Nos últimos sete anos foi possível alimentar esta ideia, com uma meteorologia muito favorável, com muita propaganda e, é justo reconhecer, com alguns resultados positivos no aperfeiçoamento do dispositivo de combate e na qualificação dos seus intervenientes.
Chegados a agosto e setembro de 2024, a realidade veio-nos dizer, primeiro na Madeira e depois em 69 municípios e 291 freguesias da região Norte e Centro do continente, que, afinal, o risco de incêndio florestal no nosso país é muito grande e, por consequência, as catástrofes por eles provocadas podem voltar a acontecer.
Embora as chamas tenham sido extintas, as cicatrizes que deixaram permanecem visíveis em cada casa, em cada parcela de floresta e, sobretudo, na memória daqueles que sofreram perdas avultadas.
Os incêndios causaram perdas incomensuráveis para muitas famílias. Muitas casas foram destruídas, parcial ou totalmente; viaturas ficaram irremediavelmente danificadas; equipamentos agrícolas, fundamentais para o sustento de tantas famílias, foram consumidos pelas chamas. Mais importante do que tudo isto, perderam-se nove vidas, entre as quais a de quatro bombeiros.
Essas perdas não podem ser avaliadas apenas em termos materiais. Para além das vidas que se perderam, cada casa e cada terreno destruído representam anos de trabalho árduo, esforço e sacrifício. Ver desaparecer em poucas horas o que se construiu ao longo de uma vida é um golpe muito duro.
Em aceleração, o Governo desdobra-se em anúncios, promessas de desburocratizar processos e de não deixar ninguém sem apoio.
Não é novo este discurso. Já o ouvimos em anteriores governos. Entretanto, apurados os factos, tem ficado sempre alguém à espera de que o apoio chegue, sem que tal se concretize.
Chegados aqui, este volta a ser o momento para refletirmos sobre os danos, partilharmos as experiências vividas no terreno e, acima de tudo, irmos às causas.
«O caminho está identificado. Falta apenas vontade política para o percorrer, priorizando medidas que alterem o estado de anarquia territorial que caracteriza a geografia de uma significativa parte do país, do qual o abandono, despovoamento e consequente desertificação é, apenas, o dramático espelho de um Portugal capturado pela incompetência de sucessivos governos (...).»
Medidas de curto prazo, como a limpeza da vegetação junto às habitações e aglomerados populacionais retardam o avanço das chamas, mas não resolvem os problemas estruturais. A dependência excessiva do eucalipto, especialmente em áreas abandonadas, agravou os riscos e tornou o território ainda mais vulnerável. Para romper com este círculo vicioso, o país precisa de práticas agroflorestais que promovam ecossistemas mais resilientes ao fogo.
Por outro lado, diversos estudos mostram que a prevenção é muito mais eficaz em termos de custo-benefício a longo prazo, poupando não só recursos, mas também vidas.
Uma nova floresta exige conhecimento científico e uma descentralização da autoridade, permitindo um desempenho mais participado no desenho e implementação de políticas. A mudança obriga a romper com muitos interesses.
O caminho está identificado. Falta apenas vontade política para o percorrer, priorizando medidas que alterem o estado de anarquia territorial que caracteriza a geografia de uma significativa parte do país, do qual o abandono, despovoamento e consequente desertificação é, apenas, o dramático espelho de um Portugal capturado pela incompetência de sucessivos governos, para os quais os riscos gerados por um modelo de desenvolvimento anacrónico, são emergências para resolver, em vez de preventivamente agirem na mitigação dos riscos que as originam.
Por tudo o que fica dito, impõe-se reclamar uma inequívoca rutura com opções políticas erradas que agravam todos os dias a essência das causas da sucessão de eventos geradores de consequências catastróficas, tanto para as pessoas e os territórios onde vivem e trabalham, como para a economia e o ambiente.
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