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Casa das Américas: 60 anos a afirmar a cultura latino-americana

Fundada poucos meses depois do triunfo da revolução em Cuba, esta instituição que potencia e revela a cultura das Américas anunciou um vasto programa para a celebração dos seus 60 anos.

A Casa das Américas, no Malecón de Havana
CréditosMatthias Gehricke / matthiasgehrickephoto.de

A instituição, fundada por Haydée Santamaría, heroína cubana do assalto ao Quartel Moncada, a 26 de Julho de 1953, e actualmente presidida pelo poeta e ensaísta Roberto Fernández Retamar, constituiu-se, ao longo destas seis décadas, como um marco na cultura do continente, sendo «a que mais fez para que se conhecessem» os seus escritores. E continua «vibrando, latindo, palpitando, vivendo e dando vida», segundo referiu o seu actual presidente.

Em declarações ao diário Granma, Fernández Retamar sublinhou que, nestes 60 anos de existência, a Casa atingiu «um nível apreciável não só a nível nacional, mas também internacionalmente». Sobre os novos desafios da instituição, o mais urgente é «conservar e, se possível, melhorar, as relações culturais com países do subcontinente que vivem uma situação política negativa», disse ainda o intelectual cubano.

Para assinalar esta data redonda, o centro cultural leva a cabo um intenso programa de actividades ao longo do ano, já anunciado. Segundo Retamar, trata-se de homenagear a data de nascimento de um património «que hoje torna mais fortes, mais maduros e, naturalmente, mais unidos os criadores, intelectuais e artistas da nossa América Latina».

Entre outras iniciativas previstas, contam-se os colóquios «La Diversidad Cultural en El Caribe», em Maio; «Negros en las ciudades coloniales de América: subversión, rebeldía y resiliencia», em Junho; «Sobre Latinos en los Estados Unidos», em Outubro; além da Semana de Autor, em Novembro.

Está prevista também a apresentação dos títulos Destino Haydée Santamaría – uma compilação de cartas de intelectuais latino-americanos e caribenhos dedicadas à criadora da sexagenária instituição cultural – e Casa de cuentos para niños, que recolhe relatos incluídos em obras premiadas na categoria de Literatura Infantil e Juvenil do Prémio Literário Casa das Américas.

Exposições, conferências e a presença da entidade em diversas feiras do livro irão completar o programa de actividades no primeiro semestre do ano, que teve um dos seus momentos mais significativos no concerto dado pelo cantautor Silvio Rodríguez no passado dia 26 na emblemática esquina da «calle tercera y G», no Vedado de Havana, onde se localiza a Casa que é considerada uma cunha do movimento estético-musical da Nova Trova.

Saber transformar-se sem trair os princípios

Num artigo ontem publicado no portal CubaDebate – «La Casa de nuestra América, cada vez más joven en sus 60 abriles» –, dá-se justo destaque aos «60 abris» da Casa, sublinhando o papel importante que teve, na sequência do triunfo revolucionário, na ligação de Cuba à intelectualidade dos países latino-americanos, num contexto político continental contrário a Cuba. «Perante a complexa situação, coube à Casa ser um dos baluartes para impedir o isolamento de Cuba na América Latina», afirma-se.


Outro aspecto importante destacado é a promoção e redescoberta de um «pensamento latino-americanista»: «A importância da Casa, e nisso estiveram de acordo todos os seus fundadores, foi criar uma instituição capaz de promover e redescobrir um pensamento latino-americanista.»

Num texto que aborda o historial da Casa das Américas, incluindo as épocas em que foi preciso saber resistir a «vendavais» contra-revolucionários, sublinha-se que, embora sujeita a naturais mudanças, a instituição manteve um princípio básico que é «a paixão pela América Latina».

Mais recentemente, a Casa passou a dar atenção a várias investigações relacionadas com os tempos mais actuais, como os Estudos da Mulher, Estudos sobre os Povos Originários e Afro-americanos, Latinos nos Estados Unidos.

«Parte do êxito da Casa é para todo o seu colectivo mover-se nessa dualidade. Continuar a ser fiel a um princípio básico e, ao mesmo tempo, estar a reinventar-se sem o trair», frisa o texto.

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