Os 51 trabalhadores da lavandaria WashClean Laundries, situada no parque empresarial da Quimiparque, no Barreiro, mantêm-se firmes em vigília na fábrica, primeiro à porta, agora dentro do refeitório, de forma a impedir a saída de equipamentos e maquinaria.
Após vários meses a receber os salários aos bochechos, os trabalhadores visam garantir agora que recebem os salários de Outubro e os subsídios de férias que estão em atraso. Após um largo período de silêncio, o patrão, em conjunto com outro sócio e o advogado, já comunicaram que vão declarar a insolvência.
Em declarações ao AbrilAbril, a trabalhadora Patrícia Gouveia, que ia fazer quatro anos na empresa, explicou que a vigília começou no dia 6 de Novembro, apesar da tentativa para retirar as máquinas só se ter realizado no dia seguinte.
«Soubemos no dia anterior [6 de Novembro] que foi pedida uma empilhadora a uma empresa vizinha para vir buscar máquinas a uma empresa que faliu aqui na Quimiparque. Não sabiamos se era a nossa mas ficamos cá por precaução. A tentativa decorreu de facto nesse dia [7 de Novembro] mas foi travada».
Desde então, os trabalhadores mantêm-se em vigília e têm participado em várias acções de protesto, como na manifestação nacional da CGTP-IN, além de acções próprias à porta da Segurança Social para exigirem a intervenção dos assistentes sociais. Uma marcha solidária está também marcada para este sábado, no Barreiro.
Até hoje, os trabalhadores têm recebido a solidariedade da população, que lhes tem deixado comida e bens, face à ausência de rendimentos que está a criar situações complicadas: «não há ordenados, não há dinheiro para pagar as rendas e as contas».
Entre as ajudas, o secretário-geral da CGTP-IN, Arménio Carlos, o deputado do PCP Bruno Dias e vários autarcas da região já foram ao local ter com os trabalhadores, disponibilizando-se para ajudar.
Patrícia Gouveia salientou ainda que o clima dentro da empresa já não era o melhor, com ataques e ameças verbais constantes, além de serem sujeitados a um ritmo de trabalho intenso: «Na altura tínhamos por volta de 33 a 36 hotéis. Num só dia eram lavadas, secadas e passadas várias toneladas de roupa».
«Desde que cá cheguei que isto já não funcionava como deve ser. Erámos tratados abaixo de cão e não nos pagavam as horas extraordinárias, davam apenas um valor simbólico de cem euros, independentemente se fizéssemos 16 ou 18 horas por dia. Quem não fazia as horas ia embora», afirmou.
Além disso, «quando fiz os seis meses fui pedir metade do meu subsídio de férias, que era já como funcionava. Só tínhamos os 15 dias». Questionada sobre o porquê de tal, Patrícia explicou que tal era justificado com o facto de não «haver pessoal nem dinheiro naquele momento», acrescentou.
Desde do início do Verão, os trabalhadores estiveram confrontados com a falta de pagamento pontual dos salários, recebendo apenas o salário após o dia 8 de cada mês e sem qualquer compensação pelos juros de atraso da habitação. Em Julho, a situação agrava-se com o gerente a abdicar e a «passar a bola» para o outro sócio que sabiam que existia mas que ninguém conhecia.
«Depois ele [o sócio] disse que tinha um cheque de 8 mil euros, mas que já sabia que o banco ia penhorar parte dele e o que restava apenas dava 150 euros a cada funcionário. Foi aí que entramos um bocado em pânico, porque não havia ordenados, não havia dinheiro para pagar as contas», relatou Patrícia.
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