|saúde pública

Como se aumenta a capacidade de resposta do SNS?

Quando o Estado português já gasta mais de metade do seu Orçamento da Saúde com os privados, é cada vez mais evidente que salvar o SNS implica investir esses recursos no SNS. 

CréditosRodrigo Antunes / Lusa

A pergunta, que se poderia aplicar a Portugal, é o título de uma campanha que decorre no Reino Unido. A resposta que os promotores desta campanha dão recorda-nos uma célebre frase do secretário-geral do PCP: «Como se aumentam salários? Aumentando os salários!», pois dizem-nos que «Para aumentar a capacidade do SNS [Serviço Nacional de Saúde] é preciso… aumentar a capacidade do SNS». 

E depois explicam: aumentar a capacidade do SNS implica construir novos hospitais ou comprar alguns dos privados, formar e contratar mais profissionais, comprar os equipamentos necessários, reduzir o desperdício internalizando funções hoje subcontratadas e acabar com as negociatas com os privados.

Isto porque quer a resposta do Governo conservador, quer a resposta do actual governo trabalhista, confrontados com crescentes listas de espera, foi a mesma, revelando a comum matriz liberal de ambos: subcontratar mais ao privado, aumentar os gastos com a subcontratação de serviços ao sector privado.  

A receita que está a ser aplicada já falhou, quando foi aplicada agravou todos os problemas, mas muda-se o governo e o novo governo insiste em aplicar a mesma receita, mas de outra forma. Que vai novamente falhar. Porque o que Governo trabalhista está a fazer é continuar o trabalho do governo conservador para destruir o NHS, o SNS inglês, conquistado pela classe operária inglesa depois da Segunda Guerra Mundial e quando a vitória do Exército Vermelho e dos povos da Europa sobre o fascismo obrigou as velhas classes dominantes a recuar.  

«E esta é outra dimensão da falta de democracia nas sociedades capitalistas: o que querem os habitantes do Reino Unido é exactamente o mesmo que querem os que residem em Portugal; ambos querem um SNS de qualidade, universal e gratuito.»

Reparem que em Portugal o cenário é o mesmo, com o grande capital a querer explorar o negócio da doença e para isso a querer destruir o SNS conquistado com a Revolução portuguesa, só que aqui foram as medidas liberais dos «sociais-democratas» do PS que falharam e são as mesmas medidas liberais, mas aplicadas de outra forma pelos «conservadores» do PSD, que nos prometem ir resolver o problema do SNS.    

Quando o Estado português já gasta mais de metade do seu Orçamento da Saúde com os privados, é cada vez mais evidente que salvar o SNS implica investir esses recursos no SNS. 

E esta é outra dimensão da falta de democracia nas sociedades capitalistas: o que querem os habitantes do Reino Unido é exactamente o mesmo que querem os que residem em Portugal; ambos querem um SNS de qualidade, universal e gratuito. Mas os partidos políticos nos quais são condicionados a votar trabalham para realizar o oposto, fabricando ilusões que são depois vendidas com o apoio do dinheiro «ganho» no negócio da doença. Desde que o grande capital decidiu que também na Europa queria ganhar dinheiro com o negócio da doença, o calvário do SNS e do NHS é composto por uma sucessão de passos, sempre dados em nome de o melhorar, mas na realidade destinados a destruí-lo. 

E é por isso que é importante aquela simplicidade, que ajuda a desmascarar os charlatões. Porque o charlatão até é capaz de jurar amor eterno ao SNS, mas quando lhe exigirem que contrate médicos, enfermeiros e auxiliares, vai começar a inventar, quando lhe exigirem que compre os equipamentos necessários a que o SNS dê uma resposta célere e muito mais barata (para o erário público) aos exames de diagnóstico, vai começar a balbuciar liberalices, quando lhe exigirem respostas públicas a problemas concretos vai começar a falar em cheques disto e seguros de aqueloutro.

Quando o que é preciso é reforçar a capacidade de resposta do SNS... reforçando a capacidade de resposta do SNS!       

Tópico

Contribui para uma boa ideia

Desde há vários anos, o AbrilAbril assume diariamente o seu compromisso com a verdade, a justiça social, a solidariedade e a paz.

O teu contributo vem reforçar o nosso projecto e consolidar a nossa presença.

Contribui aqui