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Organizações sociais e sindicais em defesa da soberania do Panamá

Com o lema «Uma só bandeira, um só país», diversas organizações manifestaram-se no país centro-americano contra a ameaça à sua soberania por parte dos Estados Unidos e a presença de Rubio.

Protesto contra a presença do «mensageiro de Trump» no Panamá e pela defesa da soberania Créditos / PL

As acções de protesto na Cidade do Panamá contra a presença de Marco Rubio, secretário de Estado norte-americano, foram subindo de tom à medida que se souberam mais detalhes da reunião que manteve com o presidente panamenho, José Raúl Mulino, em que o primeiro manteve as pretensões afirmadas pela Casa Branca de retomar o controlo do Canal do Panamá, alegando a «influência» da China.

Reinaldo Rivera, ex-ministro do Trabalho e ex-embaixador em Cuba, foi um dos participantes nas mobilizações que tiveram lugar na Praça 5 de Maio, com a presença de unidades anti-distúrbios.

Segundo refere a Prensa Latina, Rivera criticou a vinda ao seu país de Rubio, ex-senador da Florida, conhecido como um dos «falcões» na política externa e um dos representante dos sectores ultra-conservadores do Partido Republicano, por vir aqui «dizer o que fazer».

Por seu lado, Saúl Méndez, secretário-geral do Sindicato Único Nacional dos Trabalhadores da Indústria da Construção e Similares (Suntracs), manifestou repúdio pelas declarações de Mulino logo após o encontro com Rubio.

«Rubio lançou um ultimato e veio declarar guerra ao Panamá», disse, sublinhando que os «verdadeiros patriotas devem estar mais unidos que nunca».

Reunião de Rubio com Mulino

O máximo representante da diplomacia norte-americana concluiu esta segunda-feira a sua agenda no Panamá com a supervisão de um voo charter para deportar migrantes colombianos com destino a Medellín – outro dos temas-chave no encontro com Mulino.

Os EUA querem garantir a «colaboração» do Panamá nesta matéria e esta parece ter ficado patente, com o ministro panamenho da Segurança, Frank Ábrego, e o dos Negócios Estrangeiros, Javier Martínez-Acha, a acompanharem Rubio na missão de verificação do voo charter com 43 migrantes colombianos.

No dia anterior, num encontro de duas horas, Marco Rubio transmitiu ao presidente Raúl Mulino as preocupações de Trump relativamente a uma alegada influência e controlo do Partido Comunista da China «na zona» do Canal do Panamá, tendo referido que esta situação constitui uma ameaça ao canal e uma violação do Tratado de Neutralidade.

Marco Rubio, secretário de Estado norte-americano, esta segunda-feira, na Cidade do Panamá / PL

Em comunicado, o Departamento de Estado dos EUA afirmou que, «se não houver alterações imediatas, os Estados Unidos tomarão as medidas necessárias para proteger os seus direitos».

Já Mulino, refere a Prensa Latina, disse que o encontro foi «altamente respeitoso e cordial», tendo descartado qualquer «ameaça real» de intervenção militar norte-americana no Canal.

Sem aludir às «alterações imediatas» exigidas por Washington, Mulino disse que «não há dúvidas de que o Canal é operado pelo nosso país e assim continuará a ser».

Em declarações à imprensa do seu país, Donald Trump voltou a reiterar as ameaças, afirmando que Estados Unidos vão recuperar o Canal.

Muitas críticas a Mulino e aos EUA

Neste contexto, as organizações populares panamenhas criticam o seu presidente, acusando-o de esclarecer pouco e de deixar mais dúvidas que certezas.

Além disso, criticam-no por querer agradar a Washington de várias formas, nomeadamente ao anunciar que não irá renovar o memorando de entendimento assinado em 2017 relativo ao projecto chinês da «Rota da Seda», e ao pedir a Rubio que «incentive» as empresas dos EUA a investir no Panamá.

Também alvo de críticas foi o facto de Mulino ter afirmado que colocou à disposição dos Estados Unidos a pista de aterragem de Nicanor, na selva de Darién, para lidar com a questão dos migrantes.

Embora Mulino tenha dito que esta medida não envolve presença militar norte-americana em Darién, o dirigente sindical Saúl Méndez afirma que se trata de um pretexto para que aviões de guerra norte-americanos aterrem no istmo «para atacar a povos irmãos da região».

Assim, organizações sindicais, sociais e estudantis panamenhas não pouparam o seu presidente e exigiram-lhe firmeza frente a Rubio, a quem chamaram o «mensageiro de Trump».

Do Panamá, o secretário de Estado norte-americano seguiu para El Salvador, no âmbito de um périplo que também inclui a Guatemala, Costa Rica e a República Dominicana.

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