A Confederação Geral dos Trabalhadores do Peru (CGTP) agendou uma acção de protesto ruidosa, a nível nacional, para esta quinta-feira, entre as 19h e as 19h30. Às janelas e varandas, os trabalhadores do país vão «bater nas panelas» para exigir a «imediata revogação» do Decreto de Urgência (DU) 038-2020, aprovado pelo governo de Martín Vizcarra no passado dia 13 e que instituiu a figura da «suspensão perfeita do trabalho».
A medida, que o governo justifica com a necessidade de fazer frente ao impacto económico da pandemia de Covid-19, permite às empresas interromperem a relação de laboral com os trabalhadores por um período de três meses, mesmo quando não exista um acordo entre ambas as partes.
Os dirigentes sindicais afirmam que se trata de um prelúdio para despedimentos massivos e classificam o decreto como a «exploração perfeita», informa a Prensa Latina. Em comunicado, a CGTP denuncia que a medida «favorece apenas os grandes capitalistas da Confederação Nacional de Instituições Empresariais Privadas (Confiep).
O secretário-geral da CGTP, Gerónimo López Sevillano, disse que o protesto será realizado respeitando as medidas de quarentena vigentes no país sul-americano e que visa denunciar uma «medida do governo que tem vindo a provocar milhares de despedimentos», «deixando os trabalhadores sem trabalho e sem salários, ou seja, ao abandono, enquanto o governo protege os empresários com recursos do erário público».
Mais de 84 mil trabalhadores sem salário
A Prensa Latina afirma que o «mal-estar» tende a agravar-se no Peru, depois de, ontem, funcionários do governo terem anunciado que mais de 84 mil trabalhadores irão deixar de receber o seu salário durante três meses.
O vice-ministro do Trabalho, Juan Carlos Requejo, informou que, até ao momento, 7124 empresas recorreram à «suspensão perfeita» do trabalho aprovada pelo executivo. Os sindicatos já denunciaram o facto de grandes grupos – alguns dos quais donos de empresas financeiras e de cadeias de hotéis e supermercados – já terem aplicado o decreto ou terem anunciado a intenção de o fazer.
Recentemente, a ministra do Trabalho, Sylvia Cáceres – acusada pelos sindicatos de «afinidades» com o grande patronato –, afirmou ainda que, «como consequência da crise, as empresas não renovaram os contratos temporários de mais de 80 mil trabalhadores».
Para «preservar o emprego», Cáceres não pôs de lado a possibilidade de elaborar um «plano de financiamento» destinado às empresas.
O impacto não é igual para todos
De acordo com uma sondagem realizada pela empresa privada Ipsos, cujos resultados foram divulgados ontem, 42% dos inquiridos afirmaram ter ficado sem trabalho e sem salário, no contexto da quarentena geral, que teve início no Peru a 16 de Março, para travar a propagação da pandemia.
O impacto não é igual para todos, segundo o estudo, uma vez que, nos segmentos socioeconómicos D e E (pobreza e pobreza extrema), 47% dos entrevistados afirmaram ter ficado sem qualquer rendimento. No segmento A (maior poder económico), apenas 21% deram a mesma resposta.
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