A greve geral convocada para esta quinta-feira na Colômbia, por mais de 50 organizações sociais, estudantis, de mulheres, indígenas e sindicatos, foi ganhando corpo e maior apoio à medida que elementos ligados ao governo procuraram estigmatizar o protesto social e criminalizar aqueles que se mobilizam, tal como referem a Agência de Informação Laboral e o Observatório Político da Missão Eleitoral (MOE).
O elevado índice de pobreza, uma taxa de desemprego superior a 10% (que, segundo o MOE, sobe para 17% entre os jovens) e 44% dos trabalhadores a auferirem salários inferiores ao salário mínimo legal (240 dólares, segundo dados da Central Unitária dos Trabalhadores – CUT) são algumas das questões que geraram uma situação de grande descontentamento no país, agravado pela apresentação, no Congresso, de uma proposta laboral que contempla a redução do salário para os jovens até aos 24 anos, sendo que estes só devem auferir 75% do salário total – «para criar emprego».
O próprio Duque veio a público desmentir que a proposta contasse com o seu apoio ou fosse para avançar, mas, segundo os organizadores da paralisação nacional, o «desmentido» não é para ser levado a sério e foi apenas formalizado para desmobilizar, dada a greve que aí vinha.
Iván Duque também desmentiu que, da parte do seu Executivo, houvesse uma reforma das pensões em curso (para acabar com o direito dos trabalhadores à reforma), mas isso também não convenceu quem se mobiliza.
A oposição à política de privatização das empresas eléctricas regionais e de todas as empresas onde a participação do Estado seja inferior a 50%; a denúncia da corrupção; o «não» ao aumento das tarifas que o Executivo quer implementar; e o protesto contra uma reforma tributária que pretende baixar os impostos para as grandes empresas e multinacionais, e impor tributações mais elevadas à classe média e aos trabalhadores são outros motivos subjacentes à greve geral de hoje.
Na área da Educação, os estudantes exigem que o governo de Duque cumpra o acordo alcançado com as universidades, em Dezembro do ano passado, no que respeita ao reforço de verbas, denunciando que, 11 meses depois, ainda não se viu dinheiro algum e que a Polícia continua a carregar sobre as mobilizações de estudantes.
Também a Federação Colombiana dos Trabalhadores da Educação – FECODE exige o cumprimento dos acordos firmados entre governo, trabalhadores e estudantes, além de garantias para que os docentes possam ensinar – já que dezenas de professores estão sob ameaça de «grupos ilegais», refere a TeleSur.
As organizações convocantes exigem, ainda, o fim dos assassinatos de dirigentes sociais, o cumprimento do estabelecido nos acordos alcançados com camponeses e indígenas, bem como do Acordo de Paz firmado em 2016 entre o Estado e as FARC-EP.
Tentativas de intimidação
Com o pretexto de impedir «qualquer acção violenta» na jornada de greve geral, as autoridades colombianas invadiram e revistaram múltiplas casas nos últimos dias, incluindo a sede do Partido Comunista Colombiano e da União Patriótica no município de Palmira (departamento de Valle del Cauca). A maioria dos casos ocorreu nas cidades de Bogotá, Cali e Medellín, e, segundo a Prensa Latina, envolveram organizações sociais e sindicatos ligados à greve geral desta quinta-feira.
A CUT repudiou aquilo que considera a «militarização», bem como as declarações que foram sendo feitas pelo governo no sentido de poder decretar um «recolher obrigatório» em todas as cidades do país, no âmbito da paralisação.
Tanto a CUT como outros organismos denunciaram esta «campanha de medo e intimidação», que constitui um «claro atentado contra a greve geral» por parte do governo de Duque.
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