Em 2023, 748 milhões de pessoas (com 15 anos ou mais) não estavam a trabalhar por terem de prestar cuidados a outras pessoas, representando um terço de todas as pessoas em idade activa que não trabalham. Destas, 708 milhões eram mulheres e 40 milhões eram homens, revelou um comunicado da Organização Internacional do Trabalho (OIT), divulgado esta terça-feira, Dia Internacional dos Cuidados e Apoio Social. A estimativa anterior mais recente, de 2018, dava conta de que 606 milhões de mulheres e 41 milhões de homens (um total de 647 milhões de pessoas em todo o mundo) não podiam trabalhar devido a responsabilidades com a prestação de cuidados
À luz dos novos cálculos, apresentados no boletim estatístico da OIT The impact of care responsibilities on women’s labour force participation [O impacto das responsabilidades familiares na participação das mulheres no mercado de trabalho], e baseados em dados de 125 países, as responsabilidades de prestação de cuidados constituem o principal obstáculo à entrada e permanência das mulheres no mercado de trabalho.
«Esta disparidade acentuada entre homens e mulheres evidencia o papel desproporcionado que as mulheres assumem na educação dos filhos e das filhas, na prestação de cuidados e no apoio a pessoas com deficiência e a pessoas que necessitam de cuidados continuados, na gestão doméstica e noutras responsabilidades de prestação de cuidados», lê-se na nota.
O boletim destaca que cerca de 1,6 mil milhões de mulheres e 800 milhões de homens, a nível mundial, não estavam a trabalhar, sendo que 45% dessas mulheres e 5% desses homens «invocam como motivo a responsabilidade pela prestação de cuidados». Nas mulheres com idades compreendidas entre os 25 e os 54 anos são dois terços (379 milhões de mulheres) as que assumem não conseguir trabalhar em virtude da prestação de cuidados.
«As mulheres assumem uma parte desproporcionada da responsabilidade pela prestação de cuidados, impedindo a sua participação no mercado de trabalho devido a factores como baixos níveis de educação, oportunidades de emprego limitadas, infra-estruturas deficientes, residência em meio rural e sistemas inadequados de cuidados e apoio», refere a directora do Departamento de Condições de Trabalho e Igualdade, citada na nota.
A nível regional, a percentagem mais elevada de mulheres fora do mercado de trabalho que invoca a responsabilidade pela prestação de cuidados como motivo encontra-se no Norte de África (63% das mulheres fora da população activa), seguida dos Estados Árabes (59%). Na Europa e na Ásia Central, a percentagem desce para 21%, sendo na Europa Oriental que se regista a taxa mais baixa a nível mundial (11%).
A organização recorda a resolução sobre o trabalho digno e a economia dos cuidados adoptada na Conferência Internacional do Trabalho da OIT, no passado mês de Junho, onde apela a políticas que «contrariem as desigualdades em termos de quem recebe e presta cuidados, eliminem as barreiras que impedem muitas mulheres de entrar, permanecer e progredir no trabalho remunerado e melhorem as condições de todas as pessoas que trabalham na prestação de cuidados e, por extensão, a qualidade da prestação de cuidados».
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