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Armazéns britânicos da Amazon «destroem milhões de peças» todos os anos

Ano após ano, o gigante do comércio electrónico destrói milhões de itens não vendidos, muitos dos quais novos, nos seus armazéns do Reino Unido, segundo revelou uma investigação da ITV News.

Armazém da Amazon em Dunfermline (Fife, Escócia)
Créditos / theferret.scot

As filmagens secretas que a cadeia britânica realizou no armazém da Amazon em Dunfermline (Escócia) «mostram o nível do desperdício». De acordo com a ITV News, «Smart TV, computadores portáteis, drones, secadores de cabelo, auscultadores topo de gama», entre outros itens, encontravam-se em caixas com a indicação «destruir».

Numa semana em Abril, segundo um documento filtrado a partir do armazém na Escócia que a ITV refere, mais de 124 mil peças foram ali marcadas para «destruir». No mesmo período, 28 mil peças foram etiquetadas com «doar». O armazém em Dunfermline é uma de 24 instalações do género que a Amazon detém no Reino Unido.

«De sexta a sexta-feira, o nosso objectivo era destruir, em geral, 130 mil peças por semana»

A reportagem, conduzida pelo correspondente Richard Pallot e publicada na passada terça-feira, cita um antigo funcionário, que pediu anonimato: «De sexta a sexta-feira, o nosso objectivo era destruir, em geral, 130 mil peças por semana. Eu costumava suspirar. Não há lógica nem explicação para o que se destrói: torres de ventilação, aspiradores, computadores e iPad; num dia, 20 mil máscaras Covid ainda embrulhadas», disse.

«No total, 50% de todos os itens estão por abrir e ainda embrulhados em plástico. A outra metade são devoluções e em bom estado. Os funcionários tornaram-se insensíveis àquilo que lhes estão a pedir para fazer», sublinhou.

A ITV News afirma que é o modelo de negócio da Amazon que está por trás desta enorme quantidade de desperdício. «Muitos vendedores optam por colocar os seus produtos nos enormes armazéns da Amazon. Mas, quanto mais tempo os produtos continuam por vender, mais a empresa paga por os armazenar. Acaba por ser mais barato deitar os produtos fora, especialmente material proveniente do estrangeiro, do que continuar a armazená-lo.»

«Material que não foi sequer utilizado directamente da linha de produção para o caixote do lixo»

Sam Chetan Welsh, da organização Greenpeace, disse à ITV que «é uma quantidade inimaginável de desperdício desnecessário» e que é «simplesmente chocante ver uma empresa multilionária deitar fora material desta forma».

«Material que não foi sequer utilizado directamente da linha de produção para o caixote do lixo. Enquanto o modelo de negócio da Amazon se basear neste tipo cultura do desperdício, as coisas só vão piorar. O governo [britânico] tem de intervir e avançar com legislação imediatamente», acrescentou.

Numa entrevista antes de ter conhecimento da investigação, o patrão da Amazon no Reino Unido, John Boumphrey, disse à ITV News que a quantidade de material que a empresa destrói é «extremamente pequena».

De acordo com a actual legislação, aquilo que a Amazon faz não é ilegal. Numa resposta à investigação, e empresa disse que está «a trabalhar para o objectivo do desperdício zero» e que a sua «prioridade é revender, doar às organizações de caridade ou reciclar quaisquer produtos não vendidos».

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