A greve convocada pelo Sindicato dos Trabalhadores do Município de Lisboa (STML) e pelo Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Administração Local (STAL) teve impactos evidentes. Ao longo dos últimos dias multiplicaram-se as imagens nas redes sociais, publicadas pelos residentes da capital do país, que davam conta do desagrado relativamente à forma como o Executivo municipal tem encarado o problema da higiene urbana na cidade.
A greve dos trabalhadores da higiene urbana realizou-se a tempo inteiro nos dias 26 e 27 de Dezembro e ao trabalho extraordinário de 25 a 31 do mesmo mês. Com a acção de luta, os trabalhadores exigiam o cumprimento, na íntegra, dos vários pontos expressos no acordo assinado Junho de 2023; a resposta ao memorando reivindicativo do sector de higiene urbana, que recolheu cerca de 800 assinaturas, entregue em maio último nos Paços do Concelho; a contratação de mais trabalhadores, entre cantoneiros e condutores; ou a aquisição de mais viaturas, operacionais, eficazes e adequadas às especificidades da cidade.
Os impactos iam ser notórios, e no dia 27, Pedro Moutinho, director municipal de Higiene Urbana da Câmara Municipal de Lisboa (CML), em conferência de imprensa, disse: «Pedimos aos lisboetas que não coloquem nem o papel, nem o cartão, nem os plásticos, nem o vidro na rua, para nos concentrarmos no lixo indiferenciado e no lixo orgânico». A táctica da equipa de Carlos Moedas passou, numa primeira fase, por tentar esconder os impactos da greve.
Passada a greve, hoje, dia 3 de Janeiro, o presidente da Câmara de Lisboa convocou uma conferência de imprensa, como se de uma comunicação ao país em tempos de guerra se tratasse, para, recorrendo à mentira, continuar a esconder os impactos da greve, assim como esconder os problemas que existem no sector. «Apesar da dificuldade, mostrámos que estávamos preparados como cidade»; «Aos presidentes das juntas, o vosso trabalho foi essencial»; «Conheço o vosso trabalho e as vossas dificuldades. Estou e estarei sempre ao vosso lado», disse Carlos Moedas naquilo que não passa de uma declaração de guerra ao movimento sindical.
Esta foi a linha discursiva que, numa entrevista dada ontem ao canal NOW, o chefe do Executivo municipal quis utilizar, acompanhado-a de um chorrilho de mentiras. Moedas procurou primeiro desvalorizar a greve, alegando que no dia 26 de Dezembro esta teve uma adesão 48,1%, a 27 de 44,6%, tendo baixado nos dias seguintes, em que a greve era apenas ao trabalho extraordinário. No dia 28 de Dezembro, segundo o mesmo, a adesão situou-se nos 34,5%, tendo descido para os 22,8% no dia seguinte.
Num comunicado do STML publicado no passado dia 27 de Dezembro, a estrutura sindical afirmou que a «greve geral de 26 e 27 de dezembro revela uma vontade maioritária indesmentível». Diz ainda a estrutura sindical que a acção de luta convocada por si e pelo STAL, revelou «na globalidade (período da manhã, tarde e noite, entre cantoneiros e condutores) uma adesão de cerca de 60%». Há neste aspecto um claro desfasamento para os números divulgados por Carlos Moedas.
O mesmo comunicado diz também que, apesar da adesão global muito positiva, existiram ainda dois elementos que «em muito condicionaram um envolvimento mais robusto dos trabalhadores»: a altura do ano «com ausências por motivo de férias, baixas, assistência à família, entre outros motivos» associado ao facto de ter sido «imposto o trabalho obrigatório a cerca de 20% da força de trabalho disponível decorrente dos serviços mínimos decretados, numa restrição inaceitável»; e a questão de se ter verificado «uma prática de intimidação geral (ameaças veladas ou mais diretas) junto dos trabalhadores com menos anos de “casa”, ou seja, ainda à espera da avaliação pelo período experimental, concluído ou ainda em curso».
Para puxar lustro à sua narrativa, Carlos Moedas disse ainda que os seus números «reflectem muito bem» o trabalho que a sua equipa tem vindo a desenvolver. Também aqui há uma omissão importante, já que de acordo com um outro comunicado do STML de 5 de Dezembro, a estrutura sindical dava conta do facto da Câmara Municipal ter contratado trabalhadores, através de uma empresa de trabalho temporário, para realizarem a higiene urbana em moldes idênticos ao sucedido o ano passado durante as Jornadas Mundiais da Juventude.
Por fim, o presidente da Câmara de Lisboa disse ainda que «os sindicatos dizem que que não querem negociar», uma acusação grave que fora acompanhada pela tentativa de moldar, no seio da opinião pública, a desconfiança face a este. «Não podemos estar num ano em que os sindicatos decidem fazer greve, porque estamos a um ano das eleições», reforçou Carlos Moedas, dando a entender existir segundas intenções na acção de luta.
A 20 de Dezembro, acerca de uma outra entrevista dada por Carlos Moedas à SIC, o STAL já tinha emitido um comunicado no qual é reforçado que «ao fim de mais de dois anos de negociação, foram os trabalhadores que decidiram avançar com a greve perante a ausência de respostas objectivas aos seus problemas e reivindicações, sem esquecer a falta de respeito de que são alvo numa base diária».
No final de contas, o que se tem verificado é que a coligação PSD/CDS-PP representada por Carlos Moedas, apesar do que a realidade diz, não hesita em mentir já a pensar nas eleições autárquicas. Enquanto o faz, os trabalhadores e os lisboetas vêem na continuidade da política levada a cabo pelo PS, a receita para uma cidade pior, dirigida para as elites económicas, e não para quem nela habita e trabalha.
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