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«Fiquei com a certeza de que não estou sozinha nesta luta»

Em dia de Encontro Nacional, a Interjovem (CGTP-IN) encheu um salão no Hotel Roma, em Lisboa, para discutir os problemas laborais da juventude, como a precariedade e os baixos salários. Dois deles falaram ao AbrilAbril.

Adriana Almeida do SEP (esquerda) e Filipe Machado do SITE Norte (direita)
Créditos / AbrilAbril

Do Encontro Nacional de Jovens Trabalhadores, que decorreu ontem à porta fechada no Hotel Roma, em Lisboa, reunindo aproximadamente duas centenas de jovens, só a intervenção de encerramento, proferida pelo secretário-geral da CGTP-IN, foi aberta aos jornalistas.

Ao apresentar as conclusões do encontro, Arménio Carlos sublinhou que a necessidade do aumento geral dos salários e do fim da precariedade foram questões centrais nas largas dezenas de intervenções dos jovens trabalhadores, que discutiram os seus problemas laborais e formas de como avançar na luta para ultrapassá-los.

«A precariedade e os horários desregulados são um flagelo que vos afecta de forma avassaladora, como bem explicaram, tanto agora como no futuro. E quem beneficia com isso? O que ganha a sociedade em ter jovens nesta situação?», questionou.

Para Arménio Carlos, a resposta está bem clara: «São as empresas e os patrões», os mesmos que, de acordo com o secretário-geral da CGTP-IN, respondem aos pedidos de aumentos salariais com intransigência ou insistem em «aumentos salariais de 15 a 20 cêntimos ao dia ou de 5 cêntimos no subsídio de refeição».

 

No final do encontro nacional, dois jovens, Adriana Almeida, activista do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP/CGTP-IN) e Filipe Machado, dirigente do Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Transformadoras, Energia e Actividades do Ambiente do Norte (SITE Norte/CGTP-IN), aceitaram falar ao AbrilAbril sobre os problemas laborais da juventude e o encontro.

 

Adriana contou que começou a trabalhar há dois anos. «Quando me sindicalizei, não foi por estar a precisar de ajuda, por viver naquele momento algum conflito laboral em concreto, mas porque desde que terminei o curso achei que a sindicalização era muito importante, independentemente do sector em que trabalhemos, para nos proteger e sermos mais fortes para avançar na nossa profissão».

 

Filipe, por seu lado, tem uma proximidade ao mundo sindical por influência do pai, que «foi delegado sindical no [sector] têxtil», e concordou com Adriana sobre a necessidade de união entre os trabalhadores. Operário de metalurgia, concretamente na cutelaria, brincou que no ramo «há uma piada que os jovens têm mais de 45 anos, mas rapidamente realçou que «não é bem assim» e que estar sindicalizado «permitiu também representar os outros colegas jovens e os seus problemas».

 

Precariedade, obstáculo à vida

 

Na sua actividade de contacto com outros jovens trabalhadores, tanto Filipe como Adriana revelam que o problema mais gritante é a precariedade. «Há um abuso total por parte do patronato sobre os jovens», afirmou Filipe, que considerou que tal resulta da desinformação e do estigma incutido pela empresas contra os sindicatos.

 

Já Adriana dá o exemplo da sua situação, contratada no Hospital Santa Maria com um contrato individual de trabalho (CIT). «Somos contratados com menos direitos do que os contratados directamente pela função pública. Temos os mesmos deveres, mas não temos os mesmos direitos», acrescentou. 

 

A jovem activista deu como exemplo as horas semanais, que recentemente ainda eram de 35 horas para uns e 40 horas para outros. Adriana considera que o fim desta desigualdade «foi também uma luta do SEP e, apesar de não ter estado envolvida nessa luta, torna-se claro que temos que rejeitar, todos juntos, a desigualdade, para podermos melhorar a nossa vida».

 

Ambos consideram que é fundamental envolver os jovens trabalhadores e organizá-los nos sindicatos. «Existe alguma confusão em relação ao propósito dos sindicatos, e essa confusão leva a um certo desinteresse», admite Adriana. 

 

 

Por sua vez, Filipe responsabiliza as condições de trabalho pelas dificuldades de participação dos mais jovens: «é complicado organizar a vida e participar no que quer que seja fora do trabalho, com turnos ao fim-de-semana, turnos nocturnos ou rotativos. Normalmente são os jovens que fazem esses turnos e é complicado conciliar com as coisas que se gosta de fazer no tempo livre, com a família, e com o activismo sindical».

 

Nesse sentido, contrariam a ideia de que a «flexibilização dos horários» ou o «fim das carreiras para a vida» seja algo positivo ou desejado pela juventude de hoje. «É verdade que antigamente era o mesmo trabalho para a vida inteira mas as pessoas não mudam de emprego só porque sim, mudam para ter condições melhores, e ter uma carreira e estabilidade na vida é muito importante para nós», reiterou Adriana.

 

«Lutar vale a pena»

 

Segundo os jovens sindicalistas, os direitos que hoje vigoram são fruto da luta, mas apontam que ainda há um caminho a percorrer para garantir melhores condições aos jovens trabalhadores, e não têm dúvidas que esse caminho passa por sindicalizarem mais jovens e organizarem acções nos seus locais de trabalho.

 

Filipe fala de casos que conhece bem. «Em Braga, conhecemos vitórias no caso da BOSCH e da Tesco, por exemplo. Os trabalhadores fizeram muitas greves e conseguiram passar dos contratos precários a vínculos efectivos. No caso da BOSCH a pressão foi tanta que a empresa adoptou uma política interna de a cada ano passar uma percentagem dos contratados a efectivos.» 

 

Também no caso dos enfermeiros a realidade é muito clara, diz-nos a Adriana. «Se foram solucionadas algumas disparidades em relação aos CIT, isso deveu-se a muita luta dos enfermeiros e do SEP. E em relação à carreira que agora foi apresentada, que não se adequa de todo à nossa situação, e por isso não vamos ficar de braços cruzados, vamos ter que nos organizar para a combater».

 

Um encontro de jovens que sabem que «não estão sozinhos»

 

«Para mim este encontro foi mesmo muito positivo» conclui o Filipe, sobretudo para «quem é novo no movimento sindical, serve para estar em contacto com outros activistas e dirigentes e perceber que não estamos sozinhos, a voz de qualquer trabalhador é para ser ouvida e as ideias têm que ser debatidas para avançarmos na luta».

 

Adriana concorda, acrescentando que serve também para «reflectir sobre a importância dos sindicatos». «Fiquei com a certeza de que não estou sozinha nesta luta, aliás, que os enfermeiros não estão sozinhos, que muitos dos problemas que nós temos também existem noutros sectores». 

 

O esforço para envolver outros jovens é decisivo para o futuro de todos os que trabalham, concluíram os sindicalistas, para quem «a partilha de formas de luta vai garantir melhores resultados no futuro».

 

 

 

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