

O PCI(M) destaca a luta de Subhash Munda, de 34 anos, em prol das comunidades tribais e dos pobres «contra a máfia da terra». Foi morto por desconhecidos num centro de trabalho em Ranchi, capital do estado.

Dirigentes do PCI(M) denunciaram o assassinato de Munda e anunciaram um «grande acto de homenagem» para dia 3 de Agosto 
Créditos / reporterpost.in

Em conferência de imprensa, este sábado, na capital do estado de Jharkhand, responsáveis do Comité Estadual do Partido Comunista da Índia – PCI(M) referiram-se ao assassinato de Munda como uma «conspiração política», bem como uma tentativa de «enfraquecer a esquerda».

Na ocasião, o secretário estadual do partido, Prakash Viplav, disse que está em marcha uma ampla campanha de repúdio por «este massacre» em todo o estado do Leste da Índia, com a participação do PCI(M) e outros partidos de esquerda, organizações sociais e de massas.

Protesto contra o assassinato do militante comunista Subhash Munda, de 34 anos, que se destacou pela defesa das comunidades tribais e dos mais pobres no estado de Jharkhand / reporterpost.in 

Segundo referiu, está agendado para o próximo dia 3 de Agosto «um enorme encontro de homenagem», que contará com a presença de dirigentes de partidos de esquerda a nível estadual e de Brinda Karat, membro do Comité Central do PCI(M).

O evento está marcado para a cidade de Ranchi, mais concretamente, para a zona de Daladli Chowk, onde se localiza o centro do partido em que Subhash Munda se encontrava no passado dia 26. Por volta das 20h, um grupo de desconhecidos entrou no local e efectuou vários disparos contra o militante comunista, que não resistiu aos ferimentos, indica o portal reporterpost.in.

Prakash Viplav disse ainda que, desde o assassinato, o partido tinha tentado contactar de forma insistente o secretariado do ministro-chefe de Jharkhand, com vista a uma futura reunião, sem obter qualquer resposta.

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Mulheres indígenas pagam preço elevado por defender terras e direitos na Índia

Em vários estados indianos, mulheres de comunidades autóctones têm estado na linha da frente na defesa da terra face aos interesses corporativos e, por isso, continuam a ser alvo de forte repressão.

Mulheres Adivasi 
Créditos / Newsclick

Por ocasião do Dia Internacional da Mulher, a organização Survival International publicou um relatório intitulado «Agredidas por causa da resistência: o ataque às mulheres indígenas na Índia de Modi».

Afirmando que a violação dos direitos da comunidade Adivasi [tribos autóctones da Índia] constitui uma violação directa das leis nacionais e das obrigações internacionais, o documento destaca que estas mulheres são sujeitas a uma tripla punição – por serem indígenas, mulheres e defenderem os seus direitos contra «interesses poderosos».

Cerca de 57 milhões de Adivasi vivem nos estados de Jharkhand, Odisha, Chhattisgarh, Bengala Ocidental, Madhya Pradesh e Maharashtra, onde é preponderante a exploração de carvão, bauxita e minério de ferro.

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Índia: familiares de vítimas de silicose também vão parar às minas

Às viúvas e outros familiares dos mineiros não resta outra opção. No Rajastão, o maior estado indiano, é-lhes difícil fugir às minas, até porque contraíram empréstimos para comprar remédios contra a silicose.

Kamala Bhil, mulher da comunidade Adivasi cujo marido morreu de silicose
CréditosMLPC / Mongabay

«Qual é a alternativa?», pergunta Kamala Bhil, cujo marido morreu com silicose e que tem um filho a quem foi diagnosticada a mesma doença pulmonar. «Onde está ela? Quatro dos meus filhos trabalham nas minas, mesmo sabendo que vão contrair silicose. Mas que alternativa há para ganhar o sustento? Nenhuma», afirma.

Kamala Bhil, de 55 anos, pertence a uma comunidade Adivasi [tribos autóctones da Índia] e vive na localidade de Bhil Basti, no distrito de Jodhpur (estado do Rajastão). É uma das milhares de mulheres que perderam os maridos ou filhos depois de contraírem silicose nas minas. Como não têm outro meio de sustento, as viúvas ou outros familiares dos mineiros falecidos vêem-se agora obrigados a trabalhar nas mesmas minas, auferindo um salário diário entre os 2,25 euros e 4,5 euros.

Com as minas, veio a promessa – nunca cumprida – de desenvolvimento e de melhoria das condições de vida para estas mulheres, refere o portal mongabay.com. A única transição que de facto testemunharam foram as mortes sucessivas dos maridos, filhos, irmãos e outros familiares, por doenças associadas à mineração.

«Um dos meus filhos contraiu silicose há alguns anos e, desde então, tem estado a viver em casa, com medicamentos», disse Kamala Bhil. «Conseguimos obter uma parte da compensação do governo, mas não chega para tomar conta dele», frisou.

Não é muito diferente o caso de Shanti Devi, de 60 anos, habitante da aldeia de Sodho Ki Dhani, também no distrito de Jodhpur. O marido e um filho morreram com silicose, enquanto outro norreu com cancro.

Ela vive da pensão de viuvez e conseguiu uma parte da compensação que os doentes de silicose têm em vida, mas não aquilo a que tinha direito depois da morte dos filhos. De acordo com a actual legislação no Rajastão, indica o mongabay.com, os trabalhadores a quem é diagnosticada silicose recebem cerca de 3300 euros de apoio em vida e os seus herdeiros/familiares têm direito a receber cerca de 2200 euros em caso de morte.

Ao portal, Shanti Devi diz que passaram vários anos desde a morte do filho, que vive sozinha e que não tem nada. «O ano passado, com a quarentena, tive de empenhar as jóias para sobreviver, sabendo que nunca as vou recuperar. E estou a contar os dias, porque também não há dinheiro para os meus medicamentos», lamentou.

Burocracia e futuro incerto

Provocada pela inalação do pó de sílica, a silicose é uma doença pulmonar. No Rajastão, os trabalhadores que laboram nas centenas de minas legais e ilegais do estado são as suas maiores vítimas.

Nas últimas décadas, foram milhares os que morreram com a doença pulmonar e muitos outros milhares sofrem de silicose, mas as suas famílias continuam a não ter outro alívio que não sejam as «compensações insignificantes», que muitas vezes «ficam presas nas malhas da burocracia».

Na esperança de receber o que lhes é devido, alguns familiares recorrem a instâncias como a Comissão Nacional para os Direitos Humanos, como o fez Shanti Devi em busca de compensação pela morte dos filhos. Mas as rodas movem-se lentamente nos diversos níveis de verificação do processo. A um dos seus filhos foi reconhecida a morte por silicose em 2017, mas Shanti continua sem nada receber.

Embora não haja um número exacto de casos registados no estado, um relatório oficial publicado em 2018 referia que, entre Janeiro de 2015 e Fevereiro de 2017, tinham sido detectados cerca de 8000 doentes com silicose no Rajastão. Actualmente, o governo estadual reconhe 17 mil casos de doentes afectados pela patologia pulmonar, sendo que outras organizações que lidam com a doença estimam a existência de outros dez mil casos.

«Há tantas mulheres que enfrentam um futuro incerto devido a esta falta de eficiência sistémica», disse Shikha Kachhawaha, que trabalha com as famílias afectadas pelas minas na organização Mine Labour Protection Campaign (MLPC). «Elas já realizaram protestos diversas vezes para exigir apoio, mas nada de substancial mudou. Só na região de Jodhpur, estimamos que haja 1100 casos assim», precisou.

Um ciclo vicioso para os mineiros

Com 342 mil quilómetros quadrados, o Rajastão é o maior estado da Índia e possui grandes depósitos de mármore, granito, arenito, calcário, quartzo, feldspato, areia de sílica, terra siliciosa, argilas, pedra-sabão em vários distritos, segundo fontes oficiais, de onde são retirados diversos minérios, incluindo cobre, zinco, minério de ferro, lignito e manganês. O sector representa 4,4% do PIB do estado, refere o mongabay.com.

A Política Mineral do Rajastão de 2015 defendia um «regime de extracção mineral sustentável», com pretensões de chegar ao «desperdício zero», muito respeito por parâmetros ambientais e sociais, e ênfase no bem-estar e saúde das pessoas empregadas no sector, havendo referência específica ao controlo da pneumoconiose e silicose.

No entanto, quem trabalha com comunidades afectadas pela mineração acusa as autoridades de manterem estes planos bonitos no papel e argumenta que falta uma abordagem concreta aos problemas das pessoas e daquilo por que passam quando têm de enfrentar problemas e doenças relacionados com a extracção mineira.


Pekham Basu é professora assistente no Instituto Tata de Ciências Sociais, em Mumbai, e trabalha há vários anos com comunidades afectadas pelas minas no Rajastão. Ao moganbay.com, sublinhou que a mineração e os riscos de segurança que lhe estão associados são males inevitáveis para as pessoas que vivem em regiões ricas em minérios.

«Podem morrer nas minas, contrair doenças como a silicose ou outra coisa qualquer, sem uma alternativa holística e opções para outros meios de subsistência, vêem-se empurrados para este ciclo vicioso em que contraem empréstimos e em que, depois, andam gerações a trabalhar nas minas para pagar o empréstimo de volta. O facto de morrerem depois de apanharem doenças como a silicose é só mais um problema a juntar aos demais nas suas vidas», afirma Basu.

«Isto é inimaginável para muitos», diz. «Quando os homens morrem, as suas viúvas são forçadas a trabalhar nas minas para sobreviver. Vão para o trabalho depois de todos os outros se terem ido embora, devido ao tabu social – os outros não querem ver uma viúva quando vão trabalhar, porque lhes pode dar azar», explica.

«Quando chegam à mina, cortam-lhes no seu salário de meio dia por chegarem tarde», diz Basu. «Estas mulheres perdem os pais, irmãos, maridos, filhos, que trabalharam nas minas, e depois têm de ir para lá para sobreviver. Houve muitos casos em que mulheres deram à luz e, uma semana depois, voltaram para as minas com as suas crianças», revela ainda.

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De acordo com o relatório, existem planos para aumentar a exploração mineira, e as terras da comunidade Adivasi estão sob pressão crescente, pelo que centenas de milhares de pessoas correm o risco de perder as suas casas se a mineração sem controlo prosseguir.

O direito dos Adivasi às suas terras e modos de vida, e a dizer «não» ao avanço predatório das corporações mineiras – tanto estatais como privadas – tem sido posto em causa pela «busca de riquezas minerais e lucros».

«Ignoradas e abusadas pelos governos estaduais e nacional», estas comunidades têm procurado travar o avanço das indústrias extractivas sobre as suas terras realizando protestos, marchas e concentrações, por vezes sentando-se à frente dos bulldozers – e são as mulheres que têm estado na linha da frente da resistência.

Detenções, intimidação, ataques com ácido, abusos sexuais, execuções

No entanto, refere o relatório, o preço que estão a pagar pela defesa das suas terras é bastante elevado: acusações falsas, detenções, intimidação e difamação são algumas das formas de repressão que enfrentam.

As mulheres que defendem os direitos da sua comunidade face às empresas mineiras também correm o risco de abusos sexuais e ataques com ácido – maioritariamente levados a cabo por elementos das forças de segurança, que assumem o papel de defensores dos interesses das corporações, acrescenta o documento, que destaca ainda a existência de «execuções extra-judiciais».

Hidme Markam, lutadora da comunidade Adivasi no estado de Chhattisgarh que foi alvo de perseguição e acosso policial ao longo do último ano / Survival International

«As mulheres Adivasi que se opõem ao poder do Estado e das corporações que procuram controlar as suas terras e recursos são punidas com crueldade. As forças de segurança, por exemplo, justificam o aperto dos seios das mulheres Adivasi dizendo que precisam de verificar se elas estão a produzir leite, alegando que as insurgentes raramente são mães», diz o relatório.

Como exemplos da violência específica de género que enfrentam, o texto refere acções de grande brutalidade, como o espancamento de mulheres grávidas, ataques com ácido e a «mutilação sexual das vítimas – antes e depois da morte».

Desde que Narendra Modi assumiu o poder, em 2014, registou-se um aumento de 190% no número de mulheres acusadas de sedição, afirma o documento. Na última década, 13 mil pessoas foram acusadas de sedição no país e, só em 2017-18, no estado de Jharkhand dez mil membros da comunidade Adivasi enfrentaram essa acusação – por terem erguido placas de pedra tradicionais à entrada das suas aldeias.

Hidme Markam é uma de várias mulheres que lutam pelos direitos da comunidade Adivasi e sofreram represálias. O seu testemunho é um de vários a que o relatório dá voz.

Lutadora no estado de Chhattisgarh, foi perseguida e acossada pela Polícia ao longo do último ano. Ao Survival International disse: «Os aldeãos que protestam contra a entrega destas terras, por parte governo, a corporações estão a ser presos. Perdemos a fé no governo, mas continuaremos a lutar para salvar as nossas terras sagradas e as nossas florestas.»

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Por seu lado, Ram Chandra Dome, membro do Comité Central do PCI(M), ex-deputado em Nova Déli e médico, exigiu uma investigação que apure cabalmente os factos, bem como a detenção dos executantes do assassinato e o castigo dos responsáveis – em linha com a nota emitida pelo partido.

Dome enalteceu a figura de Subhash Munda, sublinhando que, se tivesse sido apenas um mero comerciante de terras, não teria tido milhares de pessoas, vindas de toda a região, no seu cortejo fúnebre.

«Subhash Munda sempre se manifestou contra o saque ilegal de terras por parte da máfia das terras, para se apoderar dos territórios indígenas», afirmou o dirigente comunista, acrescentando: «Opôs-se a este saque com firmeza, em favor dos pobres e das comunidades adivasi [indígenas].»

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