Ao intervir na segunda e última jornada do XXVI Congresso Hispano-americano de Imprensa, inaugurado sexta-feira na sede da Organização das Nações Unidas, em Nova Iorque, Luisa María González afirmou que «o mundo necessita de um jornalismo sem vozes dominantes, onde todos possam ser ouvidos».
Neste sentido, a jornalista cubana, ao fazer uma apresentação sobre a ética no trabalho jornalístico, considerou essencial a igualdade de condições e o equilíbrio no cenário mediático e mundial.
Segundo refere a agência de que é vice-presidente, González alertou para «um panorama complexo para a imprensa e os seus públicos, que enfrentam uma verdadeira avalanche de informação».
Como resultado disto, «torna-se cada vez mais difícil identificar o que é verdadeiramente relevante, ao mesmo tempo que se deterioram a qualidade e os padrões de leitura ou consumo, que privilegiam a rapidez e o superficial face à análise pausada, à interpretação e à reflexão», acrescentou.
Quando passam 60 anos sobre o primeiro despacho com a sigla PL, lembra-se os entraves do imperialismo ao trabalho da agência cubana, que nasceu ao «serviço da verdade» e não dos monopólios dos opressores. Surgida em 1959 como «reflexo» da Revolução cubana triunfante, a Agência Informativa Latino-americana Prensa Latina nasceu para divulgar uma visão que «punha em causa a hegemonia dos monopólios mediáticos» de então, aspecto em que mantém hoje a sua vigência, disse Enrique Amestoy, investigador uruguaio e assessor na área de Tecnologia da Informação e Comunicação, em declarações à Prensa Latina no seu escritório em Montevideu. «A "ideia de Fidel e do Che" de que era necessário dar luta às campanhas de confusão dos inimigos dos movimentos progressistas na América Latina» foi destacada por Amestoy, que atribuiu o epíteto de «enormes» aos que integraram a primeira equipa editorial da Prensa Latina, como o colombiano Gabriel García Márquez, o uruguaio Carlos María Gutiérrez e o argentino Rodolfo Walsh (desaparecido durante a ditadura militar na Argentina). O investigador uruguaio evocou também a figura do primeiro director-geral da agência, Jorge Masetti, que «destacava o carácter radical, libertador, independentista, latino-americanista, humanista, unitário e anti-imperialista da Prensa Latina», e ia mais além, «fazer a revolução no jornalismo da América Latina» fazendo uso do instrumento recém-criado. Enrique Amestoy destacou ainda o «trabalho incansável» que a Prensa Latina mantém «em condições totalmente desiguais face ao domínio de velhos e novos oligopólios», num contexto que «actualmente é ainda mais complexo», pois os donos das novas tecnologias, das redes sociais, dos sistemas operativos, dos algoritmos da Inteligência Artificial «escondem a informação». No segundo de dois artigos dedicados à fundação da agência cubana, o mexicano Teodoro Rentería, escritor e presidente do Colégio Nacional de Licenciados em Jornalismo, destaca o dinamismo da Prensa Latina, dando como exemplo disso o facto de que, três meses após a sua criação, já tinha 18 escritórios espalhadoes pela América Latina. Depois de no primeiro artigo, publicado na coluna «Comentario a tiempo», se ter centrado na figura de Jorge Masetti, no segundo Rentería destaca as características da Prensa Latina por oposição às «agências imperialistas», que se disseminaram pelo mundo «para que cada império pudesse esconder aos povos que oprimia as notícias que mais lhes interessavam». Lembrando palavras de Masetti, o autor mexicano recorda que o imperialismo recorreu a todos os meios para perseguir os correspondentes da Prensa Latina, para que as suas equipas não passassem nas alfândegas. «Acusam-nos de ser uma agência de agitadores», disse então Masetti. «E logicamente que para eles o somos. Porque não escondemos a pressão sobre os operários bananeiros da Costa Rica, nem os ataques da United Fruit, nem as concessões petrolíferas ao imperialismo. Para eles somos agitadores porque dizemos a verdade que faz perder o sono». «Nós somos objectivos, mas não imparciais. Consideramos que é uma cobardia ser imparcial, porque não se pode ser imparcial entre o bem e o mal. Chamam-nos agitadores, mas isso não nos assusta», disse o primeiro director-geral da agência. As agências yankees e os círculos mais reaccionários norte-americanos deram um mês de vida à Prensa Latina, como lembrou um dos seus fundadores, Juan Marrero, falecido em 2016. Eles não concebiam uma agência feita ao «serviço da verdade» e não dos monopólios imperialistas. Masetti disse que a «Prensa Latina nasceu em Cuba porque em Cuba nasceu a Revolução da América Latina», assumindo a missão de fazer a revolução no jornalismo da região. Em 60 anos, teve de se renovar constantemente, por vezes em circunstâncias duras, mas sem abandonar os seus princípios. Teodoro Rentería diz que «tem séculos para viver». Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.Internacional|
«Prensa Latina nasceu em Cuba porque em Cuba nasceu a Revolução da América Latina»
EUA deram-lhe um mês, mas já lá vão 60 anos de trabalho
«Nós somos objectivos, mas não imparciais»
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Outros desafios apontados foram a proliferação de notícias falsas, noutros casos banais, ou a manipulação da realidade, por vezes em níveis caricaturescos.
Neste contexto, Luisa María González defendeu a aposta no reforço da formação dos repórteres com maiores competências técnicas e formação integral humanista.
O jornalismo deve recuperar valores e premissas que definiram a profissão desde o início
«Os jornalistas devem ter uma alta preparação em temas como história, filosofia, economia, política, literatura e arte, para serem sujeitos capazes de analisar a realidade que os rodeia, interpretá-la, identificar os conflitos e desafios das sociedades, para poderem assim realizar o seu trabalho com elevado profissionalismo», disse.
Para a vice-presidente de uma agência fundada em 1959, nos alvores da Revolução Cubana, com o compromisso de acompanhar as causas justas, é essencial promover o papel dos meios de comunicação social como funcionários públicos que devem contribuir para o progresso social.
«O jornalismo de hoje deve recuperar os valores e premissas que definiram a profissão desde os seus primeiros dias, e que por vezes parecem confundir-se nesta luta avassaladora por likes, o posicionamento e o lucro económico», frisou.
«A objectividade, a utilização adequada das diversas fontes de informação, a gestão pertinente dos dados, a adesão permanente aos códigos de ética e a existência de regulamentações sociais na área em questão devem continuar a ser os princípios básicos do exercício do jornalismo na contemporaneidade», acrescentou.
«65 Anos ao Serviço da Verdade»
Ainda no âmbito do Congresso Hispano-americano de Imprensa, que decorreu em Nova Iorque (EUA) a 31 de Maio e 1 de Junho, a Prensa Latina inaugurou ali a exposição fotográfica «65 Anos ao Serviço da Verdade».
A mostra inclui duas dezenas de fotos realizadas por repórteres da agência em mais de 30 países, nos seus 65 anos de existência, figurando personalidades destacadas da história e da cultura, como Jimmy Carter, Ernesto Che Guevara ou Gabriel García Márquez, e momentos como manifestações contra o massacre israelita na Faixa de Gaza ou contra o cerco imposto por Washington à Ilha.
Uma versão ampliada da exposição, com 65 fotografias, indica a fonte, será apresentada no próximo dia 6 de Junho na Embaixada da Nicarágua em Washington.
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