«E há os professores, os jovens alfabetizadores que se multiplicaram por todo o nosso país, pelas comunidades camponesas, pelas comarcas, pelos bairros, levando a luz do conhecimento», disse Daniel Ortega num acto celebrado em Manágua quinta-feira à noite.
Na ocasião, que serviu também para entregar mais uma frota de cem autocarros provenientes da China a cooperativas de transporte intermunicipal, o chefe de Estado afirmou que «o capitalismo imposto pelos ianques, tal como os governantes que eles impunham, o que fazia era dar tareia ao povo e não lhe dava algo fundamental como a educação», indica o portal el19digital.com.
«Por isso é que a primeira grande tarefa que assumimos com o triunfo da revolução foi a de alfabetizar, alfabetizar, alfabetizar», explicou, acrescentando que, dessa forma, se pretendia «arrancar a venda dos olhos de milhares de irmãos nicaraguenses que eram analfabetos».
Neste contexto, o dirigente sandinista recordou as acções levadas a cabo pelos contra-revolucionários pagos pelos EUA, entre as quais se conta o assassinato de vários professores
«Mas não conseguiram meter medo aos alfabetizadores, não se vieram embora a correr das montanhas, não fugiram, antes redobraram os seus esforços, visitando as casas dos camponeses, conhecendo a realidade das pessoas do campo», sublinhou Ortega, que se referiu à campanha de alfabetização na Nicarágua como a primeira grande vitória da Revolução Sandinista.
Cruzada Nacional de Alfabetização «Heróis e Mártires pela Libertação da Nicarágua»
Estudando experiências que haviam tido lugar em países como Cuba, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, entre outros, e consultando especialistas na matéria, a Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) começou a traçar a campanha de alfabetização logo 15 dias após o triunfo da revolução, em Julho de 1979.
Então, cerca de 100 mil jovens e adolescentes aderiram à iniciativa de ensinar a ler e a escrever a milhares de pessoas esquecidas pelo país fora. Um candeeiro Coleman (tipo Petromax) tornou-se um dos símbolos associados àqueles que andaram por montanhas e caminhos longínquos.
Em poucos meses, a campanha levou à redução do analfabetismo de 50,3% para 12,9% no país centro-americano; mais de 400 mil nicaraguenses aprenderam, então, a ler e a escrever.
Recuos com os governos de direita e novos avanços com os sandinistas
Quando a oficialmente designada Cruzada Nacional de Alfabetização «Heróis e Mártires pela Libertação da Nicarágua» chegou ao fim, a taxa de analfabetismo desceu de 50,35% para 12,96%. No entanto, durante os governos de direita (1990-2006), o analfabetismo voltou a aumentar no país, chegando aos 21 pontos percentuais.
Com o regresso da FSLN ao poder, em 2007, regressou à Nicarágua a determinação em acabar com o analfabetismo. Dois anos mais tarde, a taxa desceu para 3,56%, uma conquista que a Unesco reconheceu, declarando o país livre de analfabetismo.
Agradecimento(s) a Cuba
Nas celebrações oficiais, não costumam faltar agradecimentos ao povo de Cuba, em virtude do contributo dado à campanha de alfabetização no maior país da América Central – a Ilha participou nesse processo com profissionais da educação e na formação de pessoal qualificado para assumir a docência.
Na passada quarta-feira, a vice-presidente do país, Rosa Murillo, voltou a referir-se ao apoio de Cuba – que não se circunscreveu apenas à fase da cruzada, mas que continuou anos mais tarde com o programa de aprendizagem «Yo sí puedo» (Sim, eu posso).
De acordo com dados oficiais, entre 2002 e 2016, mais de dez milhões de pessoas em 30 países aprenderam a ler e a escrever com esta ferramenta de ensino, que permitiu a vários países do continente serem declarados livres de analfabetismo pela Unesco.
Pelos seus excelentes resultados, o programa recebeu o Prémio Unesco de Alfabetização 2006 Rei Sejong, que foi atribuído ao Instituto Pedagógico Latino-americano e das Caraíbas, com sede em Cuba.
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