O presidente brasileiro Jair Bolsonaro corroborou hoje, sexta-feira, as declarações do seu ministro da Economia, que ontem produzira um primeiro comentário de Brasília sobre a derrota de Mauricio Macri no plebiscito de domingo passado na Argentina.
O actual presidente argentino sofreu uma estrondosa derrota no ensaio geral para as eleições gerais a realizar a 27 de Outubro, ficando a mais de 15 pontos de Alberto Fernandéz, candidato peronista de centro-esquerda ostensivamente apoiado pela ex-presidente Cristina Kirchner, que se apresentou a sufrágio como seu número dois.
O ultraliberal economista Paulo Guedes, segundo o brasileiro Carta Capital, afirmara ontem que uma vitória da oposição de centro-esquerda na Argentina, nas eleições de Outubro próximo, conduzirá à saída do Brasil do Mercosul caso a nova governação «apresente resistência à abertura económica» daquele bloco, pretendida pelos EUA e apoiada pelo Brasil.
«Se vence o Macri, o Bolsonaro se dá bem com ele e os dois se dão bem com o Trump», declarou Paulo Guedes. Senão, «a gente sai fora do Mercosul e vamos embora», resumiu o ministro.
As declarações de Jair Bolsonaro vêm confirmar que as palavras do ministro da Economia não foram obra do momento mas concertadas com o presidente do Brasil. Segundo o Carta Capital, Bolsonaro não escondeu o seu «viés ideológico» contra Fernandéz, ao deixar o Palácio da Alvorada esta manhã: «O actual candidato que está à frente na Argentina, ele já esteve visitando o [ex-presidente] Lula, já falou que é uma injustiça ele estar preso, já falou que quer rever o Mercosul. Então o Paulo Guedes, perfeitamente afinado comigo, falou que se criar problema, o Brasil sai do Mercosul, e está avalizado».
Mauricio Macri vive «pesadelo»
O sonho, acalentado por Mauricio Macri, de vir a ser reeleito para um segundo mandato na presidência, nas eleições gerais que se realizarão em Outubro próximo na Argentina, «converteu-se num pesadelo», segundo o catalão El Periodico.
Nas eleições Primárias, Abertas, Simultâneas e Obrigatórias (PASO), realizadas no passado domingo, 11 de Agosto, o actual presidente da República não reuniu mais do que 32,1% dos votos e ficou a mais de 15 pontos do candidato peronista Alberto Fernández (42,7%), considerado de centro-esquerda pela imprensa argentina.
As PASO, uma originalidade do quadro constitucional argentino, «são uma espécie de ensaio geral para as eleições presidenciais previstas para 27 de Outubro», esclarece o El Periodico, fazendo notar que «se dá por adquirido que o resultado deste “simulacro” será igual ou muito parecido» ao que virá a ser expresso na próxima contenda eleitoral».
Tratou-se de uma «derrota histórica da direita», conclui aquele diário.
Alberto Fernández, que teve na segunda posição a ex-presidente Cristina Kirchner, afirmou, no seu discurso de vitória, ser necessário «acabar com o tempo das mentiras» e dar aos argentinos «um horizonte melhor para o futuro».
Os resultados oficiais das PASO de 2019 apontam para uma significativa rejeição da política neoliberal e austeritária de Macri, também caracterizada como subserviente dos interesses económicos dos EUA, do FMI e do grande capital.
Recorde-se que Paul Singer, um dos bilionários americanos que mais contribui para o partido Republicano e para Donald Trump, levou a Argentina à falência em 2014, numa criticada decisão judicial de um tribunal de Nova Iorque, vista por alguns comentadores como um meio de derrubar Kirchner e abrir as portas a Macri, ao mesmo tempo proporcionando milhares de milhões de dólares de lucro àquele que é designado no meio como «o investidor-abutre».
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