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Sem-abrigo de Vancouver «não têm sítio para onde ir»

Sem-abrigo de Vancouver «não têm sítio para onde ir»

Pobres e sem-abrigo de Vancouver vivem há um ano em tendas num parque florestal da cidade, sem que esta lhes encontre uma solução de alojamento. Serão expulsos na quarta-feira sem solução à vista.

Guardas-florestais entregam notificações aos sem-abrigo que vivem há cerca de um ano em tendas no parque florestal de Oppenheimer, na cidade de Vancouver, Colúmbia Britânica, Canadá, a 19 de Agosto de 2019.
CréditosHana Mae Nassar / NEWS 1130

Mais de 200 sem-abrigo acampados no parque florestal de Oppenheimer, na cidade canadiana de Vancouver foram notificados para levantarem as suas tendas e abandonarem o espaço até à próxima quarta-feira, dia 21 de Agosto.

As notificações, segundo a rádio local News 1130/City News, foram entregues a partir das 9h locais de segunda-feira no Oppenheimer por polícias e guardas-florestais ao serviço do município, tendo-se registado «cenas de tensão» com os moradores, com estes a responderem às autoridades que «não têm sítio para onde ir».

O repórter ouviu um residente dirigir-se ao representante da administração do parque enquanto os guardas-florestais afixavam as notificações: «eu estive no Parque do Caranguejo (Park Crab) e vocês, a cidade, disseram-me para vir para o [Parque] Oppenheimer. Foi isso que me disseram para fazer. E agora dizem-me que não posso viver no Oppenheimer?», perguntou, antes de concluir que «um pedaço de propriedade poderia albergar-nos a todos».

O município afirmou estar a trabalhar com o departamento de habitação provincial da Colúmbia Britânica (British Columbia Housing, ou BC Housing), de que Vancouver é a maior cidade, e terá encontrado «cerca de 100 espaços disponíveis», mas essa oferta «é insuficiente para as mais de 200 pessoas que vivem no parque», dá conta a News 1130/City News.

Em declarações prestadas à imprensa as autoridades municipais deram como razão para a remoção das tendas e dos seus ocupantes «uma preocupação com os sérios riscos de saúde e segurança da vida» dos ocupantes do parque, a deflagração «de 17 incêndios no parque, desde Fevereiro» e as preocupações, expressas pela polícia municipal, sobre «o aumento de incidentes violentos no parque».

Coincidência ou não, na semana passada a associação patronal Strathcona Business Improvement Association (SBIA) sugeriu que os negócios «estão a ressentir-se» na baixa da cidade em que o parque Oppenheimer se insere, em particular na zona comercial «ao longo da rua Powell, a dois quarteirões da rua Principal [Main Street]».

Na mesma altura a SBIA divulgou os resultados de um inquérito que promoveu junto da população local e que confirma que «os visitantes se sentem pouco confortáveis» para continuar a frequentar aquela zona de elevada densidade comercial na cidade – obviamente devido à presença do elevado número de sem-abrigo acampados no parque vizinho. No entanto, reconhece a associação patronal, os inquiridos também indicaram «pretenderem que os acampados tenham um lugar seguro para ir».

Trata-se de um quesito difícil de cumprir: a News 1130/City News afirma que «advogados [supõe-se que defensores dos sem-abrigo] não fazem ideia para onde irão mais de 100 habitantes do parque, se forem desalojados».

Riqueza e pobreza em Vancouver

O Canadá é, desde 2018, a décima maior economia e uma das dez principais nações comerciais do mundo, com uma economia altamente globalizada e cotada acima dos EUA e da maioria das nações da Europa Ocidental, segundo o «índice de liberdade económica» do neoconservador e liberal think tank The Heritage Foundation.

Localizada no chamado «Círculo do Pacífico», Vancouver é a maior cidade da Colúmbia Britânica, na costa ocidental do país, e um dos seus maiores centros industriais. O porto que serve a sua área metropolitana (Port Metro Vancouver) é o maior e mais diversificado do Canadá.

«[O relatório] fornece evidências convincentes de que a pobreza dos idosos é um desafio crescente em toda a nossa província»

Scott Graham, director executivo da SPARC BC

Se nos últimos anos a cidade se tornou um centro de desenvolvimento de software, biotecnologia, aeroespacial e outras novas indústrias, continua a ser a sede de conglomerados industriais da exploração florestal e empresas de mineração com ramificações a nível mundial1.

O desenvolvimento económico de Vancouver, nas últimas décadas, não se traduziu no aumento da igualdade económica numa cidade que era conhecida por esse equilíbrio.

Em 2016 a organização United Way, dedicada a combater a pobreza em Vancouver, publicava um relatório em que desmistificava o conceito comum de que os mais pobres da cidade seriam jovens e estudantes antes de entrarem para o mercado de trabalho. Ao contrário, concluiu a organização, em Junho daquele ano existiam cerca de 100 mil trabalhadores pobres, 61% dos quais entre os 30 e os 54 anos de idade e 42% com filhos.

Em Julho de 2018 a cadeia nacional CBC noticiou que, segundo relatórios da assistência social, a maior taxa de pobreza do Canadá, entre maiores de 65 anos, se encontrava na Colúmbia Britânica, atingindo os 15% entre os idosos na Região Metropolitana de Vancouver. Em Março de 2019 foi noticiado pelo Vancouver Sun que, pela primeira vez na Colúmbia Britânica, teve de ser estabelecido um plano de luta contra a pobreza naquela província.

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