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Runasur foi oficialmente apresentada, após assembleia na Argentina

Evo Morales, grande dinamizador deste fórum, afirmou que a Runasur se constitui como um novo movimento para «enfrentar o intervencionismo e o armamentismo» e «defender os governos progressistas».

Evo Morales, ex-presidente boliviano, presente na conferência de imprensa em Buenos Aires 
Créditos / kawsachuncoca.com

A ideia da criação do espaço da Runasur, «por uma América plurinacional dos povos para os povos», surgiu «no caminho de regresso do companheiro Evo Morales (ex-presidente boliviano) da Argentina para a Bolívia», afirmou Hugo Godoy, dirigente sindical argentino e anfitrião da quarta assembleia da Runasur, que decorreu este fim-de-semana em Buenos Aires.

Runasur, que é um fórum alternativo composto por organizações sindicais, movimentos sociais, povos e comunidades, apresentou ontem oficialmente a declaração final ou manifesto de Buenos Aires, em que representantes de 14 países propõem a defesa dos blocos regionais como factores de poder, a criação de uma moeda regional e o restabelecimento da paz e da harmonia por via de estados plurinacionais, refere a agência argentina Télam.

Numa conferência de imprensa realizada em instalações da Associação de Trabalhadores do Estado (ATE), em Buenos Aires, Evo Morales afirmou que a Runasur se constitui como um novo movimento para «enfrentar o intervencionismo e o armamentismo» e «defender os governos progressistas».

Linha anticapitalista e anti-imperialista

O bloco «tem uma definição ideológica, somos anti-imperialistas e anticapitalistas por herança e por vivência», disse Morales. «Entendemos que há muitos movimentos sociais em todo o mundo e que às vezes se fala da social-democracia ou há pessoas que dizem que não são de esquerda nem de direita, que são independentes, mas quem se situa no meio está sempre do lado do opressor», acrescentou.

A Runasur foi oficialmente apresnetada em Buenos Aires, em instalações da central sindical ATE / kawsachuncoca.com

Ex-diplomatas, defensores da paz, representantes de organizações indígenas e dirigentes sindicais de vários países sul-americanos participaram no encontro de Buenos Aires, em que se debateu a importância de levar a cabo um trabalho articulado contra o intervencionismo norte-americano, e se abordou várias temáticas relacionadas com as cinco comissões técnicas da Runasur: Saúde, Educação, Economia, Integração dos Povos e Mãe Terra.

«Condenamos a guerra judicial e a perseguição estatal e mediática com toda a área aliada aos nossos líderes políticos populares como Luiz Inácio Lula da Silva, Evo Morales, Cristina Fernández de Kirchner, Rafael Correa e Milagro Sala, entre outros. Denunciamos que as nossas democracias estão sob contínuo assédio», afirmaram os representantes.

Também exigiram «a expulsão de bases militares dos Estados Unidos e da NATO e de qualquer outra potência mundial da América Latina», repudiaram «o saque dos bens comuns naturais» e «a detenção do diplomata venezuelano Alex Saab», reafirmaram «a soberania argentina sobre as Ilhas Malvinas» e condenaram «a ocupação ilegal de todo o território da região que está em mãos de usurpadores estrangeiros como Joe Lewis [dono do clube inglês Tottenham, que se apoderou de terras ancestrais na Argentina]».

Actualmente, a Runasur – cujo nome se forma pela ligação da palavra quechua runa (homem) e da sigla Unasur – é constituída por representantes e mais de 30 organizações de Uruguai, Brasil, Argentina, Chile, Bolívia, Paraguai, Venezuela, Equador, Guatemala, México, Nicarágua, Peru, Panamá e Colômbia.

Unidade na diversidade, soberania e integração regional

«A viabilidade da região expressa-se na preservação da sua independência económica e da sua soberania política, sustentada na "unidade na diversidade" dos seus povos», destacaram os representantes.

O encontro de Buenos Aires foi o quarto da Runasur, depois de dois realizados em Cochabamba e um em Santiago do Chile / @evoespueblo

«A luta histórica dos povos não foi uma improvisação. A constituição da Runasur faz parte de uma estratégia de unidade na diversidade dos movimentos populares e permitirá revitalizar a Unasur, Mercosur, Celac, os Brics e novos mecanismos de unidade e integração para promover laços com base na autodeterminação dos povos, o respeito da soberania dos estados», frisaram.

Na Declaração – ou Manifesto – de Buenos Aires, destacam-se pontos como a dinamização da economia através de uma moeda regional, a unidade e articulação dos movimentos populares, a defesa dos povos originários e das democracias participativas, a nacionalização dos recursos naturais, o desenvolvimento de políticas de distribuição que visem o equilíbrio entre os povos e o reforço das identidades culturais.

Segundo indica a Télam, ainda não foi definida uma data para novo encontro da Runasur, mas Evo Morales disse que «irá seguramente incluir as Caraíbas e a América do Norte».

Antes da assembleia de Buenos Aires, as primeiras reuniões tiveram lugar em Cochabamba (Bolívia), em 2020, após o regresso de Morales do exílio na Argentina. Uma terceira foi celebrada em Santiago do Chile, em 2021.

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