|Federação Nacional dos Médicos (FNAM)

Médicos admitem fazer greve se o Governo não der respostas

A Federação Nacional dos Médicos (FNAM) decidiu endurecer a luta caso a tutela não aceite negociar a revisão das carreiras médicas e da tabela salarial. 

Créditos / sns.gov.pt

As duas condições são imprescindíveis para a atracção e manutenção dos médicos no Serviço Nacional de Saúde (SNS), defende a FNAM num comunicado. A estrutura informa que o seu Conselho Nacional reuniu-se no sábado, após analisar o protocolo negocial apresentado pelo Governo na reunião de 13 de Julho, tendo decidido endurecer a luta com vista a alcançar uma carreira médica revalorizada e o respeito pela especialização médica. 

Os médicos criticam a tutela por querer «negociar apenas medidas isoladas, como a criação de regimes de dedicação "plena" (cujos pormenores são ainda desconhecidos) e de trabalho em serviço de urgência, que não têm tradução concreta numa melhoria real das condições de trabalho, nem numa remuneração justa e digna».

A FNAM exige a inclusão da revisão dos Acordos Colectivos de Trabalho (ACT) no protocolo negocial, incluindo a revisão da grelha salarial associada à carreira médica e a dedicação exclusiva – para todos os que a requeiram, opcional e majorada. Simultaneamente, reivindica a revogação imediata das medidas previstas na Lei do Orçamento do Estado para 2022 que, refere-se na nota, apenas contribuem para a «progressiva precarização» da profissão médica e para a degradação dos cuidados prestados aos utentes do SNS.

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Médicos alertam para os riscos de descentralizar o SNS

A FNAM denuncia que, além de colocar em causa o acesso aos cuidados de saúde primários e impor um difícil peso financeiro aos municípios, a municipalização visa privatizar os serviços de saúde. 

Médicos defendem a diminuição de utentes por médico de família
Créditos / CelosOnline

A Comissão Executiva da Federação Nacional dos Médicos (FNAM) «rejeita frontalmente» o processo de desresponsabilização da Administração Central e do Ministério da Saúde de um conjunto de competências centrais para a prestação de cuidados de saúde primários. Num comunicado enviado ao AbrilAbril, esta terça-feira, a estrutura defende que isso implica «um risco real de perda de qualidade, tanto na definição de políticas de saúde transversais e consistentes, promovendo a desagregação das decisões em saúde, como na sua aplicação equitativa pela população portuguesa».

A universalidade e a equidade no acesso à saúde, previstas na Constituição da República, ficam ameaçadas, uma vez que, segundo a nota, os cidadãos ficam «reféns da capacidade política e técnica» dos municípios onde residem «para a negociação dos orçamentos necessários, para a concretização dos investimentos em instalações e equipamentos e respectiva manutenção, e da sua preparação na gestão dos recursos humanos indispensáveis para a efectivação do seu direito à saúde».

No entender da FNAM, a descentralização da saúde levará a situações de competição entre municípios, «ao invés da desejável colaboração entre entidade pública», e a «medidas populistas desgarradas», apenas com objectivos eleitoralistas, «fragmentando as políticas de saúde para ir ao encontro das conveniências e dos interesses locais».

«A própria negociação dos autos de transferência é já uma primeira confirmação das iniquidades do processo, com medidas que poderão variar acentuadamente de município para município», refere-se no comunicado.

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Ministra da Coesão chamada de urgência ao Parlamento

Numa altura em que aumenta a contestação dos municípios face ao processo de descentralização de competências, o PCP requereu a presença urgente da ministra Ana Abrunhosa na Assembleia da República.

CréditosJosé Sena Goulão / Agência Lusa

A realidade com que as autarquias estão confrontadas, de assumirem serviços públicos transferidos pela Administração Central sem os meios necessários para assegurar o seu funcionamento, levou a bancada parlamentar do PCP a requerer a audição da ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa, na Comissão de Administração Pública, Ordenamento do Território e Poder Local, com carácter de urgência. 

Os comunistas denunciam que, na área da educação, cuja competência passou para as autarquias em 1 de Abril, não foram considerados os montantes para a manutenção e requalificação das escolas, tal como não foram asseguradas as verbas necessárias ao cumprimento dos rácios de trabalhadores não docentes nas escolas. Foi transferido apenas «o montante equivalente aos trabalhadores em funções, mantendo-se a carência de trabalhadores», criticam no documento.

Alertam ainda para o facto de não terem sido assegurados os montantes relativos às despesas com a segurança e saúde no trabalho, designadamente com os seguros de acidentes de trabalho, bem como os montantes necessários ao transporte de crianças com necessidades especiais e com as refeições não têm correspondência com a realidade, apesar do acréscimo de cerca de 11 milhões de euros a transferir no âmbito das competências na área da educação. 

«No início desta discussão, o PCP alertou para a necessidade de se fundamentar estas opções e de se identificar os meios necessários para o exercício das competências», lê-se no requerimento que foi entregue esta quinta-feira, acrescentando que o Governo optou por não o fazer, impondo a «neutralidade orçamental», que «não permite a resolução de inúmeros problemas que estão identificados na Escola Pública», prejudicando estudantes e restante comunidade escolar.

Uma vez que o Governo transfere as responsabilidades para as autarquias, mas «não transfere os meios adequados ao plano e cabal exercício dessas competências, nem tão pouco promove a melhoria das condições do processo ensino-aprendizagem», os comunistas consideram que, em vez de um processo de descentralização, estamos perante a «desresponsabilização do Governo na garantia de direitos constitucionais e de transferência de encargos para as autarquias».

Mesmo entendimento tem o Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Administração Local e Regional (STAL/CGTP-IN), que em Abril alertou para o facto de uma boa parte das autarquias não estar preparada para lidar com um elevado número de novas competências, perspectivando-se um agravamento das desigualdades entre concelhos «ricos» e «pobres».  

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Por outro lado, denuncia-se a possibilidade de a descentralização conduzir à privatização dos cuidados de saúde primários, «há muito desejada pelos grupos económicos privados», através da concretização das unidades de saúde familiares modelo C, inicialmente com gestão partilhada pelas autarquias e no futuro exclusivamente privada. A confirmar-se, alertam os médicos, a equidade no acesso à saúde ficaria ainda mais em causa, «contribuindo para uma maior desresponsabilização da tutela» quanto à prestação de cuidados transversais e abrangentes à população.

Levantando a ponta do véu, a FNAM interroga-se sobre se a transferência dos assistentes operacionais, numa primeira fase, não poderá servir como «rampa de lançamento» para a futura transferência das demais carreiras (médicos, enfermeiros, secretários clínicos e técnicos superiores de saúde), como se verificou noutros países que já passaram por processos semelhantes. De modo a que, num futuro próximo, «estes profissionais venham a ser também transferidos para a esfera municipal ou mesmo privada».

A Federação entende que este processo, «de cariz profundamente ideológico», visa «confundir descentralização da Administração Pública com o verdadeiro desmembramento e pulverização» do Serviço Nacional de Saúde (SNS), criando uma enorme sobrecarga logística e financeira aos municípios. Neste sentido, compromete-se a desenvolver todos os esforços para «contrariar a desagregação do SNS, pugnando pela unidade, universalidade, equidade e qualidade nas políticas, serviços e profissionais de saúde em Portugal».

O processo de transferência de competências na área da saúde para as autarquias e entidades intermunicipais, concretizado pelo Decreto-Lei n.º 23/2019, determinava a transferência, até 31 de Março de 2022, de responsabilidades, no que diz respeito à construção, gestão, manutenção e conservação das infra-estruturas, serviços de apoio logístico e de uma parte dos recursos humanos (assistentes operacionais) nos cuidados de saúde primários.

Segundo dados de 26 de Abril, dos 201 municípios elegíveis, apenas 11% formalizaram a recepção de competências na área da saúde.

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Em causa, a contratação, a título excepcional, de médicos sem a especialidade de Medicina Geral e Familiar para exercerem actividade nos cuidados de saúde primários, a que se junta nova forma de pagamento  de trabalho suplementar em serviço de urgência. Segundo a FNAM, esta forma de pagamento de trabalho suplementar em serviço de urgência deixa de fora o trabalho em serviços equiparados e ultrapassa as 150 horas anuais previstas nos ACT.

Adicionalmente, a Federação critica o facto de ter sido anunciada a atribuição de prémios anuais aos gestores hospitalares e aprovado o novo Estatuto do SNS, «cujo conteúdo e regulamento também são desconhecidos». Somando-se a abertura de concursos, para médicos, «presididos por técnicos que não são médicos, em clara violação dos princípios enformadores (interpares) da carreira médica e de todos os normativos legais em vigor».

A estrutura reivindica ainda a anulação imediata do aviso para o concurso de médicos para a especialidade de anestesiologia (categorias de assistente, assistente graduado e assistente graduado sénior).

Caso estes requisitos não venham a ser satisfatoriamente contemplados na próxima reunião com as estruturas ministeriais, em 26 de Julho, o Conselho Nacional mandatou a sua Comissão Executiva para declarar greve dos médicos.

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