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PS assume subserviência do Governo e só reconhece a Palestina se donos deixarem

O Projecto de Resolução do PS, que continha contributos do Livre e do PAN, aprovado em comissão, para um suposto reconhecimento do Estado da Palestina animou algumas hostes. Após análise, conclui-se que o reconhecimento é mediante interesses e não por elementar justiça.

CréditosVasco Leão

O posicionamento do PS em relação à Palestina tem mudado consoante os ventos e as situações. Do silêncio à inação, variado tem sido o jogo de cintura que o Governo tem adoptado para não tomar as acções necessárias. A ausência de uma acção consequente, além de votos esporádicos na Assembleia Geral das Nações Unidas, não é suficiente na medida em que o Governo visa colocar-se debaixo de uma suposta acção diplomática da União Europeia.

A questão é que o massacre ao povo palestiniano promovido por Israel tem sido inegável. As balas e mísseis dão imagem à brutalidade, catalisam o sangue derramado, e as mortes vão sendo cada vez mais, dia após dia. O próprio posicionamento diplomático de Israel tem sido o da antagonização da Organização das Nações Unidas e demais Estados e Instituições que se levantam contra o que está à vista de todos. 

Ante a evidência, perante a escalada da violência israelita contra a população palestiniana, milhões de pessoas têm demonstrado a sua solidariedade com a Palestina. Milhares têm sido as acções que exigem um cessar-fogo permanente, o livre acesso da ajuda humanitária, a livre circulação da população de Gaza e o reconhecimento do Estado da Palestina com as fronteiras anteriores a 1967 e com capital em Jerusalém Oriental.

Também em Portugal a solidariedade internacionalista tem-se feito sentir. Ainda este domingo milhares foram as pessoas que responderam ao apelo da Confederação Geral dos Trabalhadores Portugueses - Intersindical Nacional, do Conselho Português para a Paz e Cooperação, do Movimento Pelos Direitos do Povo Palestino e Pela Paz no Médio Oriente e do Projecto Ruído - Associação Juvenil e saíram às ruas de Lisboa para se fazerem ouvir. 

A situação exige um posicionamento claro, algo que ao longo da passada semana o PS procurou que o Governo não tivesse, enquanto simultaneamente quis colocar elementos de dúvida e confusão nos que nunca recuaram no reconhecimento do Estado da Palestina. 

O texto apresentado pelo Partido Socialista, que continha contributos do PAN e Livre, aprovado em comissão, era ambíguo. O documento aprovado por PS, PSD, IL, BE, PAN e Livre, pode aparentar boas intenções numa primeira leitura, no entanto, numa análise deve constar o que está e o que não está.  

Se tivermos em conta o que está presente no tal Projecto, chega-se rapidamente à conclusão que o intuito do mesmo passava por protelar uma decisão e manter Portugal alinhado com uma minoria de Estados que o faz. Ao contrário de outros 138 países, que reconhecem inequivocamente o Estado da Palestina com as fronteiras anteriores a 1967 e com capital em Jerusalém Oriental (algo que não invalida a solução dos dois Estados), o PS faz depender tal reconhecimento de outros.

Tendo este aspecto em conta, a análise terá também que incluir o que não tem. Além da falta de firmeza necessária, o PS não aponta à solução existente: as resoluções da ONU. O vazio do seu Projecto de Resolução alia-se à ambiguidade na questão das fronteiras, da solução dos dois Estados e do fim dos colonatos. O PS não responde à questão «que Palestina se quer?» porque há quem nem a queira. Escuda-se assim na União Europeia, cujos o papel é de, também, responsabilidade e histórica conivência com o desastre humanitário que tem vindo a acontecer.

Sem direcção clara e sem a firmeza necessária, a tímida posição, não só não constitui um contributo à resolução de um massacre em curso, como se apresenta como um «verbo de encher». O PS teve já em outras circunstâncias a oportunidade de votar a favor de um claro e inequívoco reconhecimento do Estado da Palestina, mas nunca quis. Agora opta por tentar demonstrar que quer, mas sem o querer realmente. 

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