|refinaria de Sines

Transição energética não pode ser sinónimo de desindustrialização acelerada

Os trabalhadores da refinaria de Sines afirmam que a unidade tem futuro e rejeitam o encerramento prematuro de qualquer instalação estratégica sem que existam alternativas concretas e sustentáveis.

CréditosEstela Silva / Agência Lusa

No dia em que o colectivo Climáximo tem agendada uma acção para exigir o encerramento gradual da unidade, a Comissão Central de Trabalhadores (CCT) da Petrogal reitera a importância da aprovação imediata dos investimentos destinados à descarbonização até 2025, de acordo com o plano estratégico gizado pela administração da empresa, e convida o colectivo a juntar-se a esta reivindicação «para assegurar a transição energética, os postos de trabalho e o futuro do País».  

«Qualquer reivindicação que ponha à cabeça o encerramento de qualquer instalação industrial sem uma alternativa concreta», além de não servir o «esclarecimento da opinião pública», «desfavorece qualquer processo de transição energética sustentada, enquanto procedimento com um ponto de partida e de chegada, algo que não existe actualmente», lê-se num comunicado da CCT enviado ao AbrilAbril.

A estrutura chama ainda a atenção para a contradição de se reivindicar o encerramento da unidade, «sem alternativa a curto prazo», e ao mesmo tempo clamar pela defesa dos postos de trabalho.

Em termos de combate às alterações climáticas, a CCT alerta para a necessidade de se escolherem «causas que vão para lá do panfleto simplista e que muitas vezes pode beneficiar o infractor», isto é, os «interesses que se movem para que sejam os recursos públicos a pagar os lucros privados num cenário pintado de verde ou até arco-íris».

Os trabalhadores criticam igualmente o Governo por assumir a «transição energética» como um «processo de desindustrialização acelerado do País sem impacto líquido na redução global de emissões de CO2 para a atmosfera», mas com um «impacto brutal» na destruição de emprego, com dezenas de milhares de trabalhadores despedidos.

Não produzimos, mandamos vir

As emissões nacionais de carbono representam 0,15% do total mundial. A nível europeu, Portugal é o terceiro país com menos emissões per capita, o que, na opinião dos trabalhadores, «torna o ritmo demonstrado pelo Governo seguidista [de Bruxelas] de Costa e Matos Fernandes injustificado e desprovido de sentido a não ser para cumprir uma agenda oculta». A desconfiança surge com base em países como a Alemanha, que vai continuar a produzir electricidade a partir de carvão até 2036, e que há pouco mais de um ano inaugurou uma central termoeléctrica em Dortmund. 

Com o encerramento da refinaria em Matosinhos, verificou-se a necessidade de importar 40 mil toneladas de gasóleo, por insuficiência da produção em Sines. Nos últimos três meses o saldo importador de electricidade situa-se acima dos 22%, demonstrando um claro défice na autosuficiência da produção no País. Entretanto, perspectiva-se o encerramento da central termoeléctrica do Pego já no final deste mês. 

A Federação Intersindical das Indústrias Metalúrgicas, Químicas, Eléctricas, Farmacêutica, Celulose, Papel, Gráfica, Imprensa, Energia e Minas (Fiequimetal/CGTP-IN) alerta que a electricidade de que o País precisa, e que não se produz em Portugal, acaba por ser «gerada em Espanha (e França), em centrais a carvão que emitem o dióxido de carbono que o Governo diz querer reduzir». 

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