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Eleições legislativas na Colômbia

FARC vai defender implementação dos acordos de paz

Os representantes da Força Alternativa Revolucionária do Comum (FARC) no Congresso da Colômbia, eleito este domingo, vão centrar a sua acção «nas reformas ainda pendentes do processo de implementação dos acordos de paz».

Iván Márquez, membro do Conselho Político Nacional da FARC, no momento da votação, este domingo
Créditos / eltiempo.com

Num comunicado emitido ontem, a propósito das eleições legislativas realizadas na Colômbia no dia 11, o Conselho Político Nacional da FARC afirma que, através dos cinco representantes de que dispõe tanto no Senado como na Câmara de Representantes, irá apresentar projectos de lei que contribuam para melhorar as condições de vida das «grandes maiorias».

Agradecendo a todos os colombianos que, nas eleições parlamentares deste domingo, «acompanharam com o seu voto as [suas] propostas programáticas», a FARC pôs ainda a sua bancada à disposição para «contribuir para a formação de um bloco parlamentar de ampla convergência, que dê resposta às exigências do momento» na Colômbia.

O partido surgido das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia – Exército do Povo (FARC-EP) sublinha o facto de ter cumprido na íntegra os acordos de paz de Havana no que respeita à participação política, «apesar de ter tido de realizar uma campanha eleitoral no meio de imensas e muito variadas dificuldades, amplamente conhecidas».

Tendo em conta «o processo eleitoral e os resultados» das eleições para o Congresso da República, a FARC afirma que eles evidenciam a necessidade de proceder a «uma reforma político-eleitoral de carácter estrutural», tal como previsto no Acordo Final de Paz, com o objectivo de «ultrapassar práticas clientelistas e corruptas, e oferecer condições de equidade a todas as forças políticas que participam na contenda política, particularmente as organizações comprometidas com projectos políticos alternativos».

No essencial, os resultados eleitorais «não alteraram substancialmente a estrutura do Congresso da República», ocorrendo antes «uma redistribuição de deputados entre os partidos do sistema», defende a FARC, cuja direcção «regista um importante avanço na representação de sectores democráticos e de esquerda, particularmente no Senado».

Governo diz que o Congresso é favorável à paz

Em declarações à imprensa, o ministro colombiano do Interior, Guillermo Rivera, afirmou que o novo Congresso da República irá garantir a continuidade da implementação dos acordos de paz, considerando que, entre os 108 senadores e 172 deputados da Câmara de Representantes, há uma maioria favorável a esse projecto, indica a Prensa Latina.

As eleições deste domingo no país sul-americano, em que tinham direito a voto quase 36,5 milhões de eleitores, voltaram a ficar marcadas pela elevada abstenção, não tendo a participação passado dos 48,8%. Ficaram também marcadas pela denúncia de inúmeras irregularidades e fraude nos locais de voto, como a falta de boletins, a utilização de fotocópias em sua substituição e a compra de votos, segundo refere a TeleSur.

Ainda Uribe

Tanto no Senado como na Câmara, os partidos Centro Democrático (CD) e Cambio Radical (CR), que se opõem aos acordos firmados em Havana, viram a sua votação reforçada e obtiveram um número importante de eleitos. Álvaro Uribe (CD), que se destaca pela sua oposição à integração dos ex-guerrilheiros na vida pública colombiana, alimenta um discurso de ódio, é acusado de fomentar o paramilitarismo e foi porta-voz destacado na campanha do «não» no referendo realizado em 2016 para aprovar os acordos de paz, foi eleito para o Senado com 875 554 votos – de longe o candidato com maior votação.

Ainda assim, estes dois partidos estão longe de possuir maioria no Congresso – na Câmara dos Representantes o Partido Liberal foi o mais votado, obtendo 35 deputados – e, neste sentido, o governo colombiano defende que a balança pende para a defesa dos acordos de paz, incluindo no bloco favorável à reconciliação partidos de direita, da social-democracia e forças progressistas.

A FARC, com uma votação baixa, tem assegurados cinco representantes em cada uma das câmaras, tal como ficou estabelecido nos acordos de paz. Na quinta-feira passada, ao anunciar que retirava a sua candidatura à presidência da República, em função dos problemas de saúde de Rodrigo Lodoño, o Conselho Político Nacional denunciou as ameaças e condicionamentos a que o partido foi submetido no decorrer da campanha eleitoral e desde a assinatura dos acordos de paz, referindo, nomeadamente, que mais de 50 ex-guerrilheiros e familiares seus foram mortos.

Este domingo, em paralelo com as eleições, realizaram-se consultas para determinar os candidatos às eleições presidenciais marcadas para 27 de Maio. À direita, na «Grande Consulta pela Colômbia», Iván Duque – o escolhido de Álvaro Uribe – foi o mais votado. Na «Consulta Inclusão Social pela Paz», à esquerda, foi eleito Gustavo Petro, ex-autarca de Bogotá e ex-senador pelo Polo Democrático Alternativo.

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