Operários, professores, médicos e funcionários bancários – cerca de 300 mil pessoas, de acordo com a imprensa – juntaram-se ontem no centro da capital argentina, na Praça do Congresso, para ali deixar claro o seu «não veemente e colectivo» às reformas que a administração de Mauricio Macri está a promover.
A testemunhar – de modo visual e sonoro – uma jornada de luta que alastrou a outros pontos do país estavam, na praça do Parlamento, as bandeiras nacionais e de vários sindicatos, inúmeras faixas e cartazes, sempre acompanhados pelo rufar dos tambores, indica a Prensa Latina.
A mobilização, convocada pela Corrente Federal, o sector dos Camionistas e as duas Centrais de Trabalhadores da Argentina (CTA e CTA Autónoma), contou com a adesão dos sindicatos de docentes – sendo que a Confederação de Trabalhadores da Educação da República Argentina (Ctera) agendou para ontem uma paralisação a nível nacional – e de inúmeras organizações sociais, de que são exemplo a Corrente Classista e Combativa, a Frente Darío Santillán, as cooperativas de trabalhadores, associações de bairro e organizações de mulheres.
Muro de resistência à política de ajuste
Ao tomar a palavra num palco montado nas escadarias do Congresso, Sergio Palazzo, dirigente da Associação Bancária e da Corrente Federal dos Trabalhadores (CFT), sublinhou que a manifestação representava o «começo da construção de um muro de resistência à política de ajuste» e que a presença dos milhares de trabalhadores à porta do Parlamento era para «lhes dizer sem eufemismos» que repudiam as reformas laboral, tributária e das pensões.
«Viemos dizer-lhes que repudiamos o ataque aos direitos dos trabalhadores, o subfinanciamento da Segurança Social e, naturalmente, a atitude insensível e desumana que representa a diminuição do poder de compra dos pensionistas», disse Palazzo, dirigindo-se aos senadores.
«Saibam que, quando levantarem a mão, com a outra vão estar a tirar o prato de comida a muitos camaradas que chegam ao fim do mês com dificuldades, para o dar aos ricos em impostos que não vão pagar», alertou.
Por seu lado, o secretário-geral da CTA, Hugo Yasky, acusou o governo de «querer um país sem sindicatos», mas sublinhando que estes «não vão desaparecer» e que, inclusive, «vai haver mais organização sindical». Tal como Pablo Micheli, da CTA Autónoma, colocou a tónica na necessidade de «maior unidade».
Travar ofensiva de Macri contra trabalhadores e pensionistas
Os projectos de reforma agora promovidos e já em discussão não inauguram a ofensiva neoliberal de Macri contra os trabalhadores argentinos. Os últimos dois anos foram marcados por cortes orçamentais nas áreas sociais, aumentos dos preços de bens essenciais, despedimentos e diminuição dos salários. Este período, igualmente sinónimo de aumento da pobreza e da desigualdade social, ficou também marcado pelo crescendo da luta dos trabalhadores, no sector público e no privado.
Mas o que aí vem possui uma gravidade acrescida, como se encarregou de explicar Sergio Palazzo na mobilização de ontem em Buenos Aires: «Se algum camarada diz que não se toca no núcleo duro dos direitos dos trabalhadores, engana-se e confunde os demais», disse, citado pelo diário Página 12.
Em causa estão o aprofundamento da flexibilização laboral, o subfinanciamento do Estado, a redução de salários e pensões, a redução do valor das indemnizações por despedimento ou o não pagamento de horas extra – medidas que o governo argentino defende como forma de reduzir os custos com o trabalho e, dessa forma, atrair maior investimento estrangeiro.
Reforma laboral: ataque contra direitos
Em declarações recentes à TeleSur, Luis Campos, da CTA Autónoma, afirmou que a reforma «é muito mais que uma série de alterações às leis laborais. Estamos frente a uma verdadeira tentativa de fixar as bases para uma mudança de paradigma nas relações laborais, que, numa perspectiva mais ampla, constitui um aprofundamento da ofensiva ininterrupta do capital contra o trabalho iniciada no nosso país em meados dos anos 70».
Mariano Pasi, também delegado da CTA Autónoma, sublinhou que «as reformas promovidas pelo governo a nível tributário, das pensões e de precarização laboral constituem um ataque feroz contra o conjunto de direitos que o nosso povo conquistou ao cabo de décadas de lutas».
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