Na sua conta de Twitter, o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento e a Paz (Indepaz) revelou ontem que, na terça-feira, a cinco dias das eleições presidenciais na Colômbia, foram perpetrados dois massacres no país, com um saldo de sete vítimas mortais, três delas menores de idade.
No município de Chaparral (departamento de Tolima), um grupo de homens armados entrou em casa da conhecida dirigente social Elizabeth Mendoza, de 36 anos, presidente da Junta de Acção Comunal de Calamara Tetuán, e matou-a a tiro.
O marido, Marco Tulio Molina, de 51 anos, um filho de 16 anos e um sobrinho também foram mortos.
O Comité Permanente pela Defesa dos Direitos Humanos no departamento de Tolima condenou o assassinato da dirigente social e o massacre, o 44.º perpetrado este ano na Colômbia.
«Toda esta tragédia humanitária e crimes contra a humanidade ocorrem perante a incapacidade e o olhar indolente dos governos municipais, departamentais e nacional», destacou em comunicado.
«Hoje o que há na Colômbia é esperança maioritária», disse Gustavo Petro num dos comícios que mostram o entusiasmo em torno da sua candidatura. Mas as ameaças persistem e a matança continua. Em Corozal, Cartagena, Soacha, Lorica repetiram-se as imagens: praças cheias de apoio e entusiamo em torno dos candidatos da coligação de partidos progressistas e de esquerda Pacto Histórico à presidência da Colômbia, a duas semanas da realização da primeira volta das eleições. O entusiasmo é tanto que, ontem, Gustavo Petro afirmou na sua conta de Twitter: «Vamos ganhar na primeira volta», junto a uma sondagem em que aparece destacado à frente, com 42,6% das intenções de voto. «Hoje o que há na Colômbia é esperança maioritária», disse Petro na presença de milhares de pessoas em Corozal, no sábado, sublinhando que, para essa esperança se tornar governo, é preciso convencer os que duvidam. Nesse município do departamento de Sucre, o candidato do Pacto Histórico à presidência denunciou que há grupos que rejeitam a mudança no país e estão a comprar os votos dos pobres. Esses mesmos grupos, afirmou, alimentam uma campanha de mentiras para impedir as transformações porque querem ficar com o dinheiro público, sentem-se à vontade a roubar o Estado, concentram as riquezas que há na Colômbia e querem ficar com as terras e a água. «Trata-se das 40 famílias que durante 200 anos herdaram o poder e acreditam ter o direito divino de colocar presidentes, que vêem o povo como um rebanho para matar e explorar», acusou o candidato, citado pela Prensa Latina, acrescentando que o seu programa de governo visa a transformação social do país para mudar essa realidade com mais de 200 anos. Apesar das praças cheias com milhares de apoiantes e do favoritismo que as sondagens mostram, a candidatura corporizada por Gustavo Petro e Francia Márquez à Casa de Nariño, sede do governo, tem sido alvo de ameaças repetidas (também de morte) e mostra preocupações quanto ao processo eleitoral. Na sexta-feira, mais de meia centena de congressistas e membros da campanha do Pacto Histórico enviaram uma carta à Comissão Inter-americana de Direitos Humanos pedindo garantias de segurança para ambos os elementos da fórmula presidencial, tendo em conta as «ameaças sucessivas no meio da contenda eleitoral» e factos que põem em risco as suas vidas e integridade física, noticia a agência EFE. Acusaram funcionários do mais alto nível do Estado de não terem dado seguimento a uma denúncia pública realizada por Petro e recordaram que, no início de Abril, a candidata a vice-presidente, Francia Márquez, denunciou ter recebido três ameaças de morte. Congressistas e dirigentes de campanha também alertaram para o facto de o actual presidente, Iván Duque, e o comandante do Exército, general Eduardo Zapateiro, terem confrontado publicamente Petro e as suas propostas, o que, entendem, propicia um cenário favorável a ataques contra ele e põem em causa a sua segurança. A dois meses das eleições e num contexto hostil, a coligação liderada por Gustavo Petro oficializou a candidatura à presidência e apresentou o programa com que pretende mudar o país sul-americano. Gustavo Petro foi apresentado como candidato presidencial e Francia Márquez como candidata à vice-presidência da Colômbia pela coligação progressista Pacto Histórico. O programa de mudança que pretendem implementar, divulgado em várias plataformas, visa conduzir o país a «uma era de paz». A ideia é promover uma «transição» que torne possível uma vida digna e a justiça social, bem como criar condições para ultrapassar a violência sistemática e consolidar a paz. O programa dá destaque, entre os outros aspectos, a questões como a democratização do Estado, ao acesso à saúde, educação e cultura, ao reconhecimento dos direitos da mulher e à promoção da igualdade. De acordo com a imprensa, quase todas as sondagens apontam Gustavo Petro como favorito na contenda eleitoral de 29 de Maio e, nesse sentido, os candidatos de outras coligações têm-se empenhado em desacreditá-lo. Os resultados preliminares das eleições legislativas apontam para uma viragem à esquerda. O Pacto Histórico, coligação política «progressista», aparece como um dos vencedores da contenda eleitoral. Com 99,41% dos votos contados, a coligação Pacto Histórico, em que figuram a Colômbia Humana, de Gustavo Petro – candidato às presidencias de 29 de Maio –, o Partido Comunista Colombiano, a União Patriótica, o Pólo Democrático Alternativo, entre vários outros partidos e movimentos, conseguiu eleger 16 senadores e 25 deputados na Câmara dos Representantes, segundo indicam os resultados na página da comissão eleitoral do país sul-americano. Nestas eleições para renovar o Congresso, em que podiam votar quase 39 milhões de colombianos, regista-se uma viragem à esquerda, tendo em conta que as duas câmaras eram dominadas pelo Partido Centro Democrático, de direita, em coligação com outras forças afins. No Senado, segundo de pode ver no painel de resultados divulgado no portal da Resgistraduría Nacional del Estado Civil, o Pacto Histórico elegeu 16 senadores, tantos quantos o Partido Conservador Colombiano. Seguem-se o Partido Liberal Colombiano (15), a Coalición Alianza Verde y Centro Esperanza (14), o Partido Centro Democrático (14), o Partido Cambio Radical (11) e o Partido de la Unión por la Gente (10). Na Câmara dos Representantes, o Partido Liberal Colombiano é o que obtém mais assentos (32), seguido do Pacto Histórico (25). O Partido Conservador Colombiano também elege 25 deputados. Seguem-se o Partido Centro Democrático (16), o Partido Cambio Radical (16), o Partido de la Unión por la Gente (15) e o Partido Alianza Verde (11), além de seis deputados distribuídos por cinco partidos. Ao conhecer as previsões que apontavam para estes resultados, o líder do Pacto Histórico, Gustavo Petro, destacou o desempenho da coligação como «o melhor resultado das forças progressistas na história da Colômbia». Fez também um apelo às restantes forças progressistas, agora maioritárias no Congresso, para que criem uma frente democrática. Este domingo, os colombianos também participaram em consultas inter-partidárias para escolher os candidatos das coligações Pacto Histórico, Centro Esperanza (social-democrata) e Equipo por Colombia (direita), que irão disputar, com representantes de outras coligações, as eleições presidenciais, a 29 de Maio. Gustavo Petro foi de longe o candidato mais votado, com mais de quatro milhões de votos. Ao discursar, ontem, sublinhou que é possível vencer as presidenciais logo na primeira volta e fez um convite a todo o país a seguir o Pacto Histórico. «Queremos convidar toda a Colômbia. Aqui os únicos que não têm lugar são os corruptos, os genocidas», disse, citado pela TeleSur. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. Mais recentemente, Francia Márquez, candidata pela coligação progressista à vice-presidência, foi alvo de insultos racistas e machistas nas redes socias. Também a ameaçaram de morte, segundo denunciou este domingo. «Não bastam as calúnias, as expressões racistas, mas em menos de um mês fui ameaçada de morte duas vezes, juntamente com outros dirigentes sociais», disse Márquez, que instou o actual presidente do país, Iván Duque, a garantir a sua integridade física, a da sua família e a dos dirigentes sociais visados. No Twitter, Márquez publicou fotografias de panfletos da organização paramilitar autodenominada Águilas Negras, nos quais as ameaças são proferidas. Neste contexto, várias figuras vieram a público condenar as ameaças e defender a candidata afrocolombiana, com origens humildes e com trajecto de lutadora social. Francia Márquez disse que, se vencer as eleições em Maio, com Gustavo Petro, vai trabalhar a favor das mulheres, das comunidades indígenas, dos jovens e dos mais pobres. «Estamos a escrever uma nova história para a Colômbia. A partir da vice-presidência, vamos acompanhar o nosso Presidente Gustavo Petro na tarefa de alcançar um governo para a vida, a paz, a justiça e a igualdade social», frisou, citada pela Prensa Latina. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença. O Pacto Histórico tem exigido igualmente garantias de transparência no processo eleitoral, que passam nomeadamente pela contratação de uma auditoria internacional ao software eleitoral. Aqueles que «vêem o povo como um rebanho para matar e explorar» não cessam as suas actividades no período de campanha. Nos dois dias de fim-de-semana, o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento e a Paz (Indepaz) anunciou o assassinato de três dirigentes sociais. Socio Fernando Domicó, indígena do povo Embera Eyábida, músico e docente, foi morto no sábado no município de Dabeiba (departamento de Antioquia). No mesmo dia, foi assassinado Edgar Quintero, no município de Santander de Quilichao (departamento do Cauca). Era, segundo o Indepaz, um dirigente reconhecido e presidente da Junta de Acção Comunal da vereda Lomitas. Ontem, em Tuluá (departamento de Valle del Cauca), foi assassinado Alexander Espinosa Valencia, dirigente social e presidente da Junta de Acção Comunal da vereda El Retiro. De acordo com os dados do Indepaz, trata-se do 76.º dirigente social e defensor dos direitos humanos morto no país em 2022. Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz. 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Apelo à constituição de uma frente democrática
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Três dirigentes sociais assassinados no fim-de-semana
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De acordo com os dados recolhidos pelo Indepaz, em 2022, foram assassinados no país 79 dirigentes sociais e defensores dos direitos humanos, bem como 21 ex-guerrilheiros das FARC-EP que subscreveram o acordo de paz de Novembro de 2016.
Além disso, o organismo regista a ocorrência de 44 massacres, com um saldo de pelo menos 158 vítimas mortais. O segundo referido esta quarta-feira teve lugar em Santa Marta, capital do departamento de Magdalena.
Beatriz Lizarazo, uma professora de origem venezuelana de 32 anos, e os seus dois filhos, com cinco e oito anos, foram encontrados sem vida e sinais de violência com arma branca.
O Indepaz relaciona o facto com um contexto de risco associado à presença de grupos armados ilegais que disputam o controlo de territórios e as «dinâmicas» do narcotráfico.
Embora a violência na Colômbia assuma um carácter estrutural, a Procuradoria alertou para a probabilidade de um aumento de acções violentas contra dirigentes sociais no período que antecede as eleições presidenciais.
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