A Casa das Américas, em Havana, foi palco da apresentação, esta terça-feira, do volume publicado sob a chancela da editorial Ocean Sur, que «reflecte sobre factos enquadrados no contexto da Guerra Fria, quando o ódio em relação a tudo o que se relacionasse com o comunismo ganhava apoiantes na sociedade norte-americana», afirma a agência Prensa Latina.
O encontro – refere a fonte – constituiu um espaço para a denúncia, e a execução do casal nova-iorquino Ethel e Julius Rosenberg, há 70 anos, serviu como elemento de reflexão e de ligação ao perigo real do fascismo nas sociedades de hoje.
«O fascismo é uma das configurações ideológicas com que o capitalismo responde à crise e aos desafios das diversas fases de transformação», destacou o poeta e investigador José Ernesto Nováez.
Por seu lado, o sociólogo Jorge Hernández abordou o contexto que esteve na origem da execução do casal norte-americano, tendo recorrido a uma frase do teórico Carl von Clausewitz: a derrota começa quando se perde a decisão de lutar.
Hernández defendeu que este é o espírito de resistência com que devemos enfrentar a prática fascista que se torna um perigo real.
Outro elemento do painel de oradores, Abel Prieto, intelectual e presidente da Casa das Américas, destacou o trabalho da Ocean Sur ao recordar uma data tão importante, que lança «uma tremenda luz para o presente, dada a actualidade que possui».
Sublinhou ainda a importância da obra La era del conspiracionismo, do jornalista espanhol Ignacio Ramonet, que em seu entender reflecte o papel decisivo das redes sociais na criação de grupos violentos, «responsáveis por esse clima irrespirável que os cubanos sofrem».
Neste sentido, referiu-se às acções contra o duo Buena Fe no seu giro recente pelo Estado espanhol e à decisão de retirar à poeta Nancy Morejón a condição de presidente de honra do Mercado da Poesia, em França.
O casal Rosenberg, executado há 70 anos, na caça às bruxas do macarthismo
O casal Ethel e Julius Rosenberg foi executado na cadeira eléctrica, a 19 de Junho de 1953, na prisão de Sing Sing, tendo sido acusados de entregar informação que alegadamente possibilitou à União Soviética aceder ao «segredo» da bomba atómica.
O processo judicial foi bastante questionado a nível mundial e várias figuras – algumas nada ligadas à esquerda – pediram clemência para os condenados à morte.
Albert Einstein escreveu ao juiz do processo e ao presidente norte-americano, Truman, defendendo que não havia ficado provada a culpabilidade «além da dúvida razoável» e, no caso de ter existido fuga de informação científica, esta não era de natureza vital. Mas não obteve respostas.
O intelectual francês Jean-Paul Sartre, que classificou o processo judicial como um «linchamento legal», denunciou fortemente as execuções.
O julgamento passaria à história como uma injustiça – algo que foi comprovado por documentos desclassificados e por testemunhas nos anos 1990 – promovida no seio do obscurantismo macarthista, destinada a alimentar a caça às bruxas anticomunista nos Estados Unidos.
Além disso, como afirma Rui Namorado Rosa, «as realizações materiais da União Soviética, e concretamente o respectivo desenvolvimento da arma nuclear nesse clima de guerra fria, teriam de ser negadas pelo imperialismo norte-americano».
«Esse desenvolvimento teria de ser justificado pela acção de espiões ou traidores que haveriam transmitido à outra parte o "segredo" da bomba».
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