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Escola de agroecologia do MST na Bahia comemora 10 anos com presenças de peso

Actividades políticas e culturais e a inauguração de novas estruturas vão marcar a festa do 10.º aniversário da Escola Egídio Brunetto, este fim-de-semana, no extremo Sul da Bahia.

Neste último decénio, a escola formou seis turmas de agroecologia, com três especializações em Educação do Campo e Agroecologia, e 90 turmas de alfabetização, com recurso ao método cubano «Sim, eu posso» 
CréditosCadu Souza / MST

Segundo revela o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), entre as presenças confirmadas no evento estão o ex-jogador de futebol Raí, o governador da Bahia, Jerônimo Rodrigues, e o ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira.

Os deputados federais Valmir Assunção e Nilto Tatto e as deputadas federais Fátima Nunes e Gleisi Hoffmann também confirmaram a sua participação nas comemorações.

Localizada no assentamento Jacy Rocha, no município do Prado (estado da Bahia), a Escola Popular de Agroecologia e Agrofloresta Egídio Brunetto nasceu há dez anos e, de acordo com o MST, tornou-se uma referência na formação técnica e política.

Ao longo dos anos, o espaço «tem trabalhado na experimentação de manejos produtivos e processos pedagógicos ao apresentar de maneira prática a viabilidade da construção de novas relações entre os seres humanos e a natureza, a partir da recuperação ambiental e da produção de alimentos saudáveis», refere o movimento no seu portal.

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MST: «A extrema-direita é fascista e se baseia na violência, discriminação e ódio»

João Pedro Stédile, coordenador nacional do MST, esteve em Sergipe e, em conversa com o Mangue Jornalismo, fez a defesa da reforma agrária, abordou projectos do movimento e a relação com o governo de Lula.

Stédile: «Nós temos moral para criticar o governo, porque nós ajudámos a elegê-lo» 
CréditosValter Campanato / Agência Brasil

A cumprir a agenda estabelecida pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em Aracaju, capital do estado de Sergipe (Nordeste do Brasil), João Pedro Stédile, economista e coordenador nacional do movimento, falou com a repórter Dijna Torres, do portal Mangue Jornalismo.

Mangue Jornalismo (MJ) – Recentemente o senhor deu uma declaração polémica sobre o Governo Lula, chamando lenta e covarde a questão das tratativas para a reforma agrária. Qual é a avaliação crítica que o MST faz do Governo Lula?

João Pedro Stédile (JPS) – Nós temos feito uma reflexão a nível geral, compreendemos a natureza do governo, que é um governo de uma frente que é muito ampla, mas o nosso papel é ser sempre zeladores dos interesses do povo. Então, naquilo que o governo fica lerdo, medroso, não toma iniciativa, é nossa obrigação criticar. Nós temos dito claramente para o governo Lula isso. O MST tem uma linha política de defender o governo Lula, mas temos que ter autonomia como parte da saúde dos próprios movimentos populares. E nós temos moral para criticar o governo, porque nós ajudámos a elegê-lo.

«Então, naquilo que o governo fica lerdo, medroso, não toma iniciativa, é nossa obrigação criticar. Nós temos dito claramente para o governo Lula isso.»

Todo o movimento popular tem que ter autonomia em relação ao governo, às igrejas e a nossa missão está no nosso DNA, a missão de qualquer movimento popular é a de organizar o povo para lutar, lutar pelos seus direitos, pelos seus interesses e nós vamos continuar com essa linha.

MJ – Como está a situação da reforma agrária no Brasil? Há a possibilidade de ela ser consolidada em breve ou é um processo histórico sem fim? O Incra [Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária] está realmente voltado para implementar a reforma agrária ou ainda está cheio de gente ligada ao governo Bolsonaro e ao Centrão, sectores que buscam criminalizar o MST?

JPS – Bom, a reforma agrária vem de um passivo muito grande, faz oito anos que está parada, desde o segundo mandato de Dilma. O MDA (Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar do Brasil), por exemplo, foi extinto no governo Temer. Agora eu vejo Lula reactivando o MDA e nesses seis meses está tentando limpar a casa no Incra. Vários superintendentes do Incra apoiaram a eleição de Lula no primeiro turno. O problema não é quem é ou será superintendente, o problema é que a casa tinha virado uma tapera velha, daí a lentidão, e que não há recurso, não há funcionário. Então, vai levar um tempo ainda para ajustar a máquina pública, para daí começar a aplicar as políticas de que o povo precisa, a reforma agrária é uma delas.

MJ – Muitas pessoas acusam e acreditam que o MST é contra o agronegócio. Afinal, o MST é contra o agronegócio?

JPS – É importante destacar que na agricultura há dois modelos do capital, um do agronegócio predador, que vai lá na natureza e tenta se apropriar dela para ganhar dinheiro, o agronegócio que usa muita tecnologia, que produz riqueza, mas só exporta commodities. Felizmente, o agronegócio está dividido, uma parte dele continua burro, não se dá conta que esse modelo de monocultor, do uso do agrotóxico não tem futuro, mas há uma parte do agronegócio que se dividiu, apoiou Lula.

«Felizmente, o agronegócio está dividido, uma parte dele continua burro, não se dá conta que esse modelo de monocultor, do uso do agrotóxico não tem futuro»

Então, nós temos diálogo com esse sector e nós esperamos que eles evoluam ainda mais para nos ajudar a pensar uma agricultura do futuro que produz alimentos saudáveis, que pare de usar agrotóxico e que respeite a natureza. É isso que acreditamos ser o melhor caminho para a agricultura.

MJ – Como o MST tem enfrentado a ofensiva de parte do Congresso Nacional que busca com a CPI [Comissão Parlamentar de Inquérito] e outras acções criminalizar o movimento? O senhor irá depor à CPI?

JPS – Eu irei depor, não tenho problema nenhum. Não cometi nenhum crime, tenho medo nenhum. Provavelmente na segunda quinzena de Agosto vão me chamar, ainda não deram a data. A CPI não é contra o MST, a CPI é contra o governo Lula, é contra a esquerda. Quando eles botaram lá no regimento, vamos convocar o MST, o João Pedro, eles botaram claramente que o João Pedro tinha que depor porque é de esquerda. O verdadeiro objetivo da CPI é atacar o governo, é criar constrangimentos para tentar impedir a reforma agrária, e, sobretudo, é para eles se defenderem porque os dois dirigentes da CPI, que é o tenente-coronel e Ricardo Salles, estão incriminados na CPI do 8 de Janeiro. A Abin [Agência Brasileira de Inteligência] revelou que os dois se envolveram no financiamento das delegações que foram a Brasília.

«O verdadeiro objetivo da CPI é atacar o governo, é criar constrangimentos para tentar impedir a reforma agrária»

Então, eles estão actuando de forma prévia, de tentar ter um palco aonde eles possam falar com a sua base e se proteger da outra porque, se não tivesse a CPI do MST, eles iam falar quando? Além disso, a gente sabe que o MST sempre foi um movimento criminalizado pelo Congresso e muitas esferas, não é uma novidade e seguiremos fazendo frente a isso.

MJ – Como o senhor avalia o avanço da extrema-direita em nosso país? O senhor acha que, com a vitória de Lula, o bolsonarismo foi enfraquecido?

JPS – Não gosto de usar essa expressão bolsonarismo, porque o bolsonarismo induziria a achar que é uma corrente de pensamento, uma doutrina. E a corrente de pensamento e doutrina na política é o fascismo, é o nazismo, que eles inclusive querem esconder. Então, a extrema-direita brasileira é fascista. Ela tem o centro da sua acção política baseada na violência, na discriminação, no ódio. Bolsonaro foi usado pela burguesia, ele é um pateta, ele não tem base social, nem tem dinheiro, nem tem capital. Parte dessa burguesia se aliou a Lula, então deixou ele a ver navios, mas na sociedade brasileira é óbvio que vai continuar, como sempre existiu. Agora, como tu combates isso? Eu acho que a maior tarefa do governo Lula e da esquerda não é ficar toda hora batendo boca com essa parcela que sempre existiu. A nossa tarefa é convencer os pobres trabalhadores que votaram em Bolsonaro que eles estavam errados.

«é preciso atrair de novo a classe trabalhadora para um projecto de país e um projecto de desenvolvimento, é o governo fazer políticas para tirar esses trabalhadores da pobreza»

E tu não convences pela retórica, é preciso atrair de novo a classe trabalhadora para um projecto de país e um projecto de desenvolvimento, é o governo fazer políticas para tirar esses trabalhadores da pobreza, é investir em política séria de geração de emprego, de geração de renda, uma política séria de universalização da educação, uma política séria que leve creche para as periferias, para que as mães possam deixar os filhos para trabalhar. O governo vai combater o fascismo se ele provar que é possível resolver esse problema. Aí, naturalmente, a classe trabalhadora vai se dar conta de quem é o governo deles.

MJ – Por fim, como é a relação do MST com Sergipe?

JPS – Nós estamos sempre debatendo a reforma agrária a nível nacional e Sergipe não é um caso isolado. Vocês têm aqui o deputado João Daniel (PT), que é fruto da luta pela reforma agrária daqui e está umbilicalmente vinculado a toda a luta de Sergipe. Então, nós estamos trabalhando para atender todos os estados. E aí começa, tem que resolver a questão dos assentamentos, que aqui são mais de mil famílias, nós temos que recuperar o PAA (Programa de Aquisição de Alimentos), e o recurso liberado foi muito pouco ainda, nós temos que recuperar o crédito de emergência, que nós estamos reivindicando, então, nós temos essas políticas, temos que lutar pela agro-indústria, e tudo o que acontecer no Brasil, também vai acontecer aqui.

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A construção da escola aconteceu num contexto de tensão entre dois modelos de desenvolvimento, numa região em que a monocultura de eucalipto tem contribuído para a degradação ambiental.

Neste último decénio, a escola popular formou seis turmas de agroecologia, com três especializações em Educação do Campo e Agroecologia, e 90 turmas de alfabetização, com recurso ao método cubano «Sim, eu posso». De acordo com o MST, mais de 2500 famílias foram beneficiadas com as experiências e processos de formação.

«Para celebrar essas conquistas, as festas serão marcadas por diversas actividades políticas e culturais, com o objectivo de fortalecer a Reforma Agrária Popular, a produção de alimentos saudáveis e a solidariedade ao Movimento Sem Terra, em um cenário onde está em andamento uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que tenta criminalizar o MST», lê-se na nota divulgada.

Nas festividades de dias 26 e 27, estarão também presentes familiares de Egídio Brunetto e Paulo Kageyama, que foram «figuras importantes para a construção da escola». Além disso, passarão pela festa representantes de universidades públicas, políticos do estado da Bahia, partidos de esquerda e artistas, indica o movimento.

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