A demolição de shanties no Bairro de Dhaula Kuan (Sul de Déli), levada a cabo este sábado pelo Departamento das Obras Públicas, deixou centenas de pessoas sem local onde ficar – e muitas nem sequer tiveram a possibilidade de recuperar os seus pertences: ficaram sem nada.
Segundo revela o Newsclick, a revolta apoderou-se dos residentes, que, em desespero, viam as suas casas serem destruídas, e a Polícia reforçou a presença no local, para garantir a segurança.
Uma das questões principais levantadas pela população, pobre, tem a ver com as promessas que lhes foram feitas pela administração do estado. Segundo referem, os avisos e as ameaças de demolição foram-se repetindo ao longo do tempo, mas, num sinal contraditório, também receberam garantias das autoridades de que o Departamento das Obras Públicas não estava autorizado a avançar com as demolições.
Além disso, denunciam, durante a campanha eleitoral, tanto o Bharatiya Janata Party (BJP), que governa a nível central, como Aam Aadmi Party (AAP), que governa em Déli, garantiram aos residentes nos bairros de lata de Dhaula Kuan que, onde houvesse um shantie, haveria uma casa («Jahan Jhuggi Wahan Makan»).
Com base nessa campanha, o governo do estado de Déli chegou mesmo a atribuir certificados nos quais garantia aos cidadãos o direito a uma habitação decente. No entanto, as demolições ocorreram, este sábado, e as pessoas ficaram ao relento.
Neste sentido e tendo em conta a situação de desespero em que se encontra uma população pobre e vulnerável, o Newsclick tentou obter respostas do governo de Déli sobre as demolições, sem conseguir obtê-la.
Alguns testemunhos
Samintra, angustiada, falou dos problemas que ela e a sua família enfrentam. «Vivemos aqui há 20 anos. As nossas crianças não têm comida. Não nos deixaram trazer os nossos pertences ou preparar comida. Não temos sítio onde viver e estamos muito assustados», disse.
Hukum, outro residente de há muitos anos, relatou que a Polícia chegou ao local de noite e disse à população que o bairro de lata iria ser arrasado. «Os meus filhos, um com três e outro com treze anos, não têm para onde ir. Vamos voltar para a nossa terra. Como destruíram a casa às seis da manhã, ficámos sem comida», contou.
Um outro habitante no bairro, Ram Sati, mostrou-se desapontado. «As autoridades do Departamento das Obras Públicas prometeram-nos construir casas em vez de shanties, mas destruíram o sítio onde vivemos e despejam-nos, apesar de vivermos aqui há 30 anos. Exigimos ao governo que nos dê um sítio onde viver», afirmou.
Outra vítima dos despejos, Bharati Dewai, também mostrou revolta e tristeza. «Destruíram as nossas casas sem nos avisar com antecedência ou permitir que levássemos os nossos pertences. Só encontramos políticos nas campanhas eleitorais. Eles estão-se a borrifar para nós, nos seus gabinetes com ar condicionado. Proibiram-me de levar os meus pertences», insistiu.
Demolição em Tughlakabad
No início do mês, o governo indiano, em conjunto com a entidade responsável pela Arquelogia no país, levou a cabo a demolição de um bairro de lata em Tughlakabad, também no Sul de Déli, que afectou cerca de 20 mil pessoas.
Tughlakabad, uma zona pobre e de trabalhadores domésticos, da construção civil, da segurança, de vendedores de rua e empregados fabris, é adjacente a outros bairros, ricos, aos quais os pobres dos bairros de lata acedem para trabalhar mas onde não têm hipótese de viver, devido ao preço das casas.
Com as suas casas arrasadas, sem sítio onde viver e sem pertences, muitos encontraram refúgio debaixo de árvores ou em tendas improvisadas. Segundo refere o Newsclick, a situação destas pessoas tornou-se desesperada, porque estão a passar fome, não estão a conseguir levar os filhos à escola e temem pela sua segurança – no calor tórrido do Maio indiano.
Alguns habitantes, além de denunciarem a acção de uma administração que arrasa bairros sem colocar as pessoas em casas, também se referiram à falta de empatia geral. Ritu, de 35 anos, disse que uma ONG andava a distribuir comida a cães abandonados, «sem ver milhares de seres humanos de barriga vazia».
Alguns também mostraram preocupação pelo facto de terem ficado sem quaisquer documentos – estão debaixo do entulho.
Contactada pelo Newsclick, a Archaeological Survey of India (ASI) defendeu a acção do governo e sublinhou que as pessoas não podem residir em zonas arqueológicas.
No que respeita ao realojamento dos habitantes (quase 20 mil pessoas), a instituição disse que isso cabia ao Estado e «não comenta questões do Estado».
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