A decisão foi tomada esta manhã pela Conferência de Presidentes do PE – em que participam o presidente da instituição e os líderes dos vários grupos políticos –, tendo a proposta de atribuição à oposição venezuelana do Prémio Sakharov para a Liberdade de Pensamento partido dos grupos do Partido Popular Europeu (PPE) e Liberal (ALDE).
O «prémio irá contribuir para a restauração da liberdade, da democracia, da paz, dos direitos humanos e do primado da lei na Venezuela», afirmou José Ignacio Salafranca, membro do Partido Popular espanhol e representante do PPE, que assim deu eco aos lamentos habituais da extrema-direita venezuelana e replicou um discurso de ingerência que se podia ouvir em Madrid, Bruxelas, Washington ou Miami.
Na apresentação da decisão, Antonio Tajani, presidente do PE, não foi original, afirmando que «a ditadura de Maduro roubou os cidadãos venezuelanos dos seus direitos fundamentais, tornando-se numa espiral de crises: económica, social, institucional e humanitária».
Tajani, figura conhecida pela hostilidade para com a Revolução Bolivariana, referia-se a um país que, desde o processo de transformação social, tem uma das mais elevadas taxas de escolarização e de educação universitária, e é um dos que mais investem em políticas sociais, nomeadamente ao nível da Saúde e da Habitação (1,8 milhões de casas foram entregues a famílias no âmbito do programa Gran Misión Vivienda).
Em Maio deste ano, o discurso de boas-vindas que proferiu na abertura da sessão solene da Assembleia Parlamentar Euro-Latino-Americana (EuroLat), em Florença, mereceu uma «Resposta à Agressão do Presidente do Parlamento Europeu, Sr. Antonio Tajani, à República Bolivariana da Venezuela».
No texto, subscrito por deputados da Esquerda Unitária Europeia/Esquerda Nórdica Verde e por deputados da Venezuela, Cuba, Bolívia, Nicarágua, Uruguai, Argentina e Honduras que integram a EuroLat, afirmava-se que Tajani «ofendera e agredira uma vez mais o governo e o povo venezuelano, com um discurso intervencionista e colonialista», acusando-o de seguir «o mesmo guião promovido pelo imperialismo que, aliado à direita internacional, gera uma escalada de violência na Venezuela destinada a justificar uma intervenção estrangeira e o derrube do governo democraticamente eleito do presidente Nicolás Maduro».
Ingerência nos assuntos internos da Venezuela
Ao solicitar a abertura de corredores humanitários «para levar ajuda à população» e apelar a um processo de «transição democrática na Venezuela», o discurso de Tajani sobre a atribuição do Prémio Sakharov 2017 à chamada «oposição democrática venezuelana» fez lembrar os de outras figuras políticas, do espectro europeu e americano, que abertamente se imiscuem nos assuntos da Venezuela e obviam o facto de neste país se terem realizado 22 actos eleitorais nos últimos 18 anos, sendo que os mais recentes – eleição da Assembleia Nacional Constituinte e dos governadores dos estados – constituíram uma legitimação popular importante do chavismo, com ou sem a participação da oposição.
A atribuição do prémio ocorre num momento em que se notam fissuras no seio da chamada Mesa da Unidade Democrática (MUD), com algumas das suas principais figuras a acatarem a derrota nas eleições regionais e a expressarem a vontade de diálogo com o governo de Nicolás Maduro. Outras rejeitam-no e já anunciaram a saída da MUD, como Henrique Capriles.
Com um valor de 50 mil euros, o prémio será entregue na sessão plenária de Dezembro. Na lista de visados pela «liberdade do pensamento» encontram-se Julio Borges, que tem corrido mundo a denegrir o seu país e é acusado pelo governo de Maduro de ter apoiado as sanções norte-americanas contra a Venezuela, como demonstram documentos dos seus assessores, de Agosto deste ano, em que se recomenda o bloqueio à petrolífera estatal venezuelana.
Leopoldo López, condenado a quase 14 anos de cadeia por incitamento à violência nos protestos contra Maduro que, em 2014, causaram mais de 40 vítimas mortais, e Antonio Ledezma, detido em Fevereiro de 2015, acusado de conspiração e de associação criminosa, são outros dois «presos políticos» destacados na lista de premiados pelo PE.
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