|Legislação laboral

Entrevista de Pedro Soares dos Santos ao Público

Líder da Jerónimo Martins diz que horários desregulados são culpa dos trabalhadores

O patrão do Pingo Doce diz que o BE e o PCP «só atrapalham», que os sindicatos «não querem negociar» e que quer liberdade para negociar, individualmente, horários que possam chegar às 12 horas por dia.

O presidente do conselho de administração do grupo Jerónimo Martins, Pedro Soares dos Santos, durante a conferência de imprensa de apresentação dos resultados de 2017, em Lisboa. 1 de Março de 2018
CréditosInácio Rosa / Agência LUSA

Pedro Soares dos Santos, presidente do grupo Jerónimo Martins, assume que até está disposto a dar aumentos salariais, desde que em troca tenha «flexibilidade dos horários de trabalho, flexibilidade nos postos de trabalho».

O patrão do Pingo Doce e do Recheio, que preside à associação patronal do sector, defende a manutenção do banco de horas individual, cuja revogação será votada na próxima quarta-feira, na Assembleia da República, por iniciativa do PCP. De acordo com as suas declarações ao Público, 90% dos trabalhadores estão abrangidos por este mecanismo de desregulação dos horários.

Na entrevista, Soares dos Santos acusa mesmo os trabalhadores de serem responsáveis pela «flexibilidade» que procura impor: «Se você é mãe, naquele dia de manhã um filho está doente, não pode aparecer, algum colega seu tem que a substituir. E essa substituição cria logo uma desarticulação no horário.»

Para além das mães trabalhadoras, também os sindicatos foram visados pelo presidente da Jerónimo Martins. Lamenta que os sindicatos «nem querem falar, nem querem negociar» jornadas de trabalho de 12 horas por dia, apesar de haver «muita vontade de muita gente». «Com os trabalhadores», sozinhos (entenda-se), «se a gente quiser, acerta-se tudo – é fácil».

Mais uma voz a puxar pelas «convergências» do PS

As preocupações de Pedro Soares dos Santos com a vida política nacional não são muito diferentes das que o seu pai (que o antecedeu no cargo) anunciava no período da troika. O líder do Pingo Doce não quer mais impostos, sejam eles quais forem, nem a subida das contribuições para a Segurança Social – apesar de argumentar com a insustentabilidade do sistema e de se lamentar com a perda de poder de compra quando os trabalhadores se reformam.

O caminho desenhado na entrevista ao Público representa o que tem vindo a ser defendido por sectores do PSD, mas também do PS, e apadrinhado pelo Presidente da República: a recomposição do bloco central, ainda que disfarçado.

Soares dos Santos diz que o BE e o PCP «só atrapalham» e que gostava de ver o primeiro-ministro António Costa, de quem se diz admirador, de braço dado com os arautos das «reformas estruturais». Na próxima quarta-feira, quando se discutir a revogação de várias normas do Código do Trabalho que impõe a desregulação dos horários de trabalho e reduzem o alcance da contratação colectiva, o PS vai ter mesmo que assumir se quer convergir com o patronato, o PSD e o CDS-PP, ou com os trabalhadores.

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