Na habitual conferência de imprensa matinal na Cidade do México, Claudia Sheinbaum frisou que o seu país é «livre, independente e soberano», tendo ainda afirmado, de forma reiterada, que existe «coordenação e vai continuar a haver» em várias áreas com os Estados Unidos, mas que não haverá «subordinação».
Com o governo dos Estados Unidos, «coordenamo-nos, trabalhamos juntos, mas não há subordinação», insistiu, citada por La Jornada. «Partilhamos famílias, cultura, comércio e também problemas, coordenamo-nos para os resolver», acrescentou.
Em resposta a uma questão sobre a nota diplomática enviada no dia anterior pela Secretaria dos Negócios Estrangeiros à Embaixada dos EUA, em virtude das declarações proferidas pelo chefe desta missão, a presidente do México disse que entre ambos os países existe «uma relação de iguais».
Na quarta-feira, Ken Salazar, embaixador norte-americano na Cidade do México, disse que a estratégia do ex-presidente Andrés Manuel López Obrador (2018-2024), assente no princípio de «Abrazos y no balazos» [abraços e não balas], não funcionou, acusando ainda o governo mexicano de ter fechado as portas à cooperação bilateral em matéria de segurança.
No mesmo dia, a diplomacia do país azteca fez chegar à Embaixada um documento em que manifesta a sua «estranheza perante as mensagens emitidas pelo actual embaixador dos EUA no país».
Na primeira conferência de imprensa após a eleição de Donald Trump para a Casa Branca, Salazar fez ainda várias «sugestões» a Claudia Sheinbaum relativas à política de segurança, de que, em seu entender, o povo mexicano carece.
Segurança e defesa da soberania
Em Agosto último, o então presidente mexicano decretou uma pausa nas relações bilaterais com os Estados Unidos e o Canadá, na sequência de comentários relativos à reforma do poder judicial no país considerados desrespeitosos pela parte mexicana.
O governo liderado por Claudia Sheinbaum está a dar sequência à estratégia nacional de segurança promovida pelo executivo de López Obrador, centrando-se nas causas estruturais da violência.
Essa foi uma das batalhas centrais travadas por Obrador: implementar políticas de segurança tendo em perspectiva as causas profundas do crime, como a pobreza, a desigualdade ou a falta de oportunidades.
Ver um cisco no olho alheio...
Quando políticos e media norte-americanos apontaram as baterias para o México por questões de segurança, Obrador vincou a ideia de que o seu governo jamais deixaria que qualquer governo estrangeiro tentasse intervir em questões internas, que apenas dizem respeito ao povo mexicano, como é a da segurança.
Uma dessas figuras foi o congressista Dan Crenshaw, que ligou as mortes por fentanilo nos EUA ao México, e a quem Obrador respondeu que não cabia ao seu país controlar a droga nos Estados Unidos. «Não têm redes? Não têm cartéis? Quem vende a droga? Isso têm de ser as autoridades norte-americanas a resolver», disse em Março de 2023.
Nessa mesma ocasião López Obrador denunciou que «80% das armas de elevada potência que os grupos de delinquentes utilizam no México são adquiridas nos EUA e não há controlo».
«Há até senadores que recebem dinheiro para as suas campanhas das fábricas de armamento», afirmou, acrescentando que há quem veja «o cisco no olho alheio e não veja a trave no próprio».
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