Em declarações à agência Prensa Latina, Saúl Méndez, porta-voz da aliança Pueblo Unido por la Vida e secretário-geral do sindicato dos trabalhadores da construção (Suntracs), destacou que a soberania do Panamá e do canal se defende nas ruas.
«Trump e o seu delírio imperial não podem reclamar nem um só centímetro de terra no Panamá», disse, acrescentando que, «se, em 1903, a oligarquia vende-pátria entregou perpetuamente a construção da via inter-oceânica, a presença de tropas norte-americanas e terras adjacentes, o povo organizado nas ruas derramou o seu sangue generoso e recuperou o seu território e a sua dignidade».
Méndez deu como exemplo dessas lutas a gesta de 9 de Janeiro de 1964 – hoje feriado nacional e dia de luto no Panamá, em honra dos caídos pela defesa da soberania da Zona do Canal.
Trump sugere que EUA podem assumir o controlo do canal
O Canal do Panamá passou para a soberania do Panamá a 31 de Dezembro de 1999, ao abrigo do acordo Torrijos-Carter, de 1977. No sábado passado, o presidente eleito dos EUA criticou aquilo que designou como «taxas injustas» impostas aos navios norte-americanos que utilizam o canal e sugeriu que Washington poderia assumir o controlo da via navegável.
Donald Trump disse que, se o Panamá não garantir uma «operação segura, eficiente e fiável» da via, os EUA irão exigir a devolução do Canal do Panamá.
As autoridades do país centro-americano responderam de imediato, afirmando que a soberania do canal não é negociável.
Na segunda-feira, o actual presidente da República, Raúl Mulino, apresentou uma declaração também subscrita pelos ex-governantes Ernesto Pérez Balladares (1994-1999), Mireya Moscoso (1999-2004) e Martin Torrijos (2004-2009), na qual se sublinha que o canal «é parte da nossa história de luta e uma conquista irreversível».
Falsos «paladinos da independência e da soberania nacional»
Esta terça-feira, o dirigente sindical também se pronunciou sobre esta declaração, tendo afirmado sentir vergonha de «paladinos da independência e da soberania nacional» como Ernesto Pérez Balladares, que no seu governo procurou manter bases militares; de Mireya Moscoso, em cuja administração foram assinados os Tratados Salas-Becker com vista a ampliar a cooperação marítima contra o narcotráfico; ou Martin Torrijos, que re-militarizou a Polícia a mando de Washington.
«Exigimos que o governo genuflexo de José Raúl Mulino honre a Pátria e chame a embaixadora norte-americana Mari Carmen Aponte para consultas e lhe peça que preste contas pelas declarações do magnata republicano», insistiu Saúl Méndez.
Disse ainda que, «perante esta afronta, o Panamá se irá defender a nível internacional» e, nesse sentido, apelou à solidariedade dos povos do mundo.
ALBA-TCP refuta declarações de Donald Trump
Numa declaração emitida dia 24, os estados-membros da Aliança Bolivariana para os Povos da Nossa América – Tratado de Comércio com os Povos (ALBA-TCP) manifestaram o seu «mais enérgico repúdio» pelas declarações do presidente eleito dos Estados Unidos, em que ameaça assumir o controlo do Canal de Panamá.
A via navegável inter-oceânica é uma importante passagem comercial protegida pelo Direito Internacional, pelo Tratado Torrijos-Carter e pelo Tratado Relativo à Neutralidade Permanente e ao seu funcionamento, refere no texto o bloco de integração regional.
A ALBA sublinha que este, com carácter de lei inamovível, estabelece que «a via marítima é parte inalienável do território panamenho, pelo que esta pretensão [de Trump] representa um ataque à soberania» do Panamá.
«A Aliança Bolivariana rejeita categoricamente esta nova ameaça à região da América Latina e das Caraíbas e apoia a República do Panamá na defesa da sua soberania, integridade territorial e autodeterminação», lê-se também no comunicado.
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