No final do ano de 2020, a ADSE já tinha acumulado cerca de 800 milhões de euros, «investidos em Títulos do Estado e em depósitos à ordem». Todo este dinheiro, que os beneficiários entregaram à ADSE, não pode «servir apenas para engrossar os lucros dos privados da saúde e as receitas no Orçamento do Estado», afirma o comunicado da Frente Comum/CGTP-IN, enviado ao AbrilAbril.
As novas tabelas de preços da ADSE, que incidem sobre o Regime Convencionado, entraram em vigor na quarta-feira. Luz Saúde e CUF lançaram uma campanha mediática contra o sistema comparticipado público de saúde. A Frente Comum dos Sindicatos da Administração Pública (CGTP-IN) considerou inaceitável, nos termos do comunicado enviado ao AbrilAbril, «qualquer aumento de pagamento directo por parte dos beneficiários». De facto, as alterações configuram, em parte, aumentos do valor pago pelos beneficiários em consultas e outros actos médicos. A título de exemplo, um beneficiário da ADSE teria de pagar 3,99 euros por uma consulta de Pediatria antes desta alteração, valor que aumenta agora para os 7 euros. Também o encargo da comparticipação da ADSE cresceu, dos 14,47 euros para os 28, aumentando exponencialmente o montante recebido pelos médicos. Para Francisco Braz, membro do Conselho Geral e de Supervisão da ADSE, é «inaceitável» o actual incumprimento dos prazos para pagamentos das despesas submetidas pelos beneficiários. Meses depois das ameaças lançadas pelos grupos privados da saúde, o Conselho Directivo (CD) da ADSE não deu mais nenhuma informação ao Conselho Geral e de Supervisão (CGS) sobre as regularizações relativas aos anos de 2015 e 2016, com valores apontados na ordem dos 38 milhões de euros. Em declarações ao AbrilAbril, Francisco Braz, membro do CGS, adianta que, entretanto, os valores de 2017 e 2018 já deviam estar avaliados e não se conhecem desenvolvimentos. «É previsível que os valores a devolver de 2017 e 2018 não fossem inferiores dos anos anteriores, o que quer dizer que estão aqui valores em cima da mesa que são inconcebíveis», disse. Só em 2015 e em 2016 foram facturados a mais 38 milhões de euros por hospitais e clínicas privadas, que se recusaram a ressarcir a ADSE, sendo que 81% deste valor diz respeito aos cinco maiores grupos privados de saúde (Luz Saúde, José de Mello Saúde, Lusíadas, Trofa e Grupo Hospital Particular do Algarve). O nível de dependência dos pagamentos da ADSE nos hospitais privados, motivou as alterações aprovadas pelo CGS do subsistema de saúde dos trabalhadores da Administração Pública, com uma redução da subsidiação aos grupos de saúde privados. Para o ano de 2019, e fruto das referidas ameaças, o CD acordou, à revelia dos pareceres do CGS, que, se estes grupos privados da saúde não abandonassem os acordos com a ADSE - nomeadamente a CUF, a Luz Saúde e os Lusíadas -, este seria um ano em que não haveria contabilização. «Sabem que podem facturar à vontade, que não haverá qualquer acerto», afirmou Francisco Braz. O CGS está agora a avaliar não só se esta deliberação é legal, como se o CD pode tomar uma decisão deste tipo. Em relação à actualização das tabelas de preços, Francisco Braz disse ainda que se está a assistir a uma operação «obscura», uma vez que o CD não fornece informação ao CGS e, ao que consta, já terá feito chegar uma proposta a um conjunto de grupos privados da saúde, com o agravamento de ter dado prioridade ao relacionamento com os três grupos que ameaçaram suspender as relações. «Tememos que, dada a governamentalização que está a acontecer com a ADSE, este processo não passe de uma troca de favores com estes grupos», alertou, insistindo na ideia de que não há detalhes desta actualização em curso e que o CGS tem mantido a exigência de ser informado, uma vez que tem o direito de conhecer os conteúdos antes de ser tomada qualquer decisão. O receio, sublinha, é que estas novas tabelas venham a prejudicar os beneficiários. Uma vez que o programa do PS para as eleições legislativas de Outubro não refere uma posição sobre o futuro da ADSE, Francisco Braz deixou a preocupação de que se estejam a planear soluções que passam pela mutualização ou, ainda, como defendeu o actual secretário de Estado da Saúde, Francisco Ramos, que seja criado um novo imposto para a saúde para sustentar os grupos privados, mascarando a ideia da busca da igualdade entre trabalhadores do privado e do público, por se criar para todos os portugueses um seguro nacional de saúde. Por outro lado, referiu que o não alargamento das convenções da ADSE, nomeadamente aos grupos de saúde de cariz social, contribui para a concentração das suas relações com os grupos económicos de grande peso do sector. Em conferência de imprensa realizada hoje, a Frente Comum dos Sindicatos da Administração Pública exigiu que o Governo ponha fim à excessiva governamentalização da ADSE, nomeadamente através das cativações e congelamentos orçamentais generalizados que a fragilizam e impedem o combate eficaz à fraude e sobrefacturação. Os trabalhadores dirigem-se também à direcção da ADSE para que conclua rapidamente a actualização das tabelas do regime convencionado e do regime livre, e para que diversifique as convenções, tendo em vista evitar a sua captura pelos grandes grupos privados de saúde e prover à cobertura do todo nacional. Pedem ainda que seja posta em prática uma política de auscultação permanente aos beneficiários sobre a qualidade dos serviços prestados pelos convencionados. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. A Frente Comum alerta também para apenas ter sido fornecida aos beneficiários do Instituto de Proteção e Assistência na Doença, a ADSE, «informação genérica sobre as alterações às tabelas, através de uma newsletter», ao final do dia 1 de Setembro. A este atraso é conferido um carácter mais grave «tendo todo o processo de negociação das novas tabelas sido feito sem o devido esclarecimento aos beneficiários, isto é, a quem, com as suas contribuições assegura a existência da ADSE». Não obstante a sua oposição às alterações que acrescem custos aos beneficiários, a Frente Comum «repudia veementemente as comunicações feitas por dois dos maiores grupos privados a operar na área da saúde, que informam da sua intenção de retirar de forma unilateral vários actos clínicos anunciando, ao mesmo tempo e também unilateralmente, novas tabelas para beneficiários da ADSE em regime livre». Eugénio Rosa, representante dos beneficiários no conselho directivo da ADSE, defende que a anunciada intenção dos grupos privados do sector da saúde de reduzir o número de serviços prestados ao abrigo da ADSE, não só é «falsa, como enganadora». A suspensão da convenção com a ADSE por parte da dona da CUF terá a ver com a «insustentabilidade» do negócio, os 38 milhões sobrefacturados ou será uma forma de pressão sobre a Lei de Bases da Saúde? A José de Mello Saúde formalizou esta segunda-feira a suspensão da convenção com o sistema de saúde dos funcionários da administração pública (ADSE) para prestação e cuidados de saúde aos seus beneficiários em toda a rede CUF, podendo evoluir para a denúncia definitiva da convenção. O grupo, que em 2017 registou lucros de 22,8 milhões de euros, advoga uma insustentabilidade gerada pelos prazos de pagamento e pela regra das regularizações – norma segundo a qual a ADSE pode pedir a devolução de verbas sobrefacturadas pelos prestadores privados. Só em 2015 e em 2016 foram facturados a mais 38 milhões de euros por hospitais e clínicas privadas, que agora se recusam a ressarcir o sistema de saúde dos funcionários públicos, sendo que 81% deste valor diz respeito aos cinco maiores grupos privados de saúde (Luz Saúde, José de Mello Saúde, Lusíadas, Trofa e Grupo Hospital Particular do Algarve). Entre os exemplos de discrepância encontrada nos preços praticados pelos prestadores privados há o caso gritante de, pela mesma prótese, o valor máximo variar entre 2282 e 31 141 euros, ou seja, uma diferença de quase 29 mil euros. Já no final de Dezembro, a Associação Portuguesa de Hospitalização Privada (APHP) ameaçava com a possibilidade de alguns prestadores abandonarem as convenções com a ADSE, após esta ter reivindicado os 38 milhões de euros, com base num parecer da Procuradoria-Geral da República. A APHP ainda tentou travar as regularizações através de uma providência cautelar e de um recurso, que acabariam por ser recusados pelo tribunal. 40% Os privados absorvem cerca de 40% do orçamento do SNS, considerando por exemplo os subsistemas de saúde, as convenções e as parcerias público-privado (PPP) A tomada de decisão, numa altura em que se discute a Lei de Bases da Saúde e o carácter supletivo dos privados, parece querer levar pressão ao Parlamento, perante o risco de se perderem os cerca de 1800 milhões de euros que os grandes grupos vão buscar anualmente ao Serviço Nacional de Saúde (SNS). Uma nota interna da José de Mello Saúde, um dos que mais lucram com o financiamento do Estado, em particular da ADSE, revela que a suspensão «poderá evoluir para a denúncia definitiva da convenção», a 1 de Março, caso não sejam encontradas «soluções equilibradas e que defendam os superiores interesses dos beneficiários da ADSE». Entretanto, o sistema de saúde já anunciou que acautelará todas as situações de beneficiários que se encontram em tratamento ou com actos já agendados nestes prestadores. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. De acordo com a propaganda divulgada pelos grupos privados e pela associação representativa do sector, a ADSE tornou-se, em vários aspectos, incomportável para o negócio da saúde. Esta postura é particularmente caricata, atendendo ao facto de que a nova tabela própria do grupo Luz, que «inclui apenas 14 actos médicos», ter sido anunciada ao mesmo tempo que a empresa pede, subrepticiamente, a inclusão na ADSE de mais «6770 actos médicos». Também a CUF já pediu, ao abrigo da nova tabela, a associação de «4980 actos médicos», continuando este grupo privado a insistir com a ADSE para que esta «assine a convenção com a CUF Tejo». «Este comportamento de alguns prestadores é inaceitável e tem claramente dois objectivos. Manter as elevadas margens de lucro e forçar os médicos a recusar aderir a convenções da ADSE com a aliciante de que depois facturariam em Regime Livre muito mais, o que é uma ilusão, porque isso não acontecerá», afirma Eugénio Rosa. A nova tabela limita as margens de lucro obscenas que estes grupos podiam facturar, livremente, à ADSE. No caso específico das cirurgias, «os únicos preços máximos fixados que constavam das tabelas eram os honorários dos médicos (equipa cirúrgica e anestesia), tudo o resto (consumíveis, medicamentos e próteses), os prestadores eram livres para facturarem o que quisessem», suportado sempre com dinheiro descontado aos trabalhadores e aposentados da Função Pública. Era prática comum, entre estas empresas do sector da saúde, facturar três a cinco vezes mais do que o valor referenciado para o acto médico correspondente. Entre outros, num dos casos denunciado por Eugénio Rosa, um grande prestador de serviços cobrou 17.199,64 euros por uma operação cujo valor de referência é de apenas 3347 euros. «O governo não pode alhear-se deste processo de chantagem», considera a Frente Comum, tendo este «o dever de actuar com a firmeza necessária no cumprimento das convenções estabelecidas», assim como de «informar os seus beneficiários das alterações que agora entram em vigor, de forma ampla e clara». A Frente Comum assume, no comunicado, persistir no caminho de «exigência do reforço da ADSE, esclarecendo e envolvendo os trabalhadores da Administração Pública nesta luta que é de todos». Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. 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«Os trabalhadores e aposentados da Administração Pública descontam, 14 meses por ano, 3,5% dos seus salários e pensões, incluindo os subsídios de férias e de Natal». A receita dos descontos representam valores que garantem, hoje, a total sustentabilidade da ADSE, assim como permitem a redução das contribuições dos beneficiários.
Não só é possível, como absolutamente «necessário e justificável» que se avance para uma revisão do valor do desconto mensal e da sua aplicação somente a 12 meses no ano, «diminuindo os encargos dos trabalhadores e aposentados beneficiários da ADSE», defende a Frente Comum.
Certo é que a saúde financeira da ADSE contrasta com a «situação da generalidade dos salários e das pensões, que não sofreram actualização nos últimos anos, com excepção para os escalões de rendimento mais baixos».
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