Largas dezenas de milhar de manifestantes concentraram-se em Paris, às 12h de sábado, 5 de Maio, e percorreram o trajecto entre a Praça da Ópera e a Praça da Bastilha, celebrando o primeiro aniversário no poder de Emmanuel Macron com um vigoroso protesto contra a política anti-popular do presidente francês.
A direita francesa, o governo e os meios de comunicação ao seu dispor manifestaram a sua preocupação com esta manifestação através da sucessiva pronúncia contra a mesma dos ministros Darmanin, Collomb, Édouard Philippe e do próprio Macron, apesar de estar fora do país. «O governo acusa os Insubmissos, que organizam uma manifestação a 5 de maio, de não aceitar a democracia e arriscarem a violência», destacava a 3 de Maio o Le Point, reproduzindo parcialmente um dos cartazes de agitação para a manif, contendo a palavra de ordem «a panela ao lume» (le pot au feu), como ilustração da incitação à violência.
Enquanto o ministro do Interior seguia a manifestação no centro de comando da polícia parisiense e 2000 polícias eram destacados para vigiar a manifestação e prevenir eventuais distúrbios, aquilo a que se assistiu na rua foi a um grande desfile ao estilo «festa popular», com espectáculos a acompanhar o desfile e famílias inteiras a participar das formas mais diversas, incluindo picnics no asfalto.
A manifestação, convocada pela França Insubmissa, terminou com um discurso do seu líder Jean-Luc Mélenchon, com fortes críticas ao governo e o elogio da França popular e revolucionária e das suas conquistas. O discurso (que pode ser visto e ouvido aqui) terminou com uma exaltação das lutas laborais em curso e dos seus protagonistas, com destaque para os ferroviários, e apontou para a manifestação que os partidos da esquerda pretendem organizar no próximo dia 26 de Maio.
Macron e o seu governo têm sofrido uma acentuada quebra de popularidade. A tentativa de impor uma economia cada vez mais liberalizada, incluindo a privatização dos caminhos de ferro e a reforma das leis laborais em prejuízo dos trabalhadores, tem recebido uma resistência crescente que, mais recentemente, se traduziram por um acender das lutas laborais, incluindo greves prolongadas, como temos noticiado no AbrilAbril.
O presidente francês foi representado em cartazes como o moderno Luís XVI. Tendo a manifestação terminado na Praça da Bastilha, o simbolismo da representação do rei guilhotinado não terá escapado a Emmanuel Macron.
François Ruffin, um líder que emerge
François Ruffin, jornalista, ensaísta, realizador e deputado desde 2017, é um dos organizadores desta manifestação e uma estrela ascendente na esquerda francesa. A sua intervenção caracteriza-se por uma forma aberta de estar na política, permanentemente em contacto com os trabalhadores e restantes eleitores, e pelo bom aproveitamento dos modernos meios de comunicação de massas (ver o seu boletim-vídeo).
Em 2003, um ano depois de ter concluído o diploma de jornalista no Centro de Formação de Jornalistas (CFJ) publica Os soldadinhos do jornalismo, que denuncia os métodos de (mau) jornalismo ensinados pelo CFJ: «recopiar a Agência France Presse (AFP), produzir depressa e mal, imitar a concorrência, criticar livros sem os ler mas, sobretudo, não pensar, tremer diante da hierarquia».
Em 2015 realiza o documentário Obrigado, Patrão! (Merci, Patron!), uma critíca irónica de Bernard Arnault, o «grande patrão» do grupo de produtos de luxo Moët Hennessy Louis Vuitton (LVMH). O documentário foi entusiasticamente recebido pela crítica e pelo público e, em 2017, obteve o prémio César para o melhor filme documentário.
Em 2016 foi, em 31 de Março de 2016, um dos iniciadores do movimento «Noite a Pé» (Nuit Debout), para lutar contra a reforma liberal das leis laborais.
Em 2017 é eleito deputado pelo Somme, à segunda volta, à frente da candidatura «Picardia de pé» (Picardie Debout), tendo por lema «eles têm o dinheiro, nós as pessoas», depois de ter recebido o apoio, na primeira volta, de França Insubmissa, Partido Comunista Francês (PCF), Europa Ecologia Os Verdes (EELV) e Ensemble!. Além destes partidos, na segunda volta recebe o apoio do candidato do Partido Socialista (PS).
Dia 26 de Maio sindicatos e partidos podem confluir na luta
A manifestação deste sábado decorreu com os olhos postos no dia 26 de Maio, quando se prevê que sindicatos, partidos e associações de cidadãos confluam na luta contra pela defesa dos direitos laborais e do estado social, contra a política neoliberal do governo Macron.
François Ruffin afirma que «um dos benefícios colaterais desta manifestação» é «ter obrigado os sindicatos, os partidos e as associações a posicionar-se» sobre a possibilidade de uma data comum de protesto «para o movimento cidadão, o movimento político e o movimento sindical». O dia 26 de Maio «é o essencial», nota Ruffin, sublinhando o «carácter absolutamente histórico» e «raro» caso essa possibilidade de união se venha a concretizar, em entrevista de rua que pode ver aqui,
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