O AbrilAbril apurou que, entre os trabalhadores, mas sobretudo entre as mulheres, a decisão do município foi encarada com «decepção» – não só pelo que este almoço significava, mas também pelo facto de não terem recebido qualquer explicação acerca dos motivos que levaram ao seu cancelamento.
A iniciativa tinha como objectivo comemorar a luta das mulheres e reunia trabalhadoras da autarquia, dos Serviços Municipalizados de Água e Saneamento (SMAS), das juntas de freguesia e da Empresa Municipal de Estacionamento e Circulação de Almada (Ecalma).
O coordenador da Comissão de Trabalhadores (CT), António Olaio, explica que, durante o almoço eram proferidas intervenções por parte de representantes dos trabalhadores e do presidente do município, dedicadas a matérias como as questões laborais, a violência doméstica ou situações vividas pelas mulheres noutros cantos do mundo.
Olaio adianta que a informação de que não se iria realizar soube-se através de uma reunião da Assembleia Municipal, o que gerou um sentimento de «desconsideração» por parte das trabalhadoras, e «revela uma certa menorização da iniciativa» por parte da actual presidente da Câmara de Almada. «Tanto mais que ontem tivemos conhecimento de um cartaz que saiu dos SMAS, que são dirigidos pela presidente Inês Medeiros, que é um autêntico insulto às mulheres», acrescenta.
«É uma coisa ridícula. É um mostruário de sapatos a dizer que a mulher pode ser aquilo que quer: pode ser divertida, pode ser tímida, pode ser corajosa e tudo isto reduzido a sapatos, que é o cúmulo do estereótipo da mulher numa sociedade de consumo», frisa.
No fundo, acrescenta, «isto é esconder as quase 20 mulheres mortas em Portugal no ano passado, vítimas de violência doméstica, é esconder que as mulheres ganham menos 19% que os homens, é ignorar tudo isso».
«Além de que, até agora não temos conhecimento de mais nenhuma iniciativa da Câmara de Almada para realçar este dia», sublinha o coordenador da CT.
Numa nota enviada às redacções, a autarquia informa que vai assinalar o Dia Internacional da Mulher através de um conjunto de iniciativas de sensibilização social e cultural, «em coerência com o nosso Plano Municipal para a Igualdade de Género».
Primeiro veio o Carnaval
Mas esta não é a primeira vez que o actual executivo da Câmara de Almada cancela iniciativas históricas do município. Este ano, e ao fim de cerca de 20 anos, a autarquia acabou com o desfile de Carnaval das escolas pelas ruas da cidade.
António Olaio critica o facto de o município não ter apresentado alternativas, realçando que se trata de «uma profunda ignorância em relação ao conteúdo das coisas».
«Esquecem-se que o Carnaval para as escolas tinha um carácter pedagógico. Era um meio de as crianças trabalharem determinados conteúdos à volta do Carnaval e era também uma forma de os pais se envolverem no ensino dos filhos», conclui.
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