O acampamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) foi atacado por quatro homens encapuzados e armados no Município de Riacho de Santo Antônio, no estado da Paraíba.
Segundo revela o Brasil de Fato, o ataque à comunidade, onde vivem 56 famílias, ocorreu uma semana depois de estas se cadastrarem no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), dando início ao processo de assentamento, após quase nove anos de ocupação da área – desde 28 de Dezembro de 2015.
No ataque, sete casas foram incendiadas, três das quais ficaram completamente destruídas, e a «tragédia» só não teve maiores repercussões graças a uma cisterna que abastece o local e à pronta mobilização das pessoas.
Duas semanas volvidas, as famílias começaram a reconstruir os barracos de forma colectiva. «Reconstruir a casa e seguir em frente, né? Quem pensou que ia me destruir fez foi o bem pra mim», disse Gerlane Alves de Moura, acampada que perdeu tudo com o fogo.
«Buscamos força da terra mesmo. Buscamos essa força do MST, ficar e resistir. Quantas vezes for necessário a gente constrói. Uma, duas, dez vezes. A gente não desiste, não», afirmou Nagibe Jânio Pereira Silva, que vive ali desde o dia da ocupação.
Fazenda improdutiva
A Fazenda Canudos, com cerca de 3000 hectares e propriedade de Demosthenes Bezerra Barbosa, estava «improdutiva» e «abandonada» antes da ocupação, segundo o MST.
O Brasil de Fato percorreu a sede da propriedade juntamente com os agricultores e pôde verificar o estado de abandono do local.
Declarando que «o movimento é muito potente», Cíntia Milena Santos, da direcção estadual do MST na Paraíba, sublinhou a necessidade do seu fortalecimento, com o objectivo de «regularizar essa terra» e de lhe «dar um sentido produtivo», até porque a área não é pequena e «tem muita gente precisando de terra pra trabalhar».
O ataque às famílias está a ser investigado pela Polícia Civil de Queimadas e acompanhado pela Comissão Estadual de Prevenção à Violência no Campo e a Defensoria Pública, revela a fonte, acrescentando que a principal suspeita recai num funcionário da fazenda, que há pelo menos dois anos faz «duras ameaças» aos trabalhadores rurais e que, de acordo com o MST, estará a arrendar terras da zona ocupada pelos sem-terra aos fazendeiros da região para lá porem o gado.
Acelerar a resolução do conflito
As famílias mais afectadas pelo ataque, como a de Ivoneide Ferreira da Silva, estão ainda abrigadas numa escola do município. «Tudo que a gente tinha aqui veio do nosso trabalho aqui. Aquela geladeira eu tinha acabado de pagar a última prestação», disse a agricultora.
O Superintendente do Ministério do Desenvolvimento Agrário na Paraíba, Cícero Legal, visitou a comunidade no mesmo dia que o Brasil de Fato e prometeu acelerar a resolução do conflito e o assentamento das famílias.
«A gente vai sentar em Brasília para ver o que podemos fazer por vocês. Porque essa situação não pode continuar. O cara chegar aqui, queimar casas, prender as pessoas. Nós já estamos no século XXI», disse Legal ao dirigir-se aos moradores.
Reconstrução, solidariedade e colheita
Enquanto a investigação decorre, os assentados concentram-se na reconstrução de Canudos, com a campanha de solidariedade, lançada pelo MST dias após o ataque, a dar resultado.
Todos os dias, chegam ali alimentos não perecíveis, itens de higiene pessoal, produtos de limpeza, colchões e roupas. O movimento tem chamado a atenção para a necessidade mais urgente de utensílios domésticos e electrodomésticos.
Entretanto, as famílias retomaram o cultivo de milho, palma, feijão e jerimum. E continuam a criar gado bovino e caprino. «Vamos ficar até o fim. Até dizer "a terra é de vocês". Porque a gente tira o nosso sustento daqui, dessa terra», frisou o agricultor Nagibe Jânio Pereira Silva.
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