As imagens brutais que todos os dias nos entram casa dentro, através dos canais televisivos, lembram-nos a situação vivida por milhões de pessoas, em diversas latitudes do planeta, vítimas de conflitos armados motivados por múltiplas causas e interesses.
Bloqueados pela indignação, face ao terror vivido pelas vítimas da barbárie, raramente nos apercebemos da atuação dos agentes de socorro, em plenos teatros de guerra, que, com o seu labor profissional e humanitário, procuram minimizar o sofrimento das populações, resultante dos efeitos das ações entre beligerantes.
Nos conflitos armados, os socorristas correm o risco de ser vítimas de tiroteios, explosões de engenhos, desabamentos, incêndios em edifícios, iminência de queda de destroços e outras consequências das ações bélicas. Porém, eles avançam sempre para ajudar os feridos quando o reflexo mais natural seria fugirem, para se protegerem.
Os socorristas têm experiências ricas, no ponto de vista do salvamento de muitas vidas. Mas há momentos que precisam lidar com o desespero, quando – apesar dos seus esforços e de toda a sua competência – a vida que tentam salvar acaba por se perder.
Eles são bombeiros, médicos, enfermeiros e outro pessoal de múltiplas organizações de prestação de socorro. Apesar de correrem riscos de vida, eles estão lá para responder aos apelos – sempre dramáticos – das populações flageladas pelos conflitos.
Para além de técnicos com elevados padrões de intervenção operacional, os agentes de socorro em conflitos armados são uma vanguarda moral que minimiza a imoralidade da esmagadora maioria dos confrontos em que intervêm.
«Apesar de correrem riscos de vida, eles estão lá para responder aos apelos – sempre dramáticos – das populações flageladas pelos conflitos.»
Por meio de seu comprometimento, desprendimento e disposição para se expor a possíveis danos físicos e psicológicos, os socorristas revelam a sua humanidade no sentido completo do termo. Eles são credores de uma imensa dívida de gratidão para com eles – especialmente porque frequentemente desempenham suas tarefas sem qualquer valorização mediática ou reconhecimento público, dando assim mais sentido às suas vidas.
Seria um erro ver num socorrista nada mais do que um ator local nos dramáticos acontecimentos que se desdobram em torno dele, seja num conflito armado, numa manifestação violenta de rua ou numa tragédia natural. O significado da ação dos socorristas é universal. Todos os dias as suas ações criam laços que triunfam sobre as diferenças, o preconceito e a intolerância. Não vivem num universo maniqueísta no qual todos precisam tomar partido. Eles certamente têm suas próprias ideias, convicções políticas ou religiosas. Porém, conseguem transcendê-las para servir o bem supremo de preservação da vida humana.
Recentemente, no âmbito do trabalho de pesquisa e investigação que estou a desenvolver, tive oportunidade de ler alguns relatórios das missões de muitas equipas de socorro deslocadas para estes verdadeiros infernos. Presto a minha admiração pela sua coragem e profissionalismo.
Apesar do silêncio a que a sua missão é remetida, tanto pelos meios de comunicação como pelos atores em conflito, a missão dos agentes de socorro, que neles intervêm, são afinal os mais genuínos combatentes na batalha pela defesa dos maltratados Direitos Humanos.
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